A premiação do Oscar, que atrai a atenção de cinéfilos e da indústria cinematográfica de todo o mundo, passou a ser palco de uma situação inusitada e lamentável para a China. O documentário intitulado ‘The Sinking of the Lisbon Maru’, que havia sido escolhido como o representante do país na categoria de Melhor Filme Internacional, foi considerado ineligible pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. O que levou a essa situação? A resposta, angustiante para muitos, está nas regras específicas que regem a elegibilidade dos filmes para a premiação, que, neste caso, não foram atendidas.

Segundo informações obtidas, a Academia confirma que o filme falhou em cumprir o requisito mínimo de diálogo em línguas não inglesas necessário para ser elegível. De acordo com as normas da Academia, um filme deve ter uma trilha de diálogo predominantemente (mais de 50%) em uma língua não inglesa, conforme destacado por suas diretrizes. No caso do documentário, que retrata um episódio trágico da Segunda Guerra Mundial, a submissão tardia e a descoberta da falha nas condições de elegibilidade tornaram impossível a apresentação de outra obra por parte da China antes do fechamento do período de inscrições, que se deu em 2 de outubro.

Dirigido por Ming Fan, Li Fang e Lily Gong, ‘The Sinking of the Lisbon Maru’ narra a história do navio que ficou conhecido como o “navio da morte”. Este cargueiro foi requisitado pelo Exército Japonês durante um dos períodos mais sombrios da história, enquanto transportava prisioneiros de guerra britânicos entre Hong Kong e o Japão. No dia 1º de outubro de 1942, a embarcação foi torpedeada por um submarino dos Estados Unidos no Mar da China Oriental, resultando em uma tragédia. Dentre os 1.212 prisioneiros a bordo, 828 perderam a vida, enquanto 384 conseguiram ser resgatados por pescadores chineses, em uma demonstração de coragem e humanidade em meio ao caos.

Embora o filme tenha perdido a chance de competir na categoria de Melhor Filme Internacional, ele ainda possui a possibilidade de ser considerado na categoria de Melhor Documentário, o que pode ser uma luz no fim do túnel para a produção. Em resposta a essa nova realidade, uma campanha está sendo formada com o objetivo de impulsionar o reconhecimento da obra na categoria apropriada. Para aqueles que desejam acompanhar a projeção desse documentário, a próxima exibição ocorrerá no Asian World Film Festival, no dia 18 de novembro, e, subsequentemente, começará seu período de qualificação no Laemmle Monica Film Center, em Santa Monica, no dia 22 de novembro. Vale destacar que o diretor Li Fang estará presente na ocasião, o que poderá proporcionar uma rica oportunidade de diálogo com o público sobre a obra e sua importância.

Até hoje, a China teve apenas duas indicações para a categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar: ‘Ju Dou’, de 1990, e ‘Hero’, de 2002. Infelizmente, ambas as produções não levaram para casa a tão sonhada estatueta. Com a rica e complexa história que o cinema chinês possui, o que podemos esperar em relação a futuras participações? Fica a esperança de que essa nova ineligibilidade não impeça novas e poderosas narrativas de serem apresentadas ao mundo, em uma contínua busca por reconhecimento e validação internacional.

Em meio a essa reviravolta, resta a pergunta: será que a estratégia de fechar os olhos para os requisitos estabelecidos pela Academia se tornará mais uma história de descaso? Ou servirão como lições para as futuras produções que desejam competir na premiação mais prestigiosa do cinema mundial? Enquanto isso, a jornada de ‘The Sinking of the Lisbon Maru’ continua, mostrando que, mesmo em face das adversidades, a arte e a cultura sempre encontrarão uma forma de se expressar e ressoar entre os espectadores.

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