A crescente utilização de tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, tem proporcionado diversas inovações em diferentes setores. No entanto, essa mesma tecnologia pode ser utilizada para práticas ilícitas, como evidenciado pelo recente escândalo em Hong Kong, onde um esquema de fraude utilizando deepfake resultou em perdas financeiras significativas, totalizando cerca de 46 milhões de dólares, principalmente de homens oriundos de diferentes regiões da Ásia. As autoridades policiais da região têm se mobilizado para combater práticas fraudulentas, mas os avanços tecnológicos dificultam o trabalho de prevenção e conscientização.
O esquema ambulante: como a fraude foi orquestrada
De acordo com a polícia de Hong Kong, o esquema se manifestou através de chamadas de vídeo e mensagens trocadas por aplicativos, nas quais vítimas foram atraídas por uma mulher que parecia linda. A suposta relação amorosa, alimentada com encontros virtuais, revelou-se uma farsa, uma vez que era criada com o uso de deepfake, uma tecnologia que possibilita a fabricação de vídeos e áudios hiper-realistas com a ajuda da inteligência artificial. Em uma coletiva de imprensa, as autoridades informaram que mais de 25 pessoas foram presas sob a acusação de envolvimento com esse esquema, que se estendeu de Taiwan a Singapura e até a Índia.
Os detidos, 21 homens e seis mulheres, tinham entre 21 e 34 anos de idade e, segundo a polícia, na sua maioria possuíam formação educacional superior, muitos deles em áreas relacionadas a mídia digital e tecnologia. Investigações revelaram que os membros do esquema foram supostamente recrutados por meio de universidades locais e colaboraram com especialistas em tecnologia da informação no exterior para desenvolver uma plataforma de criptomoedas falsa, onde os homens atraídos foram incentivados a investir. Além das instituições universitárias, a polícia destacou a complexidade do grupo, que tinha sua operação central em uma unidade industrial de 4.000 pés quadrados no distrito de Hung Hom, em Hong Kong.
A evolução do golpe: técnicas de manipulação e controle emocional
Os chamados “golpes de engorda”, que consistem em criar um relacionamento através de uma identificação falsa para posteriormente extorquir dinheiro, têm se tornado cada vez mais comuns. A nova faceta apresentada por esse esquema em Hong Kong destaca a utilização de deepfakes em sua execução, o que eleva substancialmente os riscos não apenas para os indivíduos, mas também para empresas. Recentemente, uma empresa britânica de design e engenharia perdeu 25 milhões de dólares após uma fraude com deepfake, onde um funcionário foi enganado por fraudadores que se passaram por membros da alta direção da companhia.
No caso do esquema de romance, a abordagem inicial frequentemente começava com uma mensagem de texto que apresentava uma aparente mulher atraente, alegando que havia adicionado o número errado. O próximo passo era estabelecer um romance virtual, criando um cenário de intimidade e amor, o que levava à elaboração de planos futuros juntos. De acordo com as investigações, a organização criminosa adotou uma estrutura hierárquica, subdividida em departamentos que eram responsáveis por diferentes etapas do golpe. Policiais descobriram ainda que os golpistas utilizavam um manual de treinamento para ensinar como explorar a sinceridade e emoção das vítimas, transformando suas vulnerabilidades em ferramentas para extorsão financeira.
O tempo de operação do esquema foi de cerca de um ano até que, em agosto, a polícia começou a receber informações relevantes para os avanços nas investigações. Durante as ações policiais, foram apreendidos mais de 100 telefones celulares, além de aproximadamente 26 mil dólares em dinheiro e uma série de relógios de luxo, revelando o tamanho e a riqueza acumulada pelo grupo criminoso.
Os desafios da prevenção: necessidade de conscientização e vigilância das autoridades
A crescente complexidade e sofisticação dos crimes virtuais, exacerbada pelo uso de tecnologias como os deepfakes, levantam questões sérias sobre a eficácia das atuais estratégias de combate a fraudes na região. Embora Hong Kong tenha uma longa história de campanhas de conscientização quanto às fraudes telefônicas, os níveis de vulnerabilidade aumentaram com a adoção dessas novas tecnologias nas práticas de engano. O aumento de casos que envolvem deepfakes exige que as autoridades revisitem suas metodologias de conscientização e adotem novos métodos de policiamento, a fim de proteger não apenas os cidadãos, mas também entidades empresariais que estão sob risco crescente.
Em conclusão, o escândalo recente em Hong Kong serve como um alerta sobre os perigos da tecnologia quando usada para fins malévolos. À medida que as práticas fraudulentas evoluem, é crucial que indivíduos e autoridades permanecem informados e vigilantes sobre as ameaças emergentes, garantindo que estratégias adequadas de defesa sejam implementadas para minimizar esse tipo de crime financeiro crescente. É fundamental promover a educação e a conscientização sobre o uso ético da tecnologia, evitando que ele sirva como um meio de exploração e engano.