Nos dias atuais, o uso de smartphones e aplicativos de navegação se tornou uma prática comum e rotineira para a maioria das pessoas. Contudo, para indivíduos com deficiência visual, essa conveniência pode não estar ao alcance imediato. Foi neste contexto que a Haptic, uma empresa que desenvolve soluções de navegação não visual e não verbal, decidiu ampliar sua atuação e levar sua tecnologia para o mundo todo. Recentemente, durante o evento TechCrunch Disrupt 2024, a Haptic apresentou um resumo de seu progresso, desde o conceito inicial até o protótipo e a plataforma atual.
A Haptic iniciou suas atividades em 2017, impulsionada por uma situação pessoal envolvendo um amigo que perdeu a visão em um acidente. Esse evento motivou um grupo de colegas a explorar formas inovadoras de facilitar a navegação sem depender de pistas visuais ou auditivas. Embora existam diversas opções de leitura de tela e direções faladas nos aplicativos, essas soluções nem sempre são práticas ou acessíveis. O cofundador e diretor de negócios da Haptic, Enzo Caruso, destacou que existem outras interfaces que poderiam ser utilizadas além das tradicionais. Para ele, o tato se destaca: “Por que não receber informações de maneira mais robusta, intuitiva e acessível? Todo mundo pode entender a sensação do toque. É global, é mundial, é universal”, afirmou.
A inovação desenvolvida pela Haptic – que já possui patente – consiste em utilizar vibrações e outras sensações táteis para transmitir a ideia simples e intuitiva de que o usuário está seguindo a direção correta. O dispositivo comunica-se com o usuário por meio de pulsos: uma vibração constante indica que tudo está certo, enquanto uma aceleração na frequência alerta sobre uma possível mudança de rota. A Haptic denomina essa abordagem de “corredor háptico”. Embora pareça difícil de imaginar, a empresa garante que essa forma de comunicação é intuitiva e pode ser compreendida em apenas alguns segundos.
As vantagens dessa abordagem são numerosas: a tecnologia pode ser aplicada em qualquer idioma, não exige hardware especial e pode direcionar uma pessoa por calçadas movimentadas, paisagens abertas e até mesmo dentro de edifícios (embora esta funcionalidade ainda esteja em desenvolvimento). Inicialmente, o corredor háptico era comunicado através de um dispositivo portátil desenvolvido pela própria Haptic, mas a empresa rapidamente percebeu os avanços do mercado. “A tecnologia avança enquanto você avança – e os smartwatches melhoraram. Então, você quer competir com gigantes como Google e Apple… ou prefere tê-los como aliados? Você pode transformar seu SDK de milhares de usuários em bilhões de usuários”, acrescentou Caruso.
O CEO e cofundador, Kevin Yoo, explicou que este ano representou uma mudança fundamental na estratégia da empresa, que passou de uma fase de validação do produto para uma busca ativa por disseminação. Afirmou que uma parceria com empresas como Google ou Uber seria um salto significativo nesse sentido. Ele convocou a imaginação do público, sugerindo situações cotidianas em que essa tecnologia poderia ser útil: “Imagine não precisar tirar seu telefone do bolso para se dirigir diretamente ao seu Uber no aeroporto ou encontrar o caminho através de um local movimentado apenas pela pulsação do seu smartwatch”. Essa inovação não seria benéfica apenas para pessoas com deficiências visuais, mas poderia se tornar uma ferramenta útil para todos.
Yoo enfatizou que as grandes corporações, como Google e Apple, assim como empresas de telecomunicações e serviços de carona, estão convergindo para um terreno comum. A Haptic, aliando as capacidades de smartwatches e smartphones de última geração a uma nova abordagem de software focada em “localização hiper-precisa”, visa introduzir navegação interna e integração com outros serviços. Atualmente, a Haptic já mantém parcerias com empresas como Waymap, Cooley, WID e Infinite Access e está em conversações com diversas outras.
Recentemente, a Haptic conquistou um contrato de um milhão de dólares com a Aira, um aplicativo que permite a pessoas com deficiência visual receber assistência ao vivo de um acompanhante vidente por meio de seus telefones. A navegação tátil irá reduzir a necessidade de que o assistente forneça direções passo a passo, uma vez que poderá simplesmente marcar pontos no mapa ou oferecer outros serviços de apoio. Essa abordagem, e o fato de não monetizar seu próprio aplicativo, são as formas escolhidas por Yoo para gerar receita: “Temos um aplicativo gratuito disponível para o mundo, com operação em 31 países atualmente… e contamos com um modelo de licenciamento e integração — que é o nosso negócio”. A Haptic está atualmente em fase de captação de recursos e almeja fechar uma rodada de investimentos que possibilite a busca por parceiros maiores, como Uber e T-Mobile, com seriedade e comprometimento.