A divisão entre os eleitores americanos se manifesta de diversas maneiras, abrangendo questões como gênero, raça e região. Essas variáveis têm sido analisadas para compreender o atual cenário político do país, principalmente em um contexto de intensa polarização. O apoio às candidaturas do Partido Democrata tende a ser mais forte entre as mulheres, especialmente após a revogação do Roe v. Wade, que resultou em um país dividido entre estados que garantem o direito ao aborto e aqueles que impõem banimentos. Essa perspectiva é crucial para entender como influências específicas sobre as comunidades de cor, como os latinos e homens negros, podem afetar o desempenho do ex-presidente Donald Trump nas eleições, principalmente em estados onde as margens de votação são estreitas. De maneira geral, eleitores rurais tendem a apoiar os republicanos, enquanto aqueles de áreas urbanas geralmente se alinham aos democratas; a disputa nos subúrbios, onde as preferências podem oscilar, provavelmente decidirá os resultados das próximas eleições.
Entretanto, um fator ainda mais preponderante está emergindo como a nova linha de divisão entre os eleitores: o nível educacional. Essa afirmação é defendida pelo estrategista político Doug Sosnik, que já atuou como diretor político do ex-presidente Bill Clinton. Em uma conversa no podcast “CNN Political Briefing”, Sosnik destacou que a educação se tornou o principal indicador sobre como um eleitor irá se posicionar nas eleições americanas. De acordo com sua análise, a ascensão de Trump ao longo dos últimos três ciclos eleitorais acelerou e completou um realinhamento político fundamentado na educação, que vem se intensificando desde a década de 1970, período que coincide com a deterioração da classe média nos EUA. Esse realinhamento reflete a transição do país para uma economia do século 21, onde se observa uma profunda divisão entre aqueles que alcançaram um nível educacional significativo, que em sua maioria se identificam com o Partido Democrata, e aqueles que se sentem abandonados por esse processo, que agora compõem a base do Partido Republicano.
Existem dados concretos que respaldam essa análise. Um relatório publicado em agosto pelo Federal Reserve Bank de St. Louis demonstrou que, para cada dólar em riqueza que um domicílio chefiado por um graduado universitário possui, um domicílio cujo chefe não possui ensino superior detém, em média, apenas 22 centavos. Para aqueles que têm o ensino superior incompleto, a cifra eleva-se para 30 centavos. Em outras palavras, os graduados universitários detêm aproximadamente três quartos da riqueza nos EUA, enquanto representam apenas cerca de 40% da população. Este fenômeno tem uma correlação direta com a política. Nas eleições de 2020, de acordo com as pesquisas de saída da CNN, os eleitores com diploma universitário representaram 41% do eleitorado, e apoiaram o presidente Joe Biden com uma margem de 55% contra 43% para Trump. Por outro lado, Trump obteve o apoio de cerca de dois terços dos eleitores brancos sem diploma, mas perdeu o suporte entre os brancos com formação superior.
Ao discutir as características dos estados-chave em disputa, Sosnik pontuou que os sete estados considerados como campo de batalha, onde tanto Trump quanto a vice-presidente Kamala Harris poderiam sair vitoriosos, apresentam uma média de níveis educacionais que não favorecem, em demasia, eleitores graduados nem aqueles sem diploma. As análises da Lumina Foundation, que utilizam dados do censo para classificar os estados segundo as certificações educacionais pós-ensino médio, indicam que a maioria dos estados em disputa, como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin no Cinturão da Ferrugem, bem como Geórgia, Carolina do Norte e Arizona no Cinturão do Sol, está assim posicionada no espectro educacional. Contudo, Nevada, um estado de combate, destaca-se por ter um dos níveis mais baixos de atendimento educacional nos EUA, enquanto estados com maior formação tendem a ser democratas, o que inclui Utah, um estado republicano, que também está entre os melhores classificados neste quesito.
A análise dos eleitores em potencial que podem mudar seu voto nesta eleição revela que, de uma forma geral, aqueles que se afastam dos tradicionais padrões de votação podem incluir independentes ou apoiadores de Nikki Haley. No entanto, Sosnik ressalta a existência de um segundo grupo de eleitores volúveis que é ainda mais significativo: aqueles que estão indecisos quanto à sua participação nas eleições. No caso de Trump, esses eleitores são, em sua maioria, homens brancos sem diploma, que, se decidirem ir às urnas, provavelmente votarão nele. Por outro lado, para Harris, o alvo pode ser mulheres que, históricamente, não se engajaram no processo eleitoral, mas que, este ano, podem ser motivadas pela mais recente decisão da Suprema Corte que permite que estados banam a maior parte ou todas as formas de aborto. Outro grupo a se considerar são os jovens eleitores, que costumam ser menos confiáveis para comparecer às urnas. Sosnik sugere que o sucesso de Trump se baseou na habilidade de captar não apenas os independentes, mas aqueles que estão fora do ciclo tradicional de votação.
A realinhamento educacional que se observa também pode transformar a forma como interpretamos as eleições presidenciais em comparação com os pleitos de meio de mandato. Sosnik argumenta que, antes de Trump, os democratas frequentemente se saíam melhor nas eleições presidenciais, uma vez que eleitores menos frequentes tendiam a se alinhar com suas propostas, enquanto os republicanos dominavam as eleições intermediárias devido ao engajamento mais intenso de seus eleitores. Contudo, essa dinâmica parece ter mudado completamente. Essa análise profunda do cenário eleitoral atual evidencia a relevância crescente da educação como um indicador potente no comportamento do eleitor, trazendo à luz a necessidade de compreender as nuances que moldam as decisões políticas no país.