Nova York — À medida que a corrida presidencial se intensifica, Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, tem demonstrado claramente que, caso seja reeleito, pretende utilizar sua posição para se vingar de todos aqueles que considera como ameaças à sua figura e agenda política. Esse “tour de vingança”, prometido pelo ex-presidente, cresce em polêmica conforme ele amplia sua lista de adversários, que abrange não apenas políticos democratas, mas também a mídia, advogados e doadores políticos que, segundo ele, se envolveram em comportamentos “desonrosos”. O que isso representa para os CEOs e líderes empresariais da América? Para muitos, a memória do primeiro mandato de Trump sugere que as ameaças não devem ser subestimadas.
A resposta cautelosa dos líderes empresariais
Os líderes empresariais conscientes da capacidade de Trump de minar a reputação e o valor de suas empresas com um simples tweet sentem-se compelidos a agir com precaução. Durante seu primeiro mandato, Trump demonstrou habilidade em mobilizar a opinião pública contra empresas que se colocavam em seu caminho, provocando reações rápidas que muitas vezes resultavam em despencos nas ações de grandes corporações ou em boicotes em massa. Enquanto figuras proeminentes do mundo dos negócios, como Reid Hoffman e Mark Cuban, adotaram uma postura de resistência ao se posicionar publicamente em apoio à vice-presidente Kamala Harris, outros optam por uma estratégia de maior cautela, evitando se expor para não se tornarem alvos das retaliações de Trump.
Recentemente, o caso do famoso CEO Jeff Bezos, proprietário do Washington Post, exemplifica essa dinâmica. Ao invés de apoiar abertamente uma candidatura, Bezos decidiu impedir que o editorial do seu jornal endorsasse qualquer candidato pela primeira vez em décadas. Essa decisão, considerada por muitos como um ato de covardia, foi vista como uma forma de sinalizar à campanha de Trump. O ex-editor do Post, Marty Baron, afirmou que a pressão exercida por Trump sobre Bezos era constante e que, embora ele tenha resistido no passado, os interesses comerciais de Bezos, como sua participação significativa na Amazon e sua empresa de exploração espacial, Blue Origin, influenciam suas escolhas.
Um clima de tensão para o setor empresarial
A situação se complica ainda mais quando se considera o contexto mais amplo em que as empresas operam hoje. As posições agressivas de Trump em relação a políticas comerciais que poderiam impor custos excessivos às empresas americanas por suprimentos importados prometem criar um ambiente de incerteza. A promessa de deportar milhões de imigrantes indocumentados levanta preocupações sobre uma possível escassez de mão de obra, enquanto sua intenção de influenciar políticas de taxa de juros também acende alarmes entre os líderes empresariais. Diante dessa complexidade, a hesitação de expressar apoio a Harris por parte de 88 líderes de negócios no mês passado começa a fazer sentido.
Contudo, o jogo tortuoso da politiquice nos negócios se intensifica à medida que a eleição se aproxima. Em um cenário político tão equilibrado, muitos executivos estão optando por manter uma postura neutra, acreditando que não há vantagem em se expor a publicamente criticar uma figura como Trump, que já demonstrou seu lado vingativo. O temor do que uma vitória de Trump poderia significar para suas indústrias faz com que muitos executivos se tornem diplomatas nos bastidores, buscando manter uma boa relação com um ex-presidente que, se atravessar o caminho deles, não hesitará em causar estragos.
Reflexão final sobre o papel da ética nos negócios
Enquanto muitos CEOs afirmam que sua posição de silêncio é uma decisão puramente comercial, é impossível ignorar que, em cada decisão feita sob pressão política, há um dilema ético. O silêncio é uma escolha, e não é uma escolha neutra quando se é um bilionário que possui o poder de influenciar não apenas o mercado, mas também a vida de milhares de pessoas que dependem das empresas que lideram. O que será que essas decisões significam para o futuro do capitalismo americano, que se vê nesse embate entre a ética empresarial e as pressões políticas? À medida que a política e os negócios se entrelaçam cada vez mais, será que o rumar da bússola moral desses líderes será ofuscado pelas as necessidades de sobrevivência de suas empresas? O tempo dirá, mas o cenário está definitivamente se tornando mais complexo do que nunca.