Descontentamento de importantes figuras de Hollywood com a estratégia de distribuição da Netflix
A crescente insatisfação de diversos cineastas e atores em relação ao modelo de negócios adotado pela Netflix tornou-se um tema central nas discussões sobre a indústria cinematográfica contemporânea. Recentemente, relatos indicaram que Daniel Craig, conhecido por seu papel como James Bond, manifestou seu descontentamento diretamente ao CEO da Netflix, Ted Sarandos, durante a estreia de “Glass Onion”, sequência de “Knives Out”, no Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF) em 2022. A reação de Craig ao modelo de lançamento exclusivamente voltado ao streaming expôs fissuras nas relações entre a plataforma de streaming e algumas das maiores personalidades de Hollywood, que defendem uma abordagem que priorize exibições nos cinemas.
Conforme reportado pelo jornalista Matt Belloni, da Puck, a polêmica surgiu após uma ovação de pé do público no evento, na qual Craig aproveitou a oportunidade para argumentar a favor de um lançamento mais convencional e prolongado de “Glass Onion” nas salas de cinema. Todavia, Sarandos respondeu que isso não se alinha com a estratégia atual da Netflix, que se concentra em sua plataforma de streaming. A resposta de Craig foi contundente, ao afirmar que “seu modelo está prejudicado”, conforme relatado pela publicação. Essa interação é emblemática, pois representa um ponto de inflexão em que as expectativas de atores e cineastas, que desejam ver suas obras projetadas em grandes telões, colidem com o compromisso da Netflix de se firmar como líder no setor de streaming.
A recusa de celebridades em aceitar acordos vultosos em prol do cinema
Além de Craig, outros nomes respeitados da indústria, como Margot Robbie e a diretora Emerald Fennell, também expressaram sua insatisfação com as opções limitadas oferecidas pela Netflix. Reportagens indicam que ambas as artistas rejeitaram um contrato de US$ 150 milhões para a adaptação do clássico “O Morro dos Ventos Uivantes”, preferindo o impacto cultural que um lançamento convencional nos cinemas poderia proporcionar. Esta decisão ilustra a luta contínua por reconhecimento e pela experiência cinematográfica pura, que muitos profissionais veem como essencial para a eficácia e a recepção de suas obras.
Os números também sustentam as críticas. Em setembro, a Deadline divulgou que “Glass Onion” poderia ter alcançado uma receita superior a US$ 600 milhões em bilheteira mundial, caso a Netflix tivesse optado por uma exibição prolongada e um esforço de publicidade mais robusto. Esta cifra evidencia o potencial não aproveitado de filmes que, apesar de populares, não são suficientemente promovidos em um ambiente cinemático. Craig e o roteirista e diretor Rian Johnson, que colabora com ele na criação da franquia “Knives Out”, também demonstraram descontentamento com o fato de que obras com grande potencial de sucesso não recebam a atenção que merecem.
Posicionamento da Netflix em relação a mudanças no modelo de lançamento
Recentemente, declarações de Sarandos durante uma reunião com investidores apontaram que essa filosofia não está prevista para mudar a curto prazo. Sarandos reafirmou a dedicação da Netflix a um modelo de negócios que prioriza o conteúdo para streaming, mesmo diante das críticas crescentes provenientes de Hollywood. Essa posição sugere que, embora existam vozes influentes clamando por uma abordagem mais tradicional, a Netflix permanece firme em sua estratégia e visão de como deseja moldar o futuro da distribuição cinematográfica.
O cenário atual ilustra uma bifurcação evidente na indústria do entretenimento, onde as diferentes visões sobre a exibição cinematográfica e o consumo de conteúdos continuam em conflito. Com cineastas e atores levantando a voz em defesa de um cinema que transmita a experiência e o valor dos lançamentos em salas, a busca pela adaptação do modelo de negócios da Netflix pode se intensificar, instigando um debate que poderá moldar o futuro do cinema nos próximos anos. O lançamento de “Wake Up Dead Man”, a sequência de “Knives Out” prevista para 2025, servirá como um termômetro para medir as respostas do público e a mudança de paradigmas que poderia ser necessária para harmonizar as aspirações de criadores e as práticas do gigante do streaming.