Desenvolvendo habilidades parentais em meio a aventuras de fantasia
A prática de jogos de tabuleiro e RPGs, como Dungeons & Dragons, tem sido mais do que uma forma de entretenimento; tornou-se um aprendizado importante na jornada da paternidade. Esse é o testemunho de um pai que, durante a pandemia de Covid-19, começou a compartilhar esta experiência de jogo com seu filho e outras crianças na vizinhança de Kansas City, Missouri. O jogo, que foi co-criado por Gary Gygax na década de 1970, proporcionou, de maneira clara, um guia para questões éticas e morais, fundamentais no envolvimento parental, enquanto as crianças exploravam histórias e personagens. Como um ‘dungeon master’ (mestre do jogo), ele não apenas estruturou a narrativa, mas atuou como um mentor que ensinava valores e promovia discussões relevantes sobre as ações e decisões dos personagens, refletindo diretamente na formação de seus filhos.
Dungeons & Dragons como ferramenta pedagógica e de socialização
O impacto positivo de Dungeons & Dragons na paternidade não é apenas uma experiência isolada. Shelly Mazzanoble, autora do livro “How to Dungeon Master Parenting: A Guidebook for Gamifying the Child-Rearing Quest, Leveling Up Your Skills, and Raising Future Adventurers”, ressalta a importância dos ‘dungeon masters’ como modelos de generosidade, colaboração e empatia. Para Mazzanoble, tanto os mestres de jogo quanto os pais navegam por jornadas repletas de imprevistos e desafios, onde o papel de proteger e orientar é essencial. Esta interação não apenas fornece uma estrutura para a tomada de decisões, mas também ajuda as crianças a desenvolverem habilidades interpessoais e de resolução de conflitos à medida que enfrentam situações que muitas vezes podem ser confrontadoras.
No primeiro passo dessa jornada de parentalidade, Mazzanoble sugere que pais e cuidadores participem de um “sessão zero”, uma prática comum entre jogadores onde se discutem as expectativas e objetivos dos personagens. Para os pais, essa ideia se traduz em reunir os elementos de suporte em sua vida para discutir como desejam criar seus filhos. Essa conversa pode incluir tópicos sobre disciplina, nutrição e outros aspectos importantes da criação. Um desafio frequentemente encontrado é a falta de discussão prévia sobre questões simples, como o uso de chupetas ou métodos disciplinares, que muitas vezes são abordadas apenas quando já é tarde demais.
O aspecto colaborativo do jogo reflete-se também na dinâmica familiar. Mazzanoble enfatiza que, assim como em um grupo de Dungeons & Dragons, é fundamental que todos os membros da família se apoiem mutuamente nas decisões, compartilhando responsabilidades e capacidades, a fim de fortalecer laços e promover um ambiente que preza pela autonomia das crianças. Ser pai ou mãe é também encontrar o equilíbrio entre guiar e permitir que os filhos explorem o mundo ao seu redor, uma habilidade que deve ser cultivada e incentivada.
A construção de redes de apoio no contexto da paternidade
No desafio contínuo de criar filhos, construir uma rede de apoio é algo que Mazzanoble retrata como crucial. Encontrar pessoas que compartilhem experiências semelhantes e que possam oferecer suporte emocional é vital para que os pais se sintam menos isolados em suas jornadas. Essas comunidades podem ser formadas através de grupos de apoio a novos pais, organizações voltadas para o desenvolvimento infantil e outras redes sociais que facilitam a troca de vivências e conselhos. As interações positivas que surgem nessas comunidades oferecem um alicerce que ajuda a aliviar as pressões da paternidade, fazendo com que os responsáveis se sintam mais confiantes e capazes em suas funções, mesmo em meio às dificuldades do dia a dia.
Encarando os desafios como oportunidades de aprendizado
A paternidade, como qualquer aventura em Dungeons & Dragons, pode ser repleta de falhas e dificuldades. Mazzanoble sugere que os pais adotem uma nova perspectiva em relação ao fracasso. Ao entender que os contratempos fazem parte do processo de aprendizagem, é possível ver essas situações como oportunidades para construir uma nova narrativa. Por exemplo, quando um pai se depara com uma situação desafiadora na educação do filho, em vez de se sentir desanimado, deve encarar isso como uma parte importante da ‘história’ familiar que está em construção. Essa abordagem permite que tanto os pais quanto os filhos cresçam juntos, aprendendo a lidar com a frustração e a desenvolver resiliência emocional.
As lições aprendidas em Dungeons & Dragons se estendem muito além das aventuras fantásticas; elas podem moldar a paternidade de maneira significativa. Essa prática, centrada na colaboração, empatia e resolução de conflitos, não apenas transforma o ato de jogar em uma experiência enriquecedora, mas também ajuda a construir laços familiares mais fortes e um desenvolvimento emocional saudável. Com a aplicação dessas experiências no cotidiano, os pais têm a potencialidade de criar um ambiente equilibrado e rico em aprendizado, onde seus filhos podem se aventurar por suas próprias histórias, equipados com habilidades que durarão a vida toda.