Nos últimos anos, a história de Adam Crapser tornou-se um chamado à ação, evidenciando o que críticos consideram uma falha na legislação dos Estados Unidos que afeta milhares de adotados internacionais. Recentemente, Crapser, que viveu por décadas nos Estados Unidos antes de ser deportado para a Coreia do Sul, voltou a ser notícia ao processar uma agência de adoção e o governo sul-coreano, buscando reparação por um processo de adoção que ele descreve como falho e prejudicial à sua vida.

A Deportação e a Luta pela Cidadania

Após ser adotado por uma família em Michigan em 1979, Adam Crapser viveu 37 anos nos Estados Unidos, onde construiu sua vida e sua família. Contudo, os responsáveis por sua adoção não conseguiram assegurar a documentação necessária para que ele obtivesse a cidadania americana. Como resultado, Crapser enfrentou uma batalha legal que culminou em sua deportação em 2016, um evento que modificou drasticamente o rumo de sua vida. “Estou preso. Fico nesse limbo há um bom tempo,” desabafou Crapser em declarações recentes, referindo-se ao desejo de regressar a sua família e às incertezas de seu futuro.

Atualmente, Crapser está esperando uma decisão judicial em Seul após ter feito história ao ser o primeiro adotado coreano a processar o governo sul-coreano e a agência de adoção por danos. Sua luta ganha novas dimensões enquanto um projeto de lei que poderia permitir seu retorno aos Estados Unidos está paralisado no Congresso. O Adoptee Citizenship Act de 2024 visa garantir cidadania automática a adotados internacionais, corrigindo uma falha da Child Citizenship Act de 2000, que excluiu aqueles que tinham 18 anos ou mais na época de sua promulgação. Crapser, que tinha 25 anos quando a legislação foi aprovada, não conseguiu obter a cidadania e, agora, observa com ceticismo o futuro da nova proposta.

Desafios e a Realidade das Adoções Internacionais

A adoção de Crapser não foi um caminho tranquilo. Após ter sido abandonado por seus primeiros pais adotivos nos anos 80, ele passou por diversos lares de acolhimento. Em 1989, foi adotado por um novo casal que, anos depois, foi processado por abusos físicos. No início da década de 2010, ao solicitar a renovação de seu visto permanente, Crapser teve seu passado criminal exposto, o que levou as autoridades de imigração dos EUA a revogar seu status legal. “Disseram que cometi muitos erros e entrei em várias encrencas, e eu admito isso,” disse Crapser, refletindo sobre as dificuldades que enfrentou.

Agora, com o estatuto de residente permanente revogado e forçado a retornar a um país que não conhece, Crapser se vê em uma situação angustiante. “É um pesadelo. Outros que vêm à Coreia de forma voluntária planejam isso até certo ponto. Você não pode fazer isso quando vai para a prisão de imigração,” afirmou em uma entrevista. O sentimento de desconexão é palpável; Crapser, que cresceu sem contato com a cultura coreana, sente-se desorientado, forçado a reimaginar a definição de lar. “Não tenho escolha. Tudo que conheço é a cultura americana. Não sabia nada sobre costumes, culturas, regras ou história coreanas porque isso foi intencionalmente mantido afastado de mim,” lamentou.

O Apelo de um Pai Separado de seus Filhos

Com um bloqueio de dez anos para retornar aos Estados Unidos, Crapser expressou em tribunal seu desejo de estar junto de seus filhos. Desde sua deportação, ele não vê a filha de 10 anos, e sua angústia transparece a cada palavra. “Tentei todos os recursos legais possíveis para voltar aos Estados Unidos, e isso não teve sucesso,” desabafou Crapser, que poderá solicitar dispensas em dois anos, mas sem garantir que isso resulte em um retorno rápido. O risco de uma proibição permanente está sempre à espreita caso ele tente voltar antes do tempo permitido.

A Dualidade da Adoção Internacional e as Perguntas Não Respondidas

Crapser está determinado a garantir que haja um registro histórico não apenas para seus filhos, mas também como um testemunho das falhas no sistema de adoção internacional que falhou em assegurar a naturalização adequada dos adotados. A agência de adoção envolvida, a Holt Children’s Services, embora tenha reconhecido preocupações éticas em relação a adoções dos anos 80, afirmou que não possui responsabilidade legal de garantir a cidadania de seus adotados, um ponto que é amplamente debatido na comunidade.

No ano passado, um tribunal inferior coreano ordenou que a Holt pagasse a Crapser um valor significativo em danos por não ter informado seus pais adotivos sobre os passos necessários para assegurar sua cidadania. No entanto, apelos tanto de Crapser quanto da agência são esperados, e o futuro da sua luta permanece incerto. A decisão do tribunal superior está marcada para janeiro do próximo ano, e Crapser continua a lutar não apenas por sua cidadania, mas pela justiça e pelo reconhecimento de sua história na complexa teia das adoções internacionais.

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