Mais de 100 jogadoras de futebol feminino, atuais e ex-atletas, deram voz a um apelo significativo, pedindo à FIFA que encerre seu acordo de patrocínio com a Aramco, a gigante petrolífera saudita. Esta solicitação surge em um momento delicado, uma vez que o futebol feminino continua lutando por reconhecimento e igualdade em um cenário repleto de desafios sociais e políticos. O que poderia ser um acordo favorável ao crescimento do esporte se transforma rapidamente em uma fonte de controvérsia e preocupação, especialmente considerando o histórico de direitos humanos da Arábia Saudita.
Acordo de patrocínio e suas implicações para o futebol feminino
Em abril deste ano, a FIFA anunciou que firmou um contrato de parceria global com a Aramco por um período de quatro anos, concedendo à empresa direitos de patrocínio para a Copa do Mundo masculina de 2026 e a Copa do Mundo feminina de 2027. Essa decisão não só pegou muitas jogadoras de surpresa, mas também foi considerada um “soco no estômago” para o futebol feminino, como mencionado na carta aberta publicada pelo grupo de defesa Athletes of the World. Entre as signatárias da carta, destacam-se jogadoras de renome, como a atacante do Manchester City, Vivianne Miedema, e a ex-capitã da seleção dos Estados Unidos, Becky Sauerbrunn.
Os atletas enfatizam que, enquanto a Arábia Saudita busca projetar uma imagem positiva através do esporte, o regime continua a infringir direitos fundamentais de seus cidadãos, especialmente das mulheres e da comunidade LGBTQ+. A carta expressa uma preocupação profunda com a inclusão e a representação no esporte, questionando como seria possível para jogadores LGBTQ+ apoiar a Aramco durante a Copa do Mundo, quando o país onde a empresa é baseada criminaliza suas identidades.
Desafios éticos da parceria entre FIFA e Aramco
Ao manter uma parceria com a Aramco, a FIFA se vê em uma posição ética desafiadora. Como bem destacou Miedema, a responsabilidade dos jogadores vai além do campo – trata-se de moldar uma visão para as próximas gerações que priorize valores de igualdade e respeito. Em resposta às críticas, um porta-voz da FIFA declarou que a organização “valoriza sua parceria com a Aramco e seus muitos parceiros comerciais”, afirmando que as receitas de patrocínio são reinvestidas na melhoria do esporte globalmente, incluindo o desenvolvimento do futebol feminino. Entretanto, a mensagem não parece ressoar de maneira positiva entre os jogadores.
No contexto mais amplo, a Aramco já foi acusada de “sportswashing”, uma prática em que países promovem eventos esportivos para melhorar sua imagem internacional enquanto ignoram os dilemas que enfrentam. O Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, declarou anteriormente que não se importa em ser rotulado como um país que realiza “sportswashing”, desde que isso traga benefícios econômicos ao país. Essas declarações levantam um debate importante sobre o papel dos esportes em sociedades que falham em proteger os direitos humanos básicos.
Impactos ambientais e a chamada por mudanças
Além das preocupações com os direitos humanos, o impacto ambiental da Aramco é um dos focos da carta aberta. Como a maior empresa de petróleo e gás do mundo em termos de receita e volume de produção, a Aramco teve uma produção média de 12,8 milhões de barris de petróleo por dia no ano anterior. A natureza desse negócio aumenta os questionamentos sobre como o futebol e as suas parcerias se aliam a um futuro sustentável, especialmente quando as mudanças climáticas já têm causado sérios danos ao cenário do futebol grassroots, com fenómenos meteorológicos extremos, como calor extremo, secas e inundações. A carta argumenta que, enquanto a Arábia Saudita lucra, o mundo do futebol sofre as consequências de sua atividade empresarial.
Propostas e caminhos a seguir para a FIFA
Por fim, as jogadoras exigem que a FIFA reconsidere sua relação com a Aramco e busque patrocinadores que compartilhem valores mais alinhados com a igualdade de gênero, direitos humanos e proteção ambiental. A proposta inclui a criação de um comitê de revisão com a representação dos jogadores, dedicado a avaliar as implicações éticas de futuros acordos de patrocínio. Esta chamada à ação representa um passo importante para garantir que as decisões da FIFA reflitam os valores do esporte e não apenas interesses comerciais.
Enquanto isso, a FIFA afirma que criou comitês permanentes específicos para o futebol feminino, na esperança de que novas direções possam ser tomadas. Contudo, as jogadoras estão alertas e não se deixarão silenciar, buscando garantir que suas vozes e preocupações sejam ouvidas em um cenário que continua a ser moldado por questões sociais críticas. As reações à carta e as futuras respostas da FIFA poderão definir não apenas a relação entre esportes e empresas, mas também o futuro do esporte em termos de inclusão e sustentabilidade.