Na última segunda-feira, a News Corp, uma das maiores empresas de mídia do mundo, anunciou que havia ajuizado uma ação judicial contra a Perplexity, uma empresa focada em inteligência artificial que oferece um serviço de busca, alegando infração de direitos autorais. O processo afirma que a Perplexity utilizou conteúdos da News Corp sem a devida autorização, ao integrar informações de suas publicações e redistribuí-las a seus usuários. Em contrapartida a esse embate legal, Aravind Srinivas, CEO da Perplexity, participou de um evento promovido pelo Wall Street Journal, que pertence à News Corp, na tentativa de abordar as preocupações levantadas pela empresa sobre como a Perplexity utiliza seu conteúdo, destacando a pressão que muitas publicações vêm sentindo com o crescimento da inteligência artificial.
Durante o evento, que destacou inovações tecnológicas e o impacto da IA no setor de comunicação, Srinivas iniciou sua participação reconhecendo imediatamente “o elefante na sala”, referindo-se de forma clara à ação judicial em questão. Ele comentou que a News Corp não é a única editora preocupada com a forma como suas publicações estão sendo utilizadas por produtos de inteligência artificial, como o da Perplexity. Segundo ele, o desejo da empresa sempre foi manter um diálogo aberto e produtivo com todos os parceiros de conteúdo, algo que a Perplexity se esforçou para promover ao longo do tempo. “Acho que é importante estar aberto a discussões e para nós, estabelecer um contrato comercial é essencial”, enfatizou o CEO.
O CEO fez uma analogia à plataforma de streaming Spotify, que revolucionou a indústria musical ao oferecer uma nova forma de monetizar conteúdos. Ele expressou que o propósito da Perplexity é semelhante, buscando uma forma de valorizar o trabalho dos criadores de conteúdo. A empresa já anunciou a criação de um programa de parcerias com editores, no qual os programas publicitários gerados a partir de sua tecnologia também direcionam uma parte das receitas para as fontes de conteúdo utilizadas. “Nosso modelo é baseado na ideia de que, desde que continuemos a crescer, os criadores também serão recompensados”, afirmou Srinivas. A fervorosa esperança do CEO é que a compreensão mútua possa resultar em uma solução favorável para ambas as partes.
A Perplexity se propõe como uma alternativa ao Google, mas com um diferencial evidente: enquanto o gigante da tecnologia tradicionalmente direciona os usuários a links de sites externos, a Perplexity inovou ao condensar informações de diversas fontes, apresentando-as de forma direta aos consumidores. Contudo, essa abordagem não está isenta de críticas. Publicadores, como a News Corp, manifestaram preocupações de que o modelo da Perplexity possa diminuir o tráfego para suas plataformas, impactando, assim, sua receita. Srinivas defendeu a postura da Perplexity explicando que o objetivo é oferecer um mosaico de informações, ao invés de simplesmente reproduzir textos já existentes. “Estamos constantemente aprimorando nossos sistemas para evitar repetições, mas os desafios que enfrentamos são novos e complexos”, avaliou.
A questão da “alucinação” no modelo da inteligência artificial, onde a IA pode apresentar informações incorretas atribuídas a fontes respeitáveis, também foi abordada. “É claro que essas situações geram insatisfação e compreendemos perfeitamente as preocupações dos editores”, destacou. O CEO lamentou qualquer incerteza em relação à precisão e realçou que todos na Perplexity estão empenhados em estabelecer uma IA que minimize erros e que reconheça com responsabilidade seus erros. A empresa busca melhorar constantemente sua plataforma, prometendo transparência com os usuários em relação à origem das informações fornecidas.
Num cenário financeiro mais amplo, a Perplexity está em busca de investimento, almejando uma valorização de aproximadamente 9 bilhões de dólares em sua última rodada de financiamento. Srinivas revelou suas expectativas de que a empresa atinja a lucratividade em um período de três a cinco anos, embora dúvidas sobre o ambiente jurídico em evolução envolvendo a inteligência artificial possam influenciar diretamente esse objetivo. A complexidade da legislação que envolve criação de conteúdos gerados por IA pode impactar a capacidade da Perplexity de se firmar – e eventualmente se torna rentável – em um setor em constante transformação.
Com essas considerações, o futuro da Perplexity não parece ser apenas uma questão de tecnologia e receita, mas também de estabelecer um diálogo eficaz com a indústria de mídia, reconhecendo o papel fundamental que a mediação com criadores de conteúdo desempenha. À medida que a tecnologia avança, o desafio será conciliar progresso e ética, um equilíbrio que, se alcançado, poderá definir o sucesso da empresa numa era em que a inteligência artificial está se tornando cada vez mais prevalente.