Em um ato comovente que mistura a ciência com a emoção da despedida, as cinzas do renomado cientista Peter Dodge foram lançadas no olho do furacão Milton, que atingiu as costas da Flórida. Este tributo ao longo trabalho de Dodge na Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) destacou não apenas sua carreira impressionante, mas também a paixão que ele tinha por explorar os fenômenos naturais. A cerimônia ocorreu em 8 de outubro de 2024, cerca de 24 horas antes de Milton tocar terra em Siesta Key, uma charmosa localidade próxima a Sarasota, na Flórida, atraindo a atenção da comunidade científica e da mídia mundial.
Peter Dodge, um especialista radar e pesquisador respeitado, dedicou 44 anos de sua vida ao serviço federal. Em sua carreira, ele realizou quase 400 voos diretos ao olho de furacões, em busca de dados que pudessem melhorar a compreensão e a previsão destes monstros da natureza. Segundo sua irmã, Shelley Dodge, a ideia de lançar suas cinzas no olho do furacão era um desejo que foi finalmente atendido pela NOAA, simbolizando tanto a busca pela ciência quanto o amor da família pelo falecido. “Ele amava esse aspecto do trabalho dele”, comentou Shelley, refletindo sobre as complexidades da situação, já que um furacão pode causar destruição e sofrimento. Um diário de bordo da missão, que documenta informações cruciais como posição e velocidade do vento, terminou com uma referência ao 387º e último voo de Dodge.
Dodge faleceu em março de 2023, aos 72 anos, em decorrência de complicações advindas de uma queda e um acidente vascular cerebral. Sua longa e distinta carreira foi pontuada por inúmeras conquistas, incluindo prêmios por seu trabalho em tecnologia radar, especialmente a que foi utilizada para estudar os ventos devastadores do furacão Katrina em 2005. Em 1989, ele era membro da equipe a bordo de um voo de reconhecimento que enfrentou turbulências severas durante o furacão Hugo, onde um dos motores do avião pegou fogo. “Eles quase não conseguiram sair do olho”, recordou Shelley, relembrando o perigo que seu irmão frequentemente enfrentava em nome da ciência e da segurança pública.
O cientista possuía um interesse especial por ciclones tropicais, conforme destacou um boletim da NOAA publicado em março de 2023, que lamentava sua perda trágica e repentina. Durante suas missões aéreas em furacões, Peter desempenhou um papel vital como cientista de radar a bordo, conduzindo análises que possibilitaram o avanço do entendimento sobre esses fenômenos climáticos. Ele se tornou um especialista reconhecido em processamento de dados de radar, recebendo vários prêmios ao longo de sua trajetória, incluindo a Medalha de Bronze do Departamento de Comércio e prêmios da NOAA.
Suas cinzas foram colocadas em uma embalagem que levava símbolos significativos, como a bandeira do Nepal, país onde ele atuou como voluntário do Corpo da Paz, ensinando matemática e ciências antes de se tornar meteorologista. Este ato não apenas reverberou a sua contribuição científica, permitindo que sua memória transcendesse a vida, mas também veio a ser um momento de reconexão espiritual com a natureza, com sua paixão por estudos meteorológicos que o definiu ao longo de sua carreira. Michael Lowry, um especialista em furacões, compartilhou uma foto nas redes sociais mostrando a nota do diário da NOAA onde foram registradas as circunstâncias do lançamento das cinzas, descrevendo-a como uma “belíssima homenagem.”
Além de suas contribuições científicas, o legado de Dodge se estende à sua vida pessoal. Ele era um entusiasta da jardinagem, com uma particular apreciação pelo bambu, além de praticante do Aikido. Sua curiosidade intelectual, segundo sua irmã, permanecia inabalável mesmo após a perda progressiva da visão, uma demonstração de sua resiliência e determinação. O momento de lançamento das cinzas no furacão Milton não apenas oferece uma última homenagem ao trabalho de Dane, mas também serve como um lembrete do impacto que uma vida dedicada à ciência e à descoberta pode ter sobre o mundo ao nosso redor. O furacão que leva seu nome, Milton, agora é lembrado como um agente de despedida para um cientista que pesou cada tempestade em sua longa trajetória, fazendo história na ciência climatológica.