Um dos casos mais polêmicos da região de Boston, que gira em torno da acusação de assassinato de Karen Read, ganhou um novo e inesperado capítulo com o envolvimento de Richard Schiffer Jr., um homem de Massachusetts que agora enfrenta acusações criminais por supostamente usar patinhos de borracha e notas de cem dólares falsas para intimidar testemunhas. Esse episódio peculiar, que alguns moradores da cidade chamam de “Duckgate”, ressalta como a situação ao redor do julgamento de Read se intensificou, provocando divisões e manifestações em sua comunidade.
A acusada Karen Read é acusada de ter matado seu namorado, o policial de Boston John O’Keefe, ao atingi-lo com seu SUV Lexus e deixá-lo para morrer em uma nevasca no mês de janeiro de 2022. O corpo de O’Keefe foi encontrado em um lençol de neve na frente da casa de um colega policial em Canton, Massachusetts. Os advogados de Read afirmam que ela está sendo incriminada em um esquema com o objetivo de proteger pessoas que estavam na casa Fairview Road na noite do incidente. Eles sustentam que alguém nesse local agrediu O’Keefe até a morte, abandonou seu corpo no gramado e, em seguida, elaborou evidências e testemunhos falsos para incriminar Read. Apesar de ter se declarado inocente, o primeiro julgamento de Read resultou em um julgamento nulo em julho, e um novo julgamento está previsto para janeiro.
A polêmica gerou um grupo de apoio fervoroso para Read, que acredita em sua inocência. Durante o desenrolar do caso, alguns desses apoiadores realizaram protestos em frente ao tribunal, e as redes sociais, como Reddit e Facebook, foram inundadas com análises e teorias sobre o caso. A situação se intensificou com o envolvimento de Schiffer, que apareceu no tribunal enfrentando um conjunto de acusações incluindo intimidação de testemunhas, assédio criminal e poluição, pelas suas ações relacionadas a esse caso.
As acusações contra Schiffer surgiram a partir de uma investigação da polícia de Canton, que apontou que ele supostamente teria deixado os patinhos de borracha e as notas falsificadas em frente aos lares e empresas de testemunhas cruciais no caso de Read. De acordo com a lei de Massachusetts, a intimidação de testemunhas é classificada como um crime grave, podendo resultar em até dez anos de prisão. Com 65 anos e residente da cidade vizinha de Stoughton, Schiffer está agora em um aperto legal que reflete o nível de tensão que o caso Read trouxe à comunidade.
Um aspecto curioso dessa história é que os patinhos de borracha foram inspirados por uma declaração feita durante uma audiência pré-julgamento em janeiro. O advogado de defesa, Alan Jackson, disse ao tribunal: “Se parece um pato e fala como um pato, é um pato”, o que, segundo a polícia, se tornou uma referência direta às ações de Schiffer. O primeiro incidente registrado ocorreu em março, quando notas de cem dólares falsas foram encontradas espalhadas perto de um restaurante local que pertence ao irmão de um dos policiais envolvidos no caso. Ao longo dos meses seguintes, mais notas e patinhos foram descobertos em várias residências e estabelecimentos, criando um padrão que rapidamente chamou a atenção da polícia.
Os detalhes adicionais das investigações incluem depoimentos indicando que algumas das notas e patinhos tinham mensagens que implicavam um sobrinho do proprietário da casa em Fairview Road, enquanto as notas falsificadas traziam a frase “Justiça para BPO John O’Keefe”. Vale notar que o sobrinho, que era menor de idade na época da morte de O’Keefe, estava na casa naquela noite, mas afirmou que não presenciou o incidente. Além disso, após uma busca em maio, a polícia encontrou mais patinhos e adesivos no veículo de Schiffer, que se viu no meio de alegações também direcionadas ao investigador principal do caso, o Capitão da Polícia Estadual de Massachusetts, Michael Proctor, que tem sido criticado por seu comportamento na investigação.
A controversa natureza do caso de Karen Read e a recente adesão de Schiffer ao mesmo se tornaram um símbolo da forma como as questões de Justiça podem se entrelaçar com o comportamento individual e a liberdade de expressão. Schiffer defendeu suas ações como uma forma de exercer seu direito à liberdade de expressão garantido pela Constituição dos Estados Unidos. Em uma arrecadação online para angariar fundos para seus custos legais, ele escreveu: “Por meio da Primeira Emenda e meu direito à liberdade de expressão, expressei minha opinião e crença de que Karen Read é inocente.” As palavras de Schiffer ecoam em um momento em que o sistema de justiça está sob intensivo escrutínio, trazendo à tona questões sobre os limites da liberdade de expressão em meio a casos com forte apelo emocional.
À medida que a comunidade de Canton se prepara para o novo julgamento de Karen Read, é evidente que esse caso continuará a gerar discussões, protestos e, como se viu, iniciativas bastante singulares. O que era um simples caso criminal se transforma em um espetáculo público, onde patinhos de borracha e mensagens de justiça capturam a atenção de muitos. Com o novo julgamento se aproximando, o que mais a saga de Karen Read e a ação de Schiffer trarão à luz? Somente o tempo dirá, mas uma coisa é certa: a história está longe de terminar.