Como a Dottxt facilita a integração da IA nos fluxos de trabalho de empresas
A adoção de inteligência artificial generativa no ambiente corporativo está ocorrendo de forma cautelosa por parte dos CIOs (Chief Information Officers) devido a uma série de fatores, entre os quais se destaca a incompatibilidade dessa tecnologia com os fluxos de trabalho de engenharia de software já estabelecidos. A principal barreira encontrada é que os modelos de linguagem de grande porte, conhecidos como LLMs, não se comunicam na mesma linguagem que os desenvolvedores e, frequentemente, requerem ajustes significativos para produzir saídas válidas, como JSON. Diante desse cenário, a startup americana Dottxt surge com a proposta de transformar a maneira como a inteligência artificial se comunica com as necessidades práticas da programação, prometendo “fazer a IA falar a língua dos computadores”.
A Dottxt é liderada por uma equipe que já estava envolvida no projeto de código aberto conhecido como Outlines, o qual oferece aos desenvolvedores a capacidade de interagir de maneira mais eficiente com modelos de generativa como o ChatGPT, sem precisar recorrer a táticas rudimentares, como o uso de ameaças emocionais em suas solicitações. Essa abordagem inovadora se aproveita de bibliotecas de software como a Outlines, que é uma biblioteca em Python, com o suporte de soluções como Guidance da Microsoft e LMQL (Language Model Query Language). Juntas, essas ferramentas particulam uma nova forma de gerar resultados a partir das LLMs, indo além do simples truque de formato de prompt, utilizando uma abordagem conhecida como geração estruturada. O foco dessa técnica, segundo Rémi Louf, CEO da Dottxt, é otimizar a saída dos modelos de IA, o que verdadeiramente importa para os desenvolvedores, ao invés de apenas se preocupar com a complexidade do que está sendo inserido.
Essa abordagem da Dottxt visa restaurar um fluxo de trabalho tradicional de engenharia, permitindo que a linguagem utilizada para interagir com os modelos de IA seja aprimorada até que se alcance uma resposta precisa. A startup está se posicionando para desenvolver uma solução de geração estruturada robusta, adotando uma postura agnóstica em relação aos modelos utilizados, além de incluir mais funcionalidades e, conforme afirmam, um desempenho superior em comparação com o projeto antes mencionado, Outlines. Rémi Louf, um francês com formação em estatística bayesiana e outros membros da equipe, trazem uma experiência que os capacita a reconhecer o potencial dos métodos de geração estruturada no campo da IA. O entendimento profundo de TI, além do conhecimento teórico em probabilidade, contribuiu para a decisão de fundar uma empresa que visa facilitar a aplicação da inteligência artificial generativa de forma significativa.
A referência de Louf à gramática não é casual; a premissa central da Dottxt é que a maioria dos textos com os quais interagimos cotidianamente é altamente estruturada. Existe o código, mas também uma gama de outros formatos que os LLMs devem ser capazes de seguir para realmente serem úteis em ambientes de trabalho. Em resposta a essa demanda, a OpenAI, criadora do GPT, recentemente lançou um formato de geração estruturada que nomeou de “Saídas Estruturadas”, reconhecendo a influência do Outlines em seu desenvolvimento. Ao observar a popularidade crescente do Outlines, Louf interpreta isso como um sinal de que há uma demanda por uma abordagem flexível que ofereça mais recursos. O respaldo de investidores na Dottxt é evidente, já que a startup levantou US$ 11,9 milhões em questão de meses, realizando uma rodada inicial de pré-seed de US$ 3,2 milhões em 2023, seguida por um seed de US$ 8,7 milhões liderado pela EQT Ventures em agosto.
Aceleração da demanda e planos futuros da Dottxt
Durante o período entre as rodadas de financiamento, Louf e seus cofundadores concentraram-se em demonstrar que a sua abordagem inovadora preserva a eficácia do desempenho. Nesse intervalo, a demanda pela biblioteca de código aberto Outlines disparou, com mais de 2,5 milhões de downloads, o que os encorajou a ampliar suas ambições. O aumento no financiamento se justificou também pela necessidade de ampliar a equipe, que deverá crescer para 17 integrantes até o final do mês, um aumento considerável em relação aos oito funcionários registrados em junho. Entre os novos contratados estão dois profissionais focados em relações com desenvolvedores, uma ação que reflete a prioridade da Dottxt em construir um ecossistema estratégico. Louf destacou que o objetivo nos próximos dezoito meses é acelerar a adoção das ferramentas de geração estruturada, priorizando essa expansão sobre a vertente comercial. Apesar de ter a previsão de início das comercializações nos próximos seis meses, o foco inicial será voltado para clientes empresariais.
Essa estratégia pode ser arriscada se o entusiasmo em torno da inteligência artificial esfriar antes que a Dottxt busque mais recursos, no entanto, a startup acredita que existe uma fundamentação sólida por trás da atual “bolha” de hype em torno da IA generativa. A expectativa é exatamente a de ajudar as empresas a desbloquear o verdadeiro valor da IA em seus processos. O CTO da Hugging Face, Julien Chaumond, um dos investidores da Dottxt, recentemente afirmou que a geração estruturada representa “o futuro dos LLMs”, o que denota a profundidade dessa tendência no segmento de tecnologia GenAI. Através de outros fatores impulsionadores, como o crescimento dos agentes de IA e a ascensão de modelos de IA menores, é provável que a aposta da Dottxt na adoção de suas ferramentas se traduza em sucesso. Louf prevê, com convicção, que “todos utilizarão geração estruturada em alguns anos, disso não há dúvida”.