União Europeia Intensifica a Análise da Plataforma Temu em Meio a Preocupações de Conformidade

A União Europeia (UE) elevou o nível de escrutínio sobre a plataforma de ecommerce chinesa Temu, solicitando informações adicionais sobre sua conformidade com as diversas disposições do quadro de governança online do bloco, especificamente em relação à Lei de Serviços Digitais (DSA). A DSA regulamenta como as plataformas online devem operar e impõe a responsabilidade de garantir que produtos ilegais não sejam vendidos em suas plataformas. Este movimento ocorre em meio a crescentes preocupações de grupos de defesa do consumidor, que desde maio de 2023 haviam apresentado queixas coletivas contra a Temu, pressionando a Comissão Europeia a investigar questões que envolvem, entre outros aspectos, a rastreabilidade de comerciantes e práticas de design manipulado.

A DSA estabelece um requisito legal para que plataformas maiores avaliem uma variedade de riscos sistêmicos que seus serviços podem representar para os usuários da UE, especialmente em áreas críticas, como proteção de menores e saúde pública. As plataformas são obrigadas a tomar medidas proativas para mitigar potenciais danos. Além disso, a regulamentação exige transparência em relação à lógica dos sistemas algorítmicos que são utilizados para recomendar conteúdos aos usuários. As penalidades para a não conformidade com a DSA podem ser severas, atingindo até 6% da receita anual global de uma empresa.

Requisitos de Informação e Ações Futuras da Comissão Europeia

Em um comunicado divulgado na sexta-feira, a Comissão Europeia informou que solicitou à Temu informações adicionais sobre as medidas de mitigação de riscos relacionadas à venda de produtos ilegais. O bloco quer detalhes específicos acerca da identificação de comerciantes que vendem produtos ilegais na plataforma, além de documentos internos que demonstrem como a Temu garante que os vendedores problemáticos não consigam retornar à plataforma e retomar a venda de mercadorias ilegais. A UE busca também mais informações sobre os riscos à proteção do consumidor, riscos à saúde pública e riscos ao bem-estar dos usuários, assim como sobre os sistemas de recomendação utilizados pela Temu.

A plataforma de ecommerce possui até o dia 21 de outubro para fornecer as informações solicitadas. Caso a UE não fique satisfeita com as respostas da Temu, pode haver novas solicitações de dados. Além disso, a Comissão pode decidir abrir um procedimento formal de investigação caso suspeite de não conformidade da plataforma. Em junho, uma solicitação anterior de informações foi enviada à Temu e à plataforma concorrente Shein, abrangendo uma ampla gama de questões, incluindo mecanismos de “Notificação e Ação” (como os usuários podem relatar produtos problemáticos ou ilegais), design da interface, proteção a menores, transparência dos sistemas de recomendação e rastreabilidade dos comerciantes.

Embora a supervisão da Comissão ainda não tenha resultado em uma investigação formal sobre nenhuma das plataformas até agora, a Temu passou a estar sob fiscalização centralizada desde maio, quando foi designada como uma plataforma online muito grande (VLOP). Essa designação impôs à Temu um prazo até o final de setembro para se alinhar às regras adicionais de mitigação de riscos e de responsabilidade algorítmica estabelecidas pela DSA. Isso indica que a UE está atuando rapidamente, provavelmente em resposta à pressão pública causada pelos grupos de defesa do consumidor que levantam preocupações e exigem ação.

Reação do Setor de Defesa do Consumidor e Resposta da Temu

Em uma declaração feita na sexta-feira, a Organização Europeia de Consumidores, conhecida como BEUC, expressou seu apoio ao desenvolvimento. O representante digital da BEUC, Fernando Hortal Foronda, comentou: “É uma boa notícia que a Comissão tenha solicitado urgentemente informações adicionais da Temu para determinar se ela cumpre várias obrigações sob a DSA. Este é um acompanhamento às nossas reclamações de maio, onde levantamos muitos problemas problemáticos sobre a Temu, incluindo a falta de transparência-em relação à identidade dos vendedores na plataforma e como funcionam seus sistemas de recomendação.” Hortal Foronda enfatizou que a Temu está falhando em proteger os consumidores e provavelmente está infringindo a lei, mencionando testes realizados ao longo do ano sobre produtos perigosos e ilegais que apontaram para um problema sistêmico que a Temu não conseguiu abordar adequadamente. Ele manifestou expectativa de mudanças urgentes por parte da Temu e expressou esperança de que essa situação represente o início do fim das práticas prejudiciais que os consumidores enfrentam na plataforma.

Em resposta, uma representante da Temu, Abigail Rush, da empresa de relações públicas 5WPR com sede em Nova York, enviou um comunicado em que afirma: “Recebemos o pedido de informações da Comissão Europeia e estamos colaborando plenamente. Em conformidade com nosso compromisso de longa data com a conformidade, tomamos medidas significativas desde que fomos designados como uma VLOP em 31 de maio de 2024 e continuamos a aprimorar nossas práticas sob a Lei de Serviços Digitais. A segurança do consumidor é uma prioridade máxima, e recebemos feedback de todas as partes interessadas enquanto trabalhamos para oferecer acesso a produtos de qualidade e acessíveis para nossos consumidores.”

O desdobrar dessa situação não só poderá estabelecer precedentes sobre como a UE regulamenta plataformas de ecommerce, mas também poderá impactar a confiança dos consumidores em plataformas de venda online, destacando a importância de medidas robustas para proteger o bem-estar dos usuários em um cenário de comércio digital cada vez mais complexo.

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