Marc Benioff, após a Dreamforce, fala sobre as limitações reais da inteligência artificial generativa
Expectativas e realidades do setor tecnológico discutidas em recente podcast
No contexto atual da tecnologia, especialmente com o crescimento acelerado da inteligência artificial generativa, muitas vozes têm se destacado para alertar e, ao mesmo tempo, promover o potencial desta inovação. Entre essas vozes, encontra-se Marc Benioff, CEO da Salesforce, que se posicionou recentemente como um defensor cauteloso da IA. Em suas declarações, ele expressou grande entusiasmo pela IA generativa, mas também alertou sobre as exageradas promessas feitas por seus maiores defensores. Sua análise crítica recaiu, de maneira específica, sobre a Microsoft, a qual ele considerou responsável por criar expectativas irrealistas em torno das capacidades da IA no setor corporativo.
Benioff fez essas considerações em uma entrevista ao podcast Rapid Response, que é conduzido pelo ex-editor-chefe da Fast Company, Bob Safian. Durante a conversa, ele enfatizou o quanto se sente animado em relação à tecnologia, afirmando: “Nunca estive tão animado com nada na Salesforce, talvez em toda a minha carreira.” Contudo, ele não hesitou em revelar suas preocupações, afirmando que “os clientes foram informados de coisas sobre a IA empresarial, e talvez sobre a IA de forma geral, que não são verdadeiras.” Este tipo de declaração ecoa uma crescente necessidade no setor de tecnologia de balancear entusiasmo com responsabilidade, principalmente quando se trata das promessas feitas pela indústria.
Um dos principais pontos de crítica de Benioff se direcionou aos recursos do Microsoft Copilot, que ele considera não serem efetivos e precisos. Ele chegou a fazer uma analogia com o Clippy, um assistente digital da Microsoft bastante criticado nos anos 90, ressaltando que a atual configuração do Copilot ainda não atendeu às expectativas que foram estabelecidas. Benioff, reforçando seu ponto de vista, disse: “Podemos ter ouvido esses sacerdotes e sacerdotisas da IA dizendo que a IA agora está curando câncer e que está resolvendo mudanças climáticas. Nada disso é verdade.” Essa comparação denota uma evidente frustração com a percepção pública da IA, que muitas vezes pode se desviar da realidade prática.
Além disso, ele criticou a mensagem veiculada por líderes da tecnologia, como Sam Altman, CEO da OpenAI, que em um evento anterior havia sugerido que a tecnologia impulsionada por IA poderia, um dia, ajudar na descoberta de curas para doenças como o câncer. Em salvo conduto, Benioff reafirmou que as Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs) não são a ponte direta para a Inteligência Geral Artificial (AGI), e que muitas das capacidades atribuídas à IA atualmente estão exageradas. Essa opinião é corroborada por pesquisas e análises de mercado, como a publicada pela Gartner, que no relatório “The Top 10 ‘Gotchas’ of Copilot for Microsoft 365” revelou que apenas um quarto das organizações que testaram o Copilot programam uma implementação em larga escala. Apesar disso, o estudo indicou que a adoção da tecnologia tende a aumentar à medida que o Copilot avança.
A Microsoft, por outro lado, posiciona-se de forma contrária, mostrando resultados positivos a partir de pesquisas encomendadas, como a da Forrester, que evidenciaram benefícios financeiros para pequenas empresas que utilizam o Copilot. Embora esses dados sejam questionáveis, dado que foram patrocinados pela própria Microsoft, ainda assim, observam-se alguns avanços na maneira como a IA está se integrando no ambiente corporativo. Contudo, Benioff afirma que a IA disponível atualmente, apesar de suas capacidades surpreendentes, ainda não está pronta para substituir a força de trabalho humana nos setores mais variados.
A discussão também tocou aspectos práticos sobre como a IA está sendo implementada nas empresas. Benioff reconheceu que uma das áreas onde a IA está se destacando é a dos agentes de IA, um setor em que a Salesforce está investindo fortemente com produtos como o Agentforce. A tendência crescente de utilizar agentes de IA para atender clientes e aprimorar serviços evidencia uma transformação nas práticas empresariais, que vão desde assistentes virtuais até guias de serviço de campo. Nesse sentido, empresas como OutRival, Atlassian e startups como sierrra também estão se aventurando nesse espaço, criando soluções específicas para diferentes demandas do mercado.
Ademais, a presença de agentes de IA no setor de vendas vem se expandindo, especialmente em atividades de prospecção, que tradicionalmente têm uma taxa de rejeição elevada. Benioff especulou que, com a crescente adesão na conferência de tecnologia que ele realizou, a Salesforce deverá contar com mais de um bilhão de agentes ativos nos próximos doze meses. Essa previsão destaca a necessidade de as empresas se adaptarem rapidamente a um ambiente de negócios que se transforma constantemente.
Entretanto, mesmo diante desse quadro otimista, é importante ressaltar que as LLMs têm se mostrado bastante úteis em áreas como programação, onde desenvolvedores utilizam essas tecnologias para testar, depurar ou criar exemplos de código. A relação próxima da Microsoft com a OpenAI oferece um suporte adicional, pois sua nuvem, Azure, torna-se um chamariz para empresas que buscam utilizar LLMs para desenvolver suas próprias aplicações de IA generativa. Nesse cenário, a Microsoft mantém um papel proeminente, mas num espaço que continua a ser definido por múltiplos fatores de inovação.
Ao final, Benioff enfatiza uma fundamental necessidade de ser cauteloso em lidar com a hype da IA. Ele conclui que o foco deve ser na gestão das expectativas alinhadas à exploração das verdadeiras capacidades que a tecnologia pode oferecer. Tendo em vista a evolução constante do setor, a responsabilidade em comunicar o que a IA pode realmente alcançar será crucial para moldar um futuro mais claro e realista.