A diferença entre comédia e drama: uma discussão atemporal

A categorização de séries de televisão em gêneros como “comédia” e “drama” sempre gerou debates acalorados, especialmente em épocas de premiações. As distinções, muitas vezes, parecem superficiais, exceto pelo impacto que podem ter nas cerimônias de entrega de prêmios, onde uma classificação errônea pode significar a diferença entre um eloquente discurso de agradecimento e a amarga decepção de ser esquecido. Este dilema se destacou mais uma vez quando a série The Bear conquistou impressionantes 23 indicações ao Emmy, quebrando o recorde anteriormente estabelecido pela série 30 Rock para uma comédia em uma única temporada. Historicamente, o gênero de comédia foi dominado por sitcoms icônicas, como Frasier, que ostenta o recorde de mais prêmios Emmy em todos os tempos, seguido de perto por The Mary Tyler Moore Show e Cheers. Entretanto, a aceitação de The Bear como uma obra-prima televisiva também gerou questionamentos sobre o que realmente define uma comédia, especialmente diante de sua eventual perda para Hacks na categoria de melhor comédia, o que para muitos foi um reflexo das novas definições de gênero.

A opinião de quem faz a televisão

No decorrer das discussões sobre a essência do que torna uma série uma comédia, ninguém melhor para opinar sobre isso do que aqueles que realmente criam essas obras. Ao se conectar com uma seleção dos melhores escritores e produtores de televisão, um leque de respostas emergiu em relação à pergunta: “O que caracteriza uma comédia?” Algumas respostas mais leves merecem destaque, como a afirmação direta de que uma comédia deve “ser engraçada”. Contudo, para muitos, essa questão vai muito além de um simples riso. O showrunner de The Old Man, Jonathan E. Steinberg, destacou a confusão atual em perceber o que define uma comédia e o que caracteriza um drama, refletindo sobre como a televisão evoluiu. Tradicionalmente, dramas eram programas de uma hora, enquanto as comédias tinham metade desse tempo, mas essa distinção perdeu relevância após a Academia de Televisão interromper a consideração do tempo de execução nas categorizações em 2021. Esse fato levou alguns como Julio Torres, criador de Fantasmas, a sugerir que o tempo de execução seja a única base para categorizar as produções, desconsiderando rótulos de comédia e drama.

Respostas criativas e reflexões profundas

A resposta à indagação sobre a essência da comédia se desdobrou em uma diversidade de perspectivas. Lucia Aniello, de Hacks, comentou que a série deve passar no teste de Bechdel, enquanto Jenna Lamia, de The Perfect Couple, sustenta que deve haver pelo menos uma cena em que um personagem ouve algo através de uma porta e compreende de maneira errada. A narrativa continua com Issa Lopez de True Detective: Night Country, que afirma que a combinação da dor moral aguda com momentos divertidos, mesmo que não sejam gargalhadas incontroláveis, são componentes essenciais. Outro ponto de vista interessante foi destacado por J.D. Payne de The Rings of Power, que refletiu sobre a ideia de que, se acreditarmos em Aristóteles, os personagens em uma comédia se comportam de maneira pior do que as pessoas na vida real, mas surpreendentemente, seus desatinos não causam danos permanentes, levando a finais felizes, o que é um aspecto clássico da comédia.

Um ponto que muita gente fez questão de ressaltar é que as comédias também precisam arriscar ofensas, como opina Matthew Read de The Gentlemen, enquanto John Hoffman, de Only Murders in the Building, trouxe um toque humorístico ao afirmar que precisa-se atingir precisamente 9,4 risadas por minuto; menos que isso se tornaria um drama, e mais seria apenas uma palhaçada. Unindo-se a esse coro, Soo Hugh, de Pachinko, mencionou que a comédia deve proporcionar um alívio, fazendo-nos felizes por não sermos os personagens envolvidos nas situações. Há ainda o olhar provocativo de Natasha Rothwell de How to Die Alone, que conceitua a comédia como um espaço onde a verdade é apresentada de maneira mais rápida e direta do que estamos acostumados.

Paradoxalmente, Eric Newman de Griselda destaca que a comédia, em sua essência, deve fazer a plateia rir sem necessitar assistir a outra comédia para aliviar a ansiedade provocada por ela. Nesse sentido, Graham Wagner de Fallout expôs uma visão interessante, ressaltando que a comédia deve estar em sintonia com as expectativas do público em relação ao gênero, que, segundo ele, não deve ser transgressor nem inesperado, e sim obedecer a um conjunto de regras que, muitas vezes, é ditado por figuras que têm um visual jovial. Em contrapartida, Seth MacFarlane de Ted trouxe um alívio cômico a esta troca de ideias, quando sugeriu que uma comédia poderia, simplesmente, ser um drama sobre chefs irritados.

Com essa ampla gama de respostas, o que se evidencia é que a definição do que realmente torna uma série uma comédia é um desafio em constante evolução, impulsionado pela inovação e pela diversidade de vozes que compõem esse gênero. À medida que a televisão continua a se transformar e a quebrar convenções, talvez o mais importante não seja como categorizamos as produções, mas sim como elas nos fazem sentir, tocar e refletir sobre a vida. Portanto, da próxima vez que você se sentar para assistir a uma série de comédia, lembre-se de que pode haver mais do que risos nas entrelinhas. Além disso, quem sabe você não descobre uma nova perspetiva do que é realmente engraçado?

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