Uma escultura monumental na cidade de Nova York destaca a importância cultural das aves urbanas

Em um projeto inovador que combina arte e uma reflexão crítica sobre a presença de pombos nas cidades, o artista Iván Argote apresenta sua escultura intitulada “Dinosaur”, que é uma representação de um pombo de 17 pés de altura e feita de alumínio com peso de duas toneladas. Esta imponente obra ficará exposta na High Line, uma famosa área elevada de parques e espaços públicos em Nova York, por um período de um ano e meio. A obra provoca questionamentos sobre a relação entre os seres humanos e as aves urbanas, uma vez que o artista propõe uma inversão de papéis ao sugerir que, talvez, sejamos nós, os humanos, quem nos sentamos em um lugar inferior na hierarquia da natureza.

Argote, comentando sobre sua criação, menciona que “pombos e aves, como as conhecemos, são o que resta dos dinossauros” e que o objetivo da escultura é oferecer uma nova perspectiva de um monumento que não homenageia figuras históricas humanas ou conquistas bélicas, mas sim um animal que esteve ao nosso lado por um tempo imemorial. Ele busca, assim, dar aos pombos o que ele considera um merecido “tratamento de herói”. Esta proposta, entretanto, suscita reações mistas entre o público, que por muito tempo teve uma visão ambivalente sobre esses animais considerados como pragas em ambientes urbanos.

Pombos e a percepção social: entre a conquista e o desprezo

O artista reconhece que a percepção sobre os pombos é polarizada: “As pessoas ou os amam ou os odeiam, mas, de qualquer forma, é um animal icônico de Nova York”. Essa dualidade de sentimentos em relação aos pombos não é algo exclusivo de Nova York, pois, recentemente, o Museu de Londres também fez uma homenagem aos pombos ao redesignar seu logotipo, que agora apresenta um pombo e seus excrementos como uma representação das dualidades da cidade. Essa mudança gerou polêmica e debates sobre as máscaras que a cidade usa para se esconder de realidades que a cercam.

Rita McMahon, fundadora do Wild Bird Fund, um centro de reabilitação de vida selvagem em Nova York, apresenta uma perspectiva interessante sobre a visão negativa que muitos têm em relação aos pombos. Segundo ela, a falta de entendimento sobre esses animais é um dos principais motivos para essa aversão. McMahon relata que, em décadas passadas, um ex-comissário do Parque de Nova York se referiu a eles como “ratos com asas”, uma definição que, segundo ela, pegou. A história dos pombos remonta aos colonizadores europeus que os trouxeram para os Estados Unidos para servirem como alimento, e muitos deles acabaram se tornando selvagens. À medida que as cidades se expandiam com prédios altos, esses pássaros, habituados a habitar falésias, encontraram um novo lar nas alturas urbanas.

A importância histórica e as contribuições notáveis dos pombos em conflitos mundiais

Durante ambas as Guerras Mundiais, os pombos se tornaram aliados indispensáveis das tropas devido à sua incrível capacidade visual e habilidade de retorno. McMahon explica que os paraquedistas os levavam nos saltos e, posteriormente, usavam essas aves para enviar mensagens vitais durante os combates. “Os pombos reconhecem marcos e se lembram de pessoas”, revela ela. Muitas dessas aves conquistaram medalhas de honra por suas ações heroicas, recebendo mais distinções por salvar vidas do que qualquer outro animal. Conforme McMahon, os pombos também se destacam em testes de inteligência visual, sendo capazes de reconhecer palavras e discernir entre letras que não se combinam de forma coerente.

A interação das pessoas com os pombos nas cidades frequentemente fornece uma das únicas ocasiões em que elas entram em contato com a vida selvagem. “Se conseguimos fazer com que as pessoas olhem e compreendam os pombos, isso se torna a porta de entrada para enxergar mais da natureza”, completa McMahon. No centro de reabilitação Wild Bird Fund, mais de 12 mil aves são atendidas anualmente, sendo que mais da metade delas são pombos, incluindo filhotes. Para aqueles que não podem ser reintroduzidos à natureza, algumas acabam sendo adotadas por voluntários, como ocorreu com Ghob, uma pombo que vive com Jeffrey Jones, um fotógrafo de alta moda. Jones se comprometeu a cuidar dela após notar que ela parecia deprimida e não reagia bem após a reabilitação.

Um novo lar e cuidados afetivos

Ghob, descrita como “uma pombo de estimação” por Jones, traz uma nova perspectiva sobre os pombos que costumavam ser malvistos. Ele compartilha que ela desfruta de passar o tempo em casa, gostando de assistir televisão, em particular obras do renomado cineasta Akira Kurosawa, evidenciando que esse animal possui um gosto refinado. Para Jones, a experiência de cuidar de Ghob se tornou tão marcante que ele se define agora como “casado com pombos”, uma expressão que sublinha o apego afetivo e a convivência inusitada entre um humano e uma ave que, considerada normalmente, seria vista como parte do cenário urbano sem valor. Ghob, que pode viver até 15 anos, representa uma mudança na percepção que muitos ainda têm sobre os pombos, mostrando que, sob sua plumagem e jeito peculiar, eles são criaturas complexas com suas próprias histórias e personalidades.

Este projeto artístico de Iván Argote e as histórias como a de Ghob e Jones visam não apenas desafiar os conceitos pré-estabelecidos sobre pombos, mas também ampliar a compreensão sobre o papel desses animais na vida urbana. Ao transformar a escultura de um pombo em uma representação monumental, a iniciativa convida os nova-iorquinos a reconsiderar a importância das aves em seu cotidiano e a enriquecer sua relação com a vida selvagem que os circunda. Assim, a arte se torna um veículo poderoso para promover diálogo e reflexão sobre como vemos e vivemos a cidade, propondo que o sagrado e o profano podem coexistir em harmonia.

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