A recente captação de recursos de cinco milhões de dólares pela Abel, uma empresa inovadora no uso de inteligência artificial para simplificar a documentação policial, destaca um cenário que mescla realidade e tecnologia. A experiência vivida por Daniel Francis, fundador da Abel, ao acompanhar uma perseguição policial em Oakland, Califórnia, traz uma nova perspectiva sobre como a tecnologia pode impactar o cotidiano dos policiais e transformar um procedimento tradicional que exige muito tempo, como a elaboração de relatórios. Este acontecimento ilustra não apenas a urgência em modernizar os processos policiais, mas também a crescente pressão sobre as forças de segurança devido à escassez de recursos. O que se desenrolou durante essa intensa jornada de 40 minutos é emblemático da missão da Abel, que busca aliviar a carga de trabalho dos agentes e permitir que se concentrem no que realmente importa: a proteção da comunidade.
No início do ano, Francis se viu em uma situação de adrenalina ao alcançar a velocidade de 135 milhas por hora enquanto acompanhava um policial em uma patrulha. Um incidente comum, que logo se transformou em uma perseguição emocionante quando o policial parou um veículo e o motorista, em pânico, tentou fugir. A sensação de Francis durante a perseguição foi de verdadeira excitação; em suas palavras, foi um momento em que finalmente poderia observar a prática policial em ação, ao invés de apenas acompanhar a rotina de preenchimento de um relatório. Essa experiência o levou a refletir sobre a elaboração de relatórios e o impacto que a inteligência artificial poderia ter na eficiência desse processo. Ele ponderou que os relatos de perseguição são complexos, exigindo uma narrativa detalhada de cada manobra e cruzamento feito durante a caçada. Esses documentos costumam ser extensos e, muitas vezes, consomem um tempo precioso que poderia ser utilizado em outras atividades mais críticas de policiamento.
Francis tem se envolvido em inúmeras caronas policiais ao longo do tempo, totalizando cerca de 20 ride-alongs, o que lhe proporcionou uma visão privilegiada da sobrecarga que os policiais enfrentam ao tentar conciliar a patrulha com a necessidade de preencher relatórios extensos e detalhados. Em resposta a essa demanda, a Abel desenvolveu uma solução que utiliza dados de chamadas de despacho e imagens de câmeras corporais para automatizar a criação de relatórios, reduzindo assim o tempo que os agentes gastam nessa atividade. Recentemente, a empresa conseguiu arrecadar cinco milhões de dólares na sua rodada de investimentos inicial, com a liderança da Day One Ventures e o suporte da Long Journey Ventures, além do apoio do Y Combinator, como parte da turma de verão de 2024. Esse financiamento será utilizado para expandir a equipe de engenheiros e aprimorar ainda mais a inteligência artificial da Abel.
Vale destacar a trajetória de Francis, que se destacou em 2023 ao participar das demissões em massa do Twitter, onde, por um golpe de sorte e criatividade, acabou sendo contratado como engenheiro. Entretanto, sua transição focada na tecnologia policial foi impulsionada por um episódio significativo em sua vida pessoal. Em 2022, Francis ajudou uma amiga a escapar de um relacionamento abusivo, uma experiência que o marcou profundamente, especialmente ao perceber que a Polícia de Oakland levou cerca de 45 minutos para responder a chamadas em um momento de emergência. Esse fato, aliado à conversa com diversos policiais que revelaram o déficit de efetivo nas corporações, solidificou sua convicção de que a tecnologia poderia ser a solução para otimizar a burocracia que permeia a atividade policial.
O auge do seu projeto foi a criação de um demo inicial usando gravações caseiras e encenações de pequenas infrações. A aceitação da sua ideia foi tão promissora que hoje o sistema da Abel já está em uso na Polícia de Richmond, Califórnia. A experiência dos agentes dessa unidade tem sido positiva, permitindo que eles economizem tempo, uma vez que, ao invés de redigir relatórios no local, conseguem apenas revisar um primeiro rascunho já elaborado pela inteligência artificial da empresa após o encerramento do expediente. Embora Abel não seja a única empresa focada em modernizar o preenchimento de relatórios policiais, competindo com empresas como Axon e Policereports.ai, Francis acredita que sua abordagem e o foco em uploads de vídeos de câmeras corporais traz uma nova maneira de encarar a documentação policial.
O futuro da tecnologia na polícia parece promissor, especialmente quando se considera a declaração de Francis sobre a carga de trabalho dos policiais. Ele enfatiza, de maneira enfática, que é fundamental que os agentes não estejam sobrecarregados e que não queimem etapas de seus trabalhos, pois isso não apenas beneficia a saúde mental dos policiais, mas também melhora o serviço prestado à comunidade. Em síntese, a combinação entre a inovação da Abel e a necessidade crescente de soluções práticas para a otimização de tarefas administrativas representa não apenas um passo significativo para as forças de segurança, mas também traz à tona uma nova era em que a tecnologia pode se tornar uma aliada indispensável no cotidiano da polícia.