No embalo das repercussões da violação do Capitólio, ocorrida em 6 de janeiro de 2021, numerosos conservadores e republicanos se distanciaram do então presidente Donald Trump, apontando para a responsabilidade que ele teria sobre a violência vivida naquele dia. Entre essas vozes que se manifestaram, destaca-se Chris LaCivita, atual gerente de campanha de Trump. Em publicações reexibidas na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, LaCivita chamou a incidentes ocorridos no Capitólio de “insurreição” e atribuiu a motivação das ações violentas às mentiras infundadas sobre a eleição propagadas por Trump. Embora algumas dessas postagens tenham sido posteriormente apagadas do perfil de LaCivita, a CNN conseguiu acessá-las através do Internet Archive WayBack Machine, que arquiva páginas da web.

Repetindo comentários indignados, LaCivita demonstrou, nas redes sociais, o quão longe chegaram até mesmo alguns dos mais próximos aliados de Trump em reconhecer as consequências fatais geradas pelas alegações fabricadas sobre o resultado das eleições. Por exemplo, na mesma data, ele fez reposts de mensagens que condenavam as ações tomadas, notadamente uma declaração do ex-presidente George W. Bush, que expressou “descrença e consternação” após o ataque violento ao Capitólio, descrevendo a cena como “deprimente e angustiante”. A declaração de Bush, que circulou amplamente nas redes sociais, enfatizava a reprovação a um comportamento político irresponsável que seguiu ao pleito eleitoral, arrematando que a “assalto violento ao Capitólio – e a interrupção de uma reunião constitucionalmente mandatada do Congresso – foi realizado por pessoas cujas paixões foram inflamadas por mentiras e falsas esperanças”. Essa postagem notável foi removida do perfil de LaCivita posteriormente.

Até mesmo um vídeo, que apresenta uma gravação das atividades do gerente de campanha em 6 de janeiro, revela mensagens que ele “curtiu”, incluindo uma delas da ex-representante republicana Barbara Comstock, da Virgínia, que clamava pela remoção de Trump através da 25ª Emenda. “O Twitter suspendeu o @realDonaldTrump por 12 horas. Agora, o gabinete precisa restringi-lo por mais 14 dias. #25thAmendmentNow”, dizia Comstock em uma mensagem compartilhada na noite do ataque. Embora a plataforma tenha removido a opção de visualizar curtidas, um usuário que teve seu tweet curtido por LaCivita confirmou à CNN que sua postagem realmente foi apreciada no dia fatídico.

A 25ª Emenda ao Constitution permite que o vice-presidente e a maioria do gabinete declarem o presidente inapto para o cargo, transferindo temporariamente o poder ao vice-presidente. Na sequência das polêmicas surgidas devido às declarações e ações tomadas pela atual administração de Trump, outra postagem compartilhada por LaCivita continha uma mensagem incisiva de um assessor do Senado republicano, onde este expressou que “isto é uma tragédia repugnante. Alguém literalmente perdeu a vida por causa de uma mentira que Trump contou, a qual Cruz/Hawley capitalizaram e a mídia marginal ecoou. Isso não é sustentável de forma alguma.” Além disso, LaCivita veiculou um comentário que referia-se aos invasores do Capitólio como “vândalos”, em resposta a um tweet que classificava os “protestantes pró-Trump” encarcerados, após sua violação à assembléia do Congresso que se reunia para certificar a vitória do presidente eleito Joe Biden.

Chris LaCivita, co-gerente da campanha de Trump, analisou as repercussões relativas às suas postagens quando abordado por repórteres antes de um comício de campanha em New Hampshire, em dezembro de 2023. Os comentários na mídia social de LaCivita são relevantes, considerando que Trump, nos meses finais da campanha, tem buscado reverter a narrativa em relação aos eventos de 6 de janeiro. O ex-presidente tem promovido teorias da conspiração infundadas, sugerindo que a motim foi um ato interno perpetrado pelo governo federal. Em conversas com seus apoiadores, Trump qualificou o dia como de “amor e paz”, indo mais longe ao prometer que, se reelegido, perdoará aqueles condenados por atos violentos no dia da insurreição.

No último mês, em um evento da Univision, Trump defendeu as ações de seus apoiadores, argumentando que eles agiram da maneira que entenderam ser correta, tendo em visto a crença de que a eleição tinha sido “fraudada”. Ele prosseguiu, distorcendo a narrativa ao afirmar que “foi um dia de amor do ponto de vista dos milhões”. No Truth Social, Trump também fez outra postagem afirmando que 6 de janeiro foi “o dia em que o governo encenou um motim”. Essa narrativa de que a invasão do Capitólio foi um evento encenado pelo governo tem sido amplamente desacreditada como infundada.

LaCivita, um veterano estrategista político republicano, tem consolidado sua carreira na gestão de campanhas de alto nível, tanto em Virginia como no cenário nacional. Desde 2023, ocupa o papel de co-gerente de campanha para a terceira candidatura à presidência de Donald Trump, atuando em parceria com a experiente operadora política Susie Wiles. A notoriedade de LaCivita emergiu durante a eleição presidencial de 2004, quando ele se destacou em um esforço para minar a credibilidade do então candidato democrata John Kerry através da campanha Swift Boat Veterans for Truth.

As postagens de Chris LaCivita nos dias seguintes aos eventos de 6 de janeiro demonstram uma tensão na narrativa em desenvolvimento sobre o ocorrido, fornecendo um contraste intrigante em relação ao que a administração atual tentará promover à medida que a eleição avança. Se há algo que esta saga nos ensina, é que o passado, muitas vezes, encontra maneiras surpreendentes de ressurgir nas discussões que se seguem a eventos marcantes da política americana. O futuro da campanha de Trump pode depender da maneira como esses registros históricos serão reinterpretados pelos seus estrategistas e apoiadores na busca pela reeleição.

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