No campo cinematográfico contemporâneo, a inovação tecnológica tem se mostrado uma ferramenta valiosa para a criação de experiências imersivas e dinâmicas. Nesse contexto, Edward Berger, aclamado vencedor do Oscar, apresenta sua mais recente obra, intitulada “Submerged”. Esse filme é notável por ser o primeiro longa-metragem original realizado em Apple Immersive Video, destinado a ser assistido por meio do dispositivo de realidade mista Apple Vision Pro. Ambientado em um submarino da Segunda Guerra Mundial, o filme não apenas destaca a habilidade técnica de Berger como diretor, mas também levanta questões sobre os limites e possibilidades da narrativa cinematográfica na era digital.

O enredo de “Submerged” nos transporta para as profundezas do oceano, dentro de um submarino repleto de tensão e drama. As limitações físicas do submarino, que são acentuadas por sua estrutura de aço, criam uma sensação de claustrofobia que permeia a experiência do espectador. Em entrevista, Berger expressou sua empolgação ao descobrir as capacidades do Apple Immersive Video, descrevendo a sensação de ver as primeiras filmagens como algo que “explodiu sua mente”. Essa reação imediata o levou a ponderar sobre a confluência de tecnologia e narrativa, questionando como poderiam usar esse meio não apenas para capturar imagens, mas para contar uma história de forma envolvente e única. O diretor, que já havia conquistado o reconhecimento internacional por seu trabalho em “All Quiet On The Western Front”, manifestou seu desejo de experimentar as fronteiras que esse novo formato poderia oferecer.

A construção do set de “Submerged”, que pesava 23 toneladas, foi uma empreitada significativa que levou três semanas, abrangendo locações em Malta, Praga e Bruxelas. Para manter a autenticidade e contribuir para a atmosfera tensa do filme, foram utilizados efeitos visuais limitados, como a inclusão de água real nas filmagens, o que intensificou a adrenalina das cenas. Berger citou sua inspiração em clássicos do gênero como “Das Boot”, mas enfatizou a inovação que a tecnologia de 180 graus poderia trazer para essa narrativa, afirmando que a combinação da tecnologia com o drama enriqueceu a experiência do espectador de maneiras antes inimagináveis.

A percepção do som em “Submerged” é uma faceta igualmente crucial do filme. A tecnologia Vision Pro permite que os sons se irradiem de diversas direções, uma oportunidade que Berger explorou ao máximo. Desde o início do filme, a fusão de um espaço escuro e claustrofóbico com sons sinistros contribui para a construção do enredo. O diretor explicou que “como podemos criar tensão com este meio? Há silêncio, e a distância auditiva, como o ranger do metal submerso no submarino, nos permite guiar a audiência para perto dos protagonistas nesta embarcação”. Ele também mencionou que a ação deve ser entrelaçada com a tensão, criando um contraste que potencializa a experiência do espectador.

Um aspecto inovador da filmagem para o Vision Pro é a capacidade do público de se auto-dirigir em certa medida, permitindo que cada espectador decida para onde olhar, dependendo da sua curiosidade. Essa liberdade de exploração auditiva e visual proporciona uma imersão que se alinha com as expectativas dos consumidores contemporâneos em relação ao entretenimento. Berger ressaltou que a audiência poderia ser atraída por um detalhe à direita ou seguir o movimento de um personagem à esquerda, o que possibilita uma experiência mais personalizada.

“Submerged” encontra-se alinhado com uma tendência crescente de experiências de vídeo imersivas voltadas para o Vision Pro, que foi lançado recentemente. O CEO da Apple, Tim Cook, mencionou em entrevistas anteriores que a empresa está em negociações ativas com cineastas e criadores de conteúdo para desenvolver projetos para esse dispositivo. Embora “Submerged” se destaque como o projeto roteirizado mais ambicioso até agora, outros projetos semelhantes também estão a caminho. Cook disse que as conversas com criadores têm revelado um entusiasmo pela nova narrativa que pode emergir a partir dessa tecnologia, o que evidencia um potencial migratório para novas formas de contar histórias. Ele afirmou que “a narrativa que pode ocorrer nesse formato é impressionante, e é possível que cada vez mais pessoas estejam atraídas por essa inovação”. Nos próximos dias, a Apple deve lançar um curta-metragem filmado durante o NBA All-Star Weekend de 2024 e introduzir uma série chamada “Concert For One”, que promete oferecer uma experiência imersiva em concertos. Além disso, a empresa dará continuidade a sua série de documentários imersivos “Elevated and Adventure”, que tem sido bem recebida pela audiência.

Dessa forma, “Submerged” emerge não apenas como um filme, mas como uma peça de inovação tecnológica e narrativa, que explora e redefine a atuação do cinema num cenário imersivo. A obra de Edward Berger simboliza um marco na evolução do cinema, desafiando os cineastas a se adaptarem e a explorarem as vastas possibilidades que a tecnologia imersiva oferece, criando experiências que não apenas entretêm, mas que também envolvem o público em um nível mais profundo e pessoal.

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