Na última quarta-feira, durante uma apresentação no TechCrunch Disrupt 2024, Matt Mullenweg, co-fundador do WordPress e CEO da Automattic, assegurou que não está preocupado com a recente controvérsia legal entre sua empresa e a provedora de hospedagem WordPress, WP Engine. Em contraste, ele afirmou que, com seu histórico, ele “aceitaria” um fork do software open source WordPress. Essa declaração surge em um contexto de crescente tensão que não só implica questões contratuais, mas também levanta um debate amplo sobre a direção futura da comunidade WordPress, além das preocupações acerca da governança e o uso da marca WordPress.
Mullenweg destacou que a possibilidade de um fork não é uma novidade para a história do WordPress, já que a plataforma já passou por cerca de três ou quatro forks desde seu início. “Uma das coisas belas sobre o open source é que pode haver um fork”, disse ele, ao responder uma indagação sobre suas apreensões a respeito disso. Ele foi além, sugerindo que, de certa forma, a WP Engine já havia efetivamente criado um fork, uma vez que a versão que eles operam é “muito, muito diferente” do núcleo atual do WordPress.
O co-fundador do WordPress ainda propôs que, caso o WordPress fosse oficialmente dividido em decorrência desse descontentamento crescente com sua direção e das disputas legais sobre a utilização da marca, isso poderia ser um desfecho benéfico. “Eu acho que isso seria fantástico, na verdade. Assim, as pessoas poderiam ter uma governança alternativa ou uma abordagem diferente”, observou Mullenweg. Essa afirmação, por si só, abre um leque de questionamentos sobre a estrutura da comunidade de desenvolvedores e usuários que compõem todo o ecossistema WordPress.
Ademais, Mullenweg ressaltou que o porte da comunidade do WordPress é suficiente para sustentar um movimento desse tipo. Citou, por exemplo, que a versão mais recente do software, o WordPress 6.7, contará com mais de 600 contribuintes. “Apenas cerca de 10% desses são da Automattic”, revelou ele, indicando que uma quantidade considerável de desenvolvedores externos está disposta a contribuir com o projeto. Ele também mencionou que o núcleo do WordPress já alcançou a impressionante marca de 40 milhões de downloads desde 17 de setembro. “Na verdade, a atividade do WordPress está indo muito bem”, completou Mullenweg, reafirmando a robustez da plataforma.
O contexto que envolve a declaração de Mullenweg é marcado por uma amarga disputa legal com a WP Engine, que provocou descontentamento na comunidade open source e resultou na saída de mais de 150 funcionários da Automattic, que não concordam com a nova direção proposta por Mullenweg. O CEO da Automattic alega que o uso da marca “WP” por parte da WP Engine tem como intuito confundir os usuários, levando-os a pensar que a WP Engine possui alguma associação oficial com o WordPress, o que, segundo ele, não é o caso. Além disso, sugere que a empresa não faz o suficiente para contribuir para o WordPress, uma afirmação com a qual a WP Engine, assim como outras partes, discorda. Como consequência, Mullenweg está requisitando que a WP Engine compartilhe 8% de sua receita, ou o equivalente em termos de horas de engenharia dedicadas ao núcleo do WordPress. “Não é apenas sobre o dinheiro. É realmente sobre … se você vai lucrar com a marca WordPress, precisa fazer parte do ecossistema WordPress”, disse Mullenweg em sua palestra no Disrupt.
Essa não é a primeira vez que Mullenweg sugere que um fork poderia ser uma solução viável para o debate em torno do futuro do WordPress. No início de outubro, ele já havia postado em sua conta em uma rede social que “aceitaria mais forks”. Observou que já existiram forks do WordPress anteriormente e mencionou especificamente a @GetClassicPress, apontando que a WP Engine está basicamente mantendo um fork neste momento, apenas sem renomeá-lo oficialmente. “Eu aceitaria mais forks! É parte do que torna o open source grandioso”, afirmou, ressaltando sua receptividade a diferentes interpretações e caminhos para o desenvolvimento da plataforma.
Assim, estamos diante de um momento decisivo para o WordPress, que transcende meras questões legais e se infiltra nas dinâmicas de governança e colaboração da comunidade. A disposição de Mullenweg em aceitar um fork poderá, em última análise, moldar novos contornos para a plataforma e suas futuras interações dentro do ecossistema de software livre. Desta forma, o que se aproxima pode ser não apenas uma transição, mas uma evolução que busca uma claridade maior em relação aos valores que sustentam um projeto open source que, desde sua criação, impacta milhões de desenvolvedores e usuários ao redor do mundo.