estudo revela diferenças no tratamento de dor entre raças
multimodal analgesia e suas implicações para a saúde dos pacientes
De acordo com novas pesquisas apresentadas no encontro anual da Sociedade Americana de Anestesiologistas, realizado em Filadélfia, um preocupante padrão de disparidade racial foi identificado no tratamento da dor pós-operatória em pacientes negros. Embora uma combinação de medicamentos para dor tenha demonstrado ser mais eficaz do que o uso isolado de opioides, o estudo revelou que pacientes negros são significativamente menos propensos a receber essa abordagem de manejo da dor durante a recuperação após procedimentos cirúrgicos. A análise dos dados, que abrangeu cirurgias torácicas e abdominais realizadas no Hospital Johns Hopkins entre julho de 2016 e julho de 2021, incluiu informações de 482 adultos negros e 2.460 brancos, revelando que os primeiros apresentaram 74% mais chances de serem prescritos com opioides orais e 29% menos chances de receberem analgesia multimodal, que envolve quatro ou mais modos de tratamento.
A analgesia multimodal é uma estratégia de manejo da dor que utiliza uma combinação de diferentes tipos de medicamentos, com o objetivo de reduzir a dependência de opioides, que são conhecidos por suas propriedades aditivas e riscos potenciais. Especialistas defendem que essa abordagem não apenas pode proporcionar um alívio mais eficaz da dor mas também diminui o risco associado ao uso excessivo de opioides. O Dr. Nauder Faraday, autor do estudo e professor na Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, enfatizou em uma comunicação que a aplicação de múltiplas técnicas de controle da dor resulta em melhor alívio para o paciente, permitindo a utilização de menores quantidades de narcóticos. Ele orienta que os pacientes comuniquem aos seus médicos suas dúvidas sobre o manejo da dor antes e depois das cirurgias, para estarem mais bem informados sobre as medicações que receberão.
Os resultados do estudo não apenas revelaram a disparidade no acesso à analgesia multimodal entre raças, como também levantaram questões sobre possíveis preconceitos nas decisões de tratamento. O Dr. Eli Carrillo, que não participou da investigação, observou que a pesquisa não abordou a intensidade da dor relatada pelos pacientes, algo que poderia complementar os dados apresentados. Uma análise mais detalhada das percepções de dor entre os grupos raciais teria adicionado uma camada importante à discussão sobre desigualdades no tratamento da dor.
Além disso, as práticas comuns de manejo da dor pós-operatória normalmente incluem protocolos estruturados conhecidos como ERAS (recuperação aprimorada pós-cirurgia), que priorizam protocolos de medicação que, em teoria, minimizam o uso de opioides. A falta de informações sobre a adesão a esses protocolos por parte dos pacientes negros enfatiza a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre se as disparidades observadas refletem práticas clínicas inadequadas ou um desvio das diretrizes existentes.
A implicação de não tratar adequadamente a dor pode afetar diretamente a qualidade de vida dos pacientes e sua disposição de interagir com o sistema de saúde no futuro. O Dr. Dionne Ibekie, anestesiologista que também não participou do estudo, reafirmou a importância de explicar aos pacientes os benefícios da analgesia multimodal, pois essa estratégia pode não apenas reduzir o uso de opioides, mas também abordar diversas vias de dor no corpo. Ao unificar diferentes medicamentos e técnicas, há uma maior probabilidade de um controle da dor mais eficaz.
O estudo não publicado ainda destaca como a discriminação racial pode interferir no cuidado médico, levantando questões sobre programas de pesquisa e políticas direcionados a garantir uma saúde equitativa. Relatórios anteriores já documentaram que 15% dos pacientes negros acreditam ter sido negados medicamentos para dor que consideravam necessários. Isso ilustra um argumento mais amplo sobre a necessidade de mudanças sistêmicas na forma como a dor é tratada. Discursos acadêmicos também revelam que os médicos frequentemente subestimam a dor em pacientes negros, o que se reflete na administração inadequada de analgésicos e no agravamento das condições de saúde.
Com base em dados anteriores, um estudo mostrou que muitos estudantes de medicina ainda perpetuam crenças racistas, subestimando a sensibilidade da dor em pacientes negros. Ao examinar as questões pertinentes que permeiam todo o ambiente de cuidados médicos, percebe-se a necessidade urgente de abordar esses preconceitos de forma crítica. A análise de mais de 4,7 milhões de pacientes atendidos por paramédicos com lesões traumáticas agudas também observou que pacientes negros e pardos eram menos propensos a ter seus níveis de dor registrados, levando a uma administração inadequada de analgésicos. Assim, o histórico de negligência no tratamento da dor em populações minoritárias se mostra alarmante.
Ao considerar os dados mais recentes e pesquisas paralelas, é evidente que a medicina deve passar por uma reavaliação profunda de como as desigualdades raciais impactam a assistência médica e, especificamente, o tratamento da dor. Isso não apenas inclui a implementação de formações em sensibilização para profissionais de saúde, mas também o desenvolvimento de diretrizes que ajudem a garantir um tratamento igualitário. O foco deve ser na promoção de um cuidado verdadeiramente holístico, que integre a consideração das experiências de dor dos pacientes, independentemente de sua raça. A luta contra essas disparidades será crucial para garantir que todos os pacientes tenham acesso ao tratamento adequado e necessário, com um impacto positivo em sua saúde e bem-estar a longo prazo.