No contexto do Festival Internacional de Cinema de Tóquio, George Murphy, um renomado especialista em efeitos visuais, compartilhou suas perspectivas sobre as profundas mudanças que a inteligência artificial e a produção virtual estão trazendo para a indústria cinematográfica. Murphy, que é conhecido por seu trabalho em clássicos como “Forrest Gump” e “Jurassic Park”, destacou que essas novas tecnologias são mais do que meras ferramentas; elas representam uma nova forma de contar histórias, permitindo que os atores se sintam verdadeiramente imersos em seus papéis. Durante uma entrevista, ele enfatizou a importância da produção virtual, caracterizando-a como um recurso que transforma não só a estética, mas também a experiência emocional dos filmes.
A tecnologia de produção virtual, popularizada por dramas como “The Mandalorian”, permite que cineastas criem ambientes virtuais em telas LED em tempo real, substituindo os tradicionais fundos de tela verde usados anteriormente. Murphy relembra sua experiência decorrente da filmagem de “Assassinato no Expresso Oriente”, onde a equipe usou telas LED para projetar imagens de paisagens que passavam em alta definição. Essa inovação no set fez com que os atores não precisassem apenas imaginar uma cena; eles estavam realmente dentro dela, sentindo o impacto visual de uma montanha coberta de neve ao invés de se deparar com um fundo em branco. Esse nível de imersão gerou performances mais autênticas, resultando em uma experiência mais envolvente para o público.
Os avanços na tecnologia não param por aí. Murphy também destacou a importância de ferramentas como o Unreal Engine da Epic Games e o Unity, que revolucionaram o fluxo de trabalho dos efeitos visuais. Antes, um artista poderia passar horas esperando por um render, mas agora, com a capacidade de editar e testar em tempo real, os criadores estão mais livres para explorar escolhas criativas que podem alterar o curso de um filme. Ele faz uma analogia com a transição da fotografia analógica para a digital, onde todo o processo se tornou não apenas mais rápido, mas também um espaço colaborativo muito mais rico.
À medida que a inteligência artificial avança a passos largos, ela está se tornando uma parte integral das bibliotecas de ferramentas de efeitos visuais. Murphy observa que, embora a IA tenha o poder de otimizar tarefas que consomem muito tempo, como o rotoscópio e o rastreamento de movimentos, ela ainda não consegue capturar a essência do que significa contar uma história humana. “AI pode processar enormes quantidades de dados e imitar estilos baseados no que já foi observado, mas a IA não vive emoções da mesma maneira que um humano. Somente pessoas que vivem e sentem podem trazer à vida uma narrativa genuína”, pondera Murphy.
Outra área empolgante em desenvolvimento que Murphy discute é a narrativa expandida através de diferentes mídias e plataformas. Sua experiência na franquia “Matrix” mostrou a ele o potencial do que ele chama de “mundos de história”, onde uma narrativa pode se desdobrar em jogos de vídeo, curtas animados e quadrinhos. Isso não só aproxima os fãs do enredo principal, mas também enriquece sua compreensão e interação com a história. À medida que plataformas de streaming e experiências interativas se tornam mais populares, Murphy acredita que a audiência terá novas oportunidades de se envolver com as histórias de maneiras inovadoras, incluindo a realidade virtual e aumentada. “Estamos apenas arranhando a superfície do que é possível”, afirma ele, prevendo uma mudança fundamental na forma como o cinema é consumido.
Apesar de seu entusiasmo, Murphy expressa preocupações sobre a eventual perda de habilidades artesanais que historicamente permeavam a fabricação de efeitos práticos. Ele destaca a importância de construir algo à mão, um processo que ainda é valioso mesmo em um mundo digital. Essa habilidade, acredita ele, proporciona uma base de realidade que é crucial, mesmo em um ambiente tecnológico. Com muitas das melhores montagens de modelo físico se aventurando nas carreiras de efeitos visuais, Murphy vê um valor eterno nessa interseção entre o tradicional e o moderno.
Concluindo sua visão, ele reitera que a tecnologia deve estar ao serviço da narrativa, e não o contrário. “Essas ferramentas são apenas novas escovas em nossa caixa de pintura”, resume Murphy. “Elas permitem que empurremos os limites do que é possível no cinema. Contudo, a mão do artista sempre estará lá, guiando a história e assegurando que esta ressoe com seu público”. Assim, o futuro do cinema, como vislumbra George Murphy, parece ao mesmo tempo promissor e repleto de nuances, um campo em que a tecnologia e a arte caminham lado a lado para contar histórias cada vez mais impactantes. Esta é apenas a ponta do iceberg do que ainda está por vir na era da filmagem contemporânea.