A sequência de sucesso leva a trama a novos limites de tensão e desespero
A primeira parte de ‘Smile’, dirigida por Parker Finn e lançada em 2022, conseguiu capturar o interesse do público com uma narrativa que explorava o tema do horror psicológico e a sinistra ideia da transmissão de uma maldição através de um simples sorriso. Com um orçamento de 17 milhões de dólares, o filme conseguiu arrecadar mais de 200 milhões em todo o mundo, consagrando-se não apenas como um sucesso comercial, mas também como um ponto de partida para a expansão de um novo subgênero do terror. ‘Smile 2’, a tão aguardada sequência que estreou dia 18 de outubro, complicou ainda mais as dinâmicas de medo, ao focar na popstar Skye Riley, interpretada por Naomi Scott, um personagem que traz novos desafios e ansiedades à trama, enquanto se vê envolvida em um novo ciclo de horrores.
A narrativa de ‘Smile 2’ se inicia apenas seis dias após os eventos do primeiro filme, com a introdução de Joel, um policial que, por seu envolvimento nos acontecimentos do filme anterior, se torna uma vítima em potencial. A escolha de um protagonista secundário introduzível a primeira instância pode dar uma falsa sensação de segurança ao público, porém, logo é evidente que os horrores estão apenas começando. O personagem de Joel, cuja tentativa de quebrar a maldição resulta em um desfecho trágico e sangrento, serve como um alerta do que está por vir para Skye Riley, que busca se reerguer após uma série de experiências traumáticas.
Ex-Diva do Pop, Skye tenta dar uma nova direção à sua vida após um acidente terrível que resultou na morte de seu namorado e a deixou em um estado de desilusão e vícios. O filme não hesita em explorar temas de abuso de substâncias e redempção, colocando o personagem de Skye em uma narrativa onde suas fraquezas são expostas de maneira crua. Naomi Scott apresenta uma interpretação convincente da sua personagem, criando um retrato emocionante de uma mulher em conflito entre a luta por reconhecimento no cenário musical e seus próprios demônios internos. A dinâmica entre Skye e sua mãe, interpretada por Rosemarie DeWitt, revela a pressão e o fardo de se manter relevante em um mundo que consome ídolos, adicionando um camada de drama familiar ao horror.
Com uma paleta visual mais sofisticada e um design de som envolvente, ‘Smile 2’ avança na construção do espírito perverso que predomina na narrativa, introduzindo elementos visuais que oscilam entre ilusão e realidade. A direção de Parker Finn se destaca ao balancear sustos efetivos e momentos de introspecção. Cenas marcantes incluem a apresentação em um evento de caridade, onde Skye, desestabilizada internamente, revela verdades sobre os desafios da indústria musical, ao mesmo tempo que se depara com as manifestações do mal que a assediam.
À medida que a trama se desenvolve, os encontros cada vez mais frequentes de Skye com figuras ameaçadoras, cujos rostos se transformam em sorrisos distorcidos, elevam a tensão e criam uma atmosfera de incerteza, onde o limite entre realidade e ilusão se torna cada vez mais nebuloso. Este jogo psicológico entre a percepção e a verdade se enriquece com o uso inteligente de ângulos de câmera e efeitos de iluminação que mantém o público alerta. A habilidade de Finn em conjugar estilo visual e narrativa se faz notar em diversos momentos do filme, ainda que a crescente intensidade da violência possa acabar obscurecendo o fio narrativo principal.
Por outro lado, ‘Smile 2’ enfrenta o desafio de tornar seu protagonista menos relacionável do que a terapeuta do primeiro filme, que lutava por uma solução em um aspecto mais humano e acessível da experiência do horror. Embora a narrativa busque refletir o estado mental deteriorado de Skye, as alterações no ritmo e nas transições de realismo em sua jornada podem causar certa desconexão com o público, especialmente na execução de sequências que utilizam imagens perturbadoras para criar os momentos de tensão e estresse.
Conforme a produção avança para um clímax cada vez mais intenso e grotesco, a intensidade da narrativa acaba desfocando as emoções centrais que tornaram o primeiro filme tão impactante. Embora Finn demonstre sua capacidade como diretor e esteta visual, é fundamental que o desenvolvimento da trama não se perca em um excesso de informações, garantindo que a relevância da história não se dilua em um espetáculo de horror exagerado. No entanto, os entusiastas do gênero ainda encontrarão motivos para apreciar ‘Smile 2’ por sua ousadia e pela forma como se propõe a explorar os limites do terror psicológico, levando a franquia a se firmar como uma das novas referências do gênero.