A região do permafrost, localizada nas áreas mais ao norte do planeta, que inclui partes do Alasca, Canadá e Sibéria, tem atraído a atenção dos cientistas devido à sua função crítica no ciclo do carbono da Terra. Um novo estudo, coautorado por especialistas da NASA, revela como este solo congelado, que há milênios guarda carbono, está agora contribuindo para as emissões de gases do efeito estufa, à medida que o Ártico se aquece. Essa pesquisa põe em destaque um cenário que muda rapidamente e que pode ter implicações significativas para o clima global.
O permafrost, que se refere ao solo que permanece congelado por períodos que variam de dois anos a centenas de milhares de anos, contém uma riqueza de carbono armazenado. Estima-se que esta área armazene o dobro do carbono que encontra-se atualmente na atmosfera, totalizando centenas de bilhões de toneladas. Com o aumento das temperaturas globais, a dinâmica dos gases do efeito estufa na região está se alterando de forma alarmante. Entre 2000 e 2020, embora o solo tenha absorvido carbono, as emissões de carbono geradas durante este período foram quase equivalentes, transformando o permafrost em uma fonte líquida de gases do efeito estufa, em vez de um sumidouro de carbono. O estudioso Abhishek Chatterjee da NASA apontou que as mudanças climáticas estão alterando a capacidade do permafrost de armazenar carbono, fazendo com que ele atue como uma fonte de emissões.
Os pesquisadores descobriram que a mudança climática não apenas aquece a região, mas também afeta a estrutura do solo, contribuindo para o derretimento do permafrost. À medida que ele derrete, organismos microscópicos que antes permaneceram inativos se tornam ativos, decompondo a matéria orgânica e liberando grandes quantidades de dióxido de carbono e metano na atmosfera. Enquanto o metano é um gás de efeito estufa que é eficaz em reter calor, sendo cerca de 28 vezes mais potente que o dióxido de carbono em um período de 100 anos, sua vida útil é curta, durando aproximadamente 10 anos, antes de se decompor. Isso adiciona uma camada de complexidade à forma como avaliamos os impactos ambientais a curto e longo prazo desta dinâmica.
A nova pesquisa foi parte do esforço RECCAP-2 do Global Carbon Project, que visa avaliar o equilíbrio de carbono regional a cada poucos anos. Os cientistas empregaram métodos diferentes para medir as emissões dos gases do efeito estufa, incluindo abordagens de cima para baixo, que utilizam dados de satélite, e de baixo para cima, que incluem medições diretas e modelos de ecossistemas. As descobertas mostram que, apesar de uma leve absorção líquida de carbono nas florestas do permafrost, essa capacidade foi amplamente anulada pelas emissões provenientes de lagos, rios e incêndios florestais. Os lagos e áreas alagadas se revelaram fontes significativas de metano durante este período.
Como resultado, os pesquisadores indicam que o cenário dos gases do efeito estufa na região do permafrost apresentava uma tendência preocupante, contribuindo para o aquecimento do planeta. No entanto, ao considerar uma janela temporal de 100 anos, as emissões de gases e sua absorção tendem a se equilibrar, tornando a região um local de transição de ser um sumidouro de carbono a uma fonte fraca de emissões. Essa incerteza é exacerbada por eventos extremos como incêndios florestais e ondas de calor, que podem influenciar as projeções futuras e a evolução do clima.
Portanto, a pesquisa destaca a complexidade das interações entre o clima e o permafrost, ressaltando a necessidade urgente de monitoramento contínuo para entender os impactos globais potenciais de suas mudanças. As descobertas não apenas alertam para um novo horizonte sobre os efeitos das mudanças climáticas, mas também revelam as vulnerabilidades das áreas mais sensíveis da Terra, que enfrentam mudanças rápidas e severas. A pesquisa avança a conscientização sobre como a localização e a medição das emissões nos confins do planeta são essenciais para que possamos lutar contra as alterações climáticas e garantir um futuro sustentável para a Terra.