No dia 16 de outubro de 2023, mais de 30 familiares de Erik e Lyle Menendez, que cumprem sentence de prisão perpétua pelo assassinato de seus pais, Jose e Kitty Menendez, há mais de trinta anos, se reuniram em uma coletiva de imprensa em frente ao Clara Shortridge Foltz Criminal Justice Center, localizado em Downtown Los Angeles. Os familiares expressaram seus apelos pela libertação dos irmãos, enfatizando os traumas e abusos que os Menendez alegaram ter sofrido durante a infância nas mãos de seu pai. Os familiares caracterizaram os irmãos como vítimas de uma situação abusiva, ao contrário da imagem de assassinos que a sociedade frequentemente projeta sobre eles. Durante o evento, Karen VanderMolen, sobrinha da mãe dos irmãos, disse que, na época dos homicídios em 1989, Erik e Lyle eram “jovens, assustados e abusados”. VanderMolen declarou que os irmãos viveram em “constante medo” de seu pai, enfatizando a dinâmica familiar prejudicial que permeava suas vidas. Mark Geragos, advogado de apelação pós-condenação dos irmãos, destacou que a compreensão da sociedade sobre o abuso sexual evoluiu consideravelmente nas últimas décadas e que, se os irmãos fossem meninas, sua situação seria completamente diferente.
A coletiva de imprensa foi realizada pouco mais de duas semanas após o promotor do condado de Los Angeles, George Gascón, afirmar que seu escritório estava “mantendo a mente aberta” a respeito do pedido de reavaliação da sentença dos Menendez. Gascón, em entrevista à IMPACT x Nightline, mencionou que, considerando todas as circunstâncias, não acreditava que os irmãos deveriam permanecer na prisão até a morte. Essa mudança de postura no sistema judiciário reflete uma crescente sensibilização sobre as questões relacionadas à violência familiar e ao impacto do abuso emocional e sexual na vida de indivíduos, especialmente em casos tão complexos quanto o dos Menendez.
Além disso, o advogado Geragos mencionou que vários membros da família direcionaram os apoiadores para uma petição online, Justiceforerikandlyle.org, que enfatiza a necessidade de libertar os irmãos da prisão. É relevante observar que, em maio de 2023, os advogados dos Menendez apresentaram um pedido de habeas corpus ao Tribunal Superior do Condado de Los Angeles, citando novas evidências de abuso sexual que supostamente foram ignoradas durante o julgamento original. Essas novas alegações incluem testemunhos de Roy Rosselló, ex-integrante da famosa boy band Menudo, que afirmou ter sido vítima de abuso por parte de Jose Menendez na década de 1980. Além disso, um novo documento foi encontrado, que é uma carta escrita por Erik para seu primo falecido, descrevendo os abusos que ele e Lyle sofreram meses antes dos assassinatos. Esse avanço nas provas levanta algumas questões sobre a condenação dos irmãos e a possibilidade de uma reavaliação de suas sentenças.
O promotor Gascón, que está concorrendo à reeleição em novembro, reconheceu que, embora os irmãos tenham sido claramente os perpetradores do crime, o escritório tem “uma obrigação moral e ética de revisar o que está sendo apresentado a nós”. Isso implica em uma investigação mais aprofundada sobre as evidências que poderiam ter influenciado o julgamento final e a condenação dos Menendez, especialmente em face das novas informações que ressaltam a complexidade do caso.
Os eventos trágicos que culminaram na morte de Jose e Kitty Menendez se deram em 20 de agosto de 1989, quando Erik, então com 18 anos, e Lyle, de 21, utilizaram espingardas de 12 canos para tirar a vida de seus pais em sua residência em Beverly Hills, Califórnia. Jose Menendez, que tinha 45 anos na época, foi atingido múltiplas vezes, inclusive em um tiro à queima-roupa na cabeça. Kitty, com 47 anos, também sofreu diversos disparos, incluindo um na face. As alegações de abuso sexual por parte de Jose e a suposta omissão da mãe em intervir nas situações de violência familiar foram fundamentais na defesa dos irmãos durante os julgamentos. No entanto, os promotores na época rotularam os crimes como motivados pela ganância, ressaltando o extravagante padrão de gastos dos meninos após as mortes dos pais. Em 1996, três anos após um primeiro julgamento que terminou em um impasse, os irmãos foram condenados a pena de prisão perpétua, sem possibilidade de liberdade condicional, um resultado que agora é contestado com a nova onda de apoio familiar e a reavaliação do caso pelas autoridades judiciais.
O caso dos irmãos Menendez continua a capturar a atenção do público, levantando questões sobre abuso, trauma infantil e as falhas do sistema judicial em compreender completamente a dinâmica complexa de situações de violência familiar. Enquanto a discussão sobre o futuro dos irmãos se intensifica, muitos se perguntam qual será o impacto da nova evidência apresentada e como isso poderá alterar suas sentenças. Independentemente do resultado, o caso dos Menendez permanecerá uma referência nas discussões sobre reformulação da justiça penal e os direitos das vítimas de abuso.