As eleições deste ano nos Estados Unidos estão criando um clima de incerteza que vem pressionando o ambiente de negócios e, por conseguinte, a economia como um todo. Com dois candidatos presidenciais diametralmente opostos nas suas propostas fiscais e regulatórias, o cenário se torna ainda mais complexo. Além disso, o controle do Congresso também está em jogo, o que pode influenciar significativamente a possibilidade de implementação das agendas políticas da Vice-Presidente Kamala Harris e do ex-Presidente Donald Trump. Essa combinação de fatores gerou um dos índices mais altos de incerteza entre pequenos empresários, conforme apurado pela National Federation of Independent Business (NFIB), que realiza uma pesquisa mensal sobre o sentimento empresarial desde 1986.
De acordo com especialistas, esse clima de ansiedade está forçando empresas de diversos tamanhos a adotarem uma postura hesitante, o que pode prejudicar tanto suas finanças quanto a saúde da economia americana como um todo. Resultados de uma pesquisa realizada recentemente pelo Federal Reserve revelaram que quase um terço dos decisores financeiros declarou ter “adiado”, “diminuído”, “delayed indefinitely” ou “cancelado permanentemente” seus planos de investimento, seja a curto ou a longo prazo, devido à incerteza eleitoral. Estes mesmos líderes preveem que o crescimento da receita e do emprego nas suas empresas será inferior ao das empresas cujos investimentos não foram afetados pela eleição.
O panorama apresentado no mais recente relatório trimestral de CFOs dos bancos regionais de Atlanta e Richmond, em colaboração com a Fuqua School of Business da Duke University, abrange uma ampla gama de empresas, desde pequenos negócios até gigantes da lista Fortune 500. Este cenário de incerteza é exemplar no comportamento do mercado, como demonstrado pela terceira queda consecutiva em Wall Street, impulsionada pelo recuo das ações de tecnologia, num momento que antecede a divulgação dos resultados financeiros desse setor. Esta situação revela que a influência do ambiente eleitoral na economia é significativa, com expectativas de um impacto mais duradouro do que em eleições anteriores, conforme apontou Daniel Weitz, diretor da pesquisa no Federal Reserve de Atlanta.
Os dados reunidos na análise do Fed refletem uma realidade onde as incertezas geradas pela eleição estão impactando diretamente decisões empresariais em várias áreas. Por exemplo, a pesquisa do Federal Reserve de Cleveland revelou que algumas indústrias de manufatura estão hesitando em realizar novos pedidos. Construtores comerciais relataram que muitos projetos estavam sendo adiados até após as eleições, indicando uma cautela generalizada. Além disso, um fabricante de têxteis mencionado pelo Federal Reserve de Richmond informou que esperava uma demanda morna por parte dos consumidores, que estavam optando por comprar de forma mais cautelosa diante de uma “período de nervosismo” habitual nas eleições.
A incerteza não se restringe ao setor privado. Líderes de organizações sem fins lucrativos também relataram que suas operações estão sendo afetadas, já que a insegurança econômica e política tem gerado hesitação por parte dos doadores. Esta realidade foi destacada pelo Federal Reserve de Dallas, mostrando que as ramificações da incerteza eleitoral vão além do universo corporativo, atingindo também instâncias que dependem de doações. Brent Meyer, vice-presidente assistente e economista do Federal Reserve de Atlanta, destaca que, em eleições anteriores, as empresas não enfrentaram essas pressões de incerteza dessa magnitude. A diferença agora, conforme ele explica, se deve à entrada tardia de Harris na corrida presidencial e à proximidade nas pesquisas com Trump.
Contudo, embora as empresas estejam enfrentando dificuldades em decorrência da incerteza eleitoral, a expectativa é que essa pressão diminua assim que os rumos da política se tornem mais claros. Se isso ocorrer, poderíamos observar um aumento na contratação e nos investimentos das empresas. Meyer alerta, entretanto, para a necessidade de não se tirar conclusões apressadas sobre a fragilidade econômica atual ou superestimar a solidez esperada no próximo ano.
A escolha eleitoral não é o único fator contribuindo para este ambiente de incertezas. Os empresários estão também lidando com a possibilidade de mudanças nas taxas de juros, que foram reduzidas pelo Federal Reserve no mês passado, bem como com a iminente expiração de algumas disposições importantes da Tax Cuts and Jobs Act de 2017. Holly Wade, diretora executiva do NFIB Research Center, ressalta que essa combinação de incertezas tem moldado as perspectivas dos pequenos empresários. Apesar de alguns esperarem que as taxas de juros fossem reduzidas mais significativamente, a realidade é que a parte dos pequenos empresários que optam por investir está diminuindo, como aponta uma pesquisa do NFIB realizada em setembro, que mostrou que mais empresas estavam “reduzindo estoques do que aumentando”.
A permanência das reduções nas taxas de juros nas próximas reuniões do Federal Reserve pode resultar na diminuição dos custos de empréstimos, o que, por sua vez, poderá reacender os planos de investimento, independentemente de quem tenha sucesso nas eleições. Em suma, o cenário eleitoral, enquanto uma exponencial ligadura de incertezas, exige cautela na leitura do mercado, com um foco equilibrado nas potenciais oportunidades e riscos que se desenrolam no horizonte econômico.