Em um mundo onde a dependência de produtos químicos é palpável, a amônia é um jogador fundamental. Embora sua presença possa trazer à mente odores desagradáveis, sua importância como fertilizante e em diversas indústrias é inegável. Contudo, a forma como a amônia é atualmente produzida levanta sérias preocupações ambientais. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a produção de amônia, amplamente dependente de combustíveis fósseis, é responsável por mais de 450 milhões de toneladas de dióxido de carbono lançadas anualmente na atmosfera, representando cerca de 2% das emissões globais de gases do efeito estufa. Se olharmos para o ideal, seria possível transformar esse cenário, e uma startup inovadora está se esforçando para fazer exatamente isso.

A produção convencional de amônia é dominada pelo processo Haber-Bosch, uma técnica aperfeiçoada ao longo de mais de um século. No entanto, a NitroFix, uma startup que se destacou como finalista na competição Startup Battlefield da TechCrunch Disrupt 2024, acredita ter encontrado uma alternativa viável que pode desafiar esse status quo. Em vez de seguir o longo caminho tradicional, a NitroFix transforma água e ar em amônia através de um dispositivo conhecido como eletrólito, simplificando as etapas envolvidas na produção desse composto vital. O cofundador e CEO da empresa, Ophira Melamed, destaca que, apesar de não serem os primeiros a explorar essa técnica, um composto proprietário que a empresa utiliza confere uma vantagem competitiva.

Uma das principais vantagens do catalisador usado pela NitroFix é que ele opera submerso em água, algo considerado inusitado para esse tipo de reação. Isso significa que a produção de hidrogênio e a fabricação de amônia ocorrem no mesmo recipiente, ao contrário de outros métodos que exigem a separação da água para gerar hidrogênio, um passo que adiciona custo e complexidade ao processo. “Não há etapa adicional na produção de hidrogênio”, explica Melamed, enfatizando a eficiência de sua tecnologia inovadora. Essa eficiência é ainda mais notável, pois a NitroFix licenciou a tecnologia central do Instituto Weizmann em Israel, onde uma versão inicial do processo foi desenvolvida e agora aprimorada para uso industrial.

Atualmente, o catalisador, que antes funcionava como um pó suspenso em água no laboratório, foi adaptado para fixação em um painel de aproximadamente um metro quadrado. Nesse contexto, a startup foca em refinar a parte do eletrólito conhecida como cátodo. “Existem eletrólitos comuns que já estão no mercado produzindo hidrogênio”, relata Melamed. “Nosso foco é na performance do cátodo, que consideramos o coração da tecnologia”. Para maximizar essa eficiência, a NitroFix planeja colaborar com outra empresa na produção de eletrólitos completos, visando resultados mais consistentes e profícuos.

Outra característica relevante é a eficiência de energia do processo da NitroFix. A startup alega que é capaz de produzir uma tonelada métrica de amônia utilizando cerca de nove megawatts-hora de eletricidade, equivalente ao processo Haber-Bosch eletrificado. No entanto, a operação de outras partes da planta aumenta a demanda total de energia para aproximadamente dez megawatts-hora. Melamed observa que, enquanto o processo Haber-Bosch é um sistema há mais de 100 anos, a equipe da NitroFix está ciente da necessidade de melhorar a eficiência ao longo do tempo, estabelecendo metas ambiciosas para suas operações futuras.

O apetite do mercado por soluções sustentáveis e eficientes levou a NitroFix a arrecadar US$ 3,1 milhões em 2023 em uma rodada de investimento. A Clean Energy Ventures liderou essa nova fase, com a participação de High House Investments, SOSV, UM6P Ventures e Zero Carbon Capital. O foco dessa nova injeção de capital será direcionado a empresas localizadas em regiões onde o custo do gás natural é alto, o que encarece a produção de amônia. Além disso, indústrias como farmacêuticas e fabricantes de alimentos, que preferem a produção in loco para evitar interrupções na cadeia de suprimentos, são também um alvo estratégico para a startup.

Segundo Melamed, a necessidade atual de amônia gira em torno de 200 milhões de toneladas, estimando-se que esse número subirá para cerca de 700 milhões de toneladas até 2050. Isso sugere que novas instalações de produção serão necessárias em um futuro próximo. Com a utilização de eletrólitos, as unidades de produção da NitroFix são significativamente menores do que as mega-fábricas que utilizam o processo Haber-Bosch. “A ideia é termos unidades de produção menores que poderão ser localizadas em diferentes partes do mundo, próximas aonde são realmente necessárias”, conclui Melamed, delineando uma visão inovadora para o futuro da produção de amônia.

Em suma, a trajetória da NitroFix ilustra uma promissora revolução na indústria da amônia, apresentando não apenas uma alternativa viável ao método tradicional de produção, mas também uma solução potencialmente sustentável que pode levar a uma significativa redução nas emissões de carbono. O futuro da produção de amônia pode não ser tão malcheiroso quanto se pensava, desde que empresas inovadoras continuem a emerge e desafiar a norma estabelecida.

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