A utilização de medicamentos como Wegovy® e Zepbound® para a terapia da obesidade está ganhando destaque na medicina, não apenas pelo manejo do peso, mas também por suas implicações positivas em procedimentos cirúrgicos. Este novo enfoque tem atraído a atenção de especialistas que se dedicam a examinar como, ao se administrem essas medicações, é possível melhorar os desfechos de cirurgias, visando aumentar a segurança e a eficácia de intervenções cirúrgicas em pacientes com obesidade. Esses medicamentos pertencem a uma classe conhecida como agonistas do GLP-1 (peptídeo 1 semelhante ao glucagon), que atuam mimetizando as funções hormonais que sinalizam saciedade ao cérebro, influenciando assim o comportamento alimentar. Inicialmente, a utilização do semaglutide, comercializado sob a marca Ozempic® e posteriormente aprovado como Wegovy para tratamento da obesidade, surgiu a partir da sua eficácia em controlar a diabetes tipo 2, tendo sido liberado em 2017 e 2021, respectivamente.
A recente aprovação do Wegovy pelo FDA para pacientes com obesidade e doenças cardiovasculares demonstra a crescente confiança nesta classe de medicações. Um estudo relevante publicado no The New England Journal of Medicine revelou que o tirzepatide, outro medicamento da classe de GLP-1, pode ser vantajoso para indivíduos que sofrem de apneia obstrutiva do sono. Em meio a esse panorama, cirurgiões da Yale Medicine têm investigado como a administração de medicamentos anti-obesidade antes e após procedimentos cirúrgicos pode influenciar positivamente os resultados operatórios. Com base em sua pesquisa, alguns especialistas observam que isso é particularmente verdadeiro para cirurgias de substituição total de articulações e cirurgias bariátricas.
O Dr. Daniel Wiznia, cirurgião ortopédico e co-diretor do Programa de Necrose Avascular, destaca que as medicações anti-obesidade têm revolucionado as práticas cirúrgicas, ampliando o número de pacientes que podem se submeter a operações de substituição de articulação de forma segura. Essa transformação é essencial, pois frequentemente, pacientes que necessitam de próteses de quadril ou joelho enfrentam atrasos significativos na realização do procedimento até que alcancem um índice de massa corporal (IMC) aceitável. O cuidado com o IMC é de suma importância, uma vez que o excesso de peso está associado a complicações pós-operatórias, como problemas de cicatrização, infecções e até mesmo aumento do risco de eventos cardiovasculares. A terapia com medicamentos GLP-1, aliada a uma alimentação adequada, permitiu que muitos pacientes atingissem uma faixa de peso mais segura antes da cirurgia, conforme ressaltou o Dr. Wiznia.
Por outro lado, o Dr. John Morton, diretor médico da cirurgia bariátrica do Yale New Haven Health System, endossa essa abordagem, afirmando que o uso de GLP-1s antes das cirurgias de perda de peso frequentemente resulta em desfechos mais positivos. A quantidade de cirurgias de substituição total de articulações no Estados Unidos não é trivial, totalizando mais de 790 mil procedimentos de joelho e 450 mil de quadril por ano, com expectativas de crescimento, principalmente entre a população da geração do baby boom. A obesidade, que afeta aproximadamente 42% dos adultos, é vista como um dos principais motores deste aumento, uma vez que o excesso de peso exerce pressão adicional sobre as articulações de suporte de peso.
Os especialistas destacam que a escolha pelo uso de medicamentos anti-obesidade não precisa ser um dilema, pois eles podem coexistir com a cirurgia bariátrica. É um jogo em que a combinação de abordagens se mostra benéfica. Além disso, os médicos reconhecem que aqueles que utilizam esses medicamentos devem estar preparados para prolongar seu uso, pois a obesidade é uma doença metabólica crônica. No entanto, os efeitos das cirurgias bariátricas, que alteram a produção de hormônios GLP-1, podem modificar essa necessidade. A pesquisa continua em andamento para esclarecer se é essencial permanecer com os medicamentos após a cirurgia e quais resultados podem ser previstos pelo uso pré-operatório deles.
Após a realização da cirurgia bariátrica, a prática comum é interromper o uso dos GLP-1 para permitir que o corpo se ajuste. A decisão de retomar ou não os medicamentos é estabelecida após um período de três meses, levando em conta as necessidades específicas de cada paciente. Embora haja a preocupação com a cobertura do custo dos medicamentos pelos planos de saúde, a crescente evidência sobre os benefícios das medicações anti-obesidade pode abrir portas para uma maior aceitação e viabilidade econômica desse tratamento em nível populacional. Assim, à medida que a medicina avança no entendimento do papel dos medicamentos anti-obesidade, novas possibilidades para cirurgias ortopédicas e bariátricas se desenham no horizonte, oferecendo esperança e novas alternativas para pacientes que lutam contra a obesidade e suas consequências.