Nos dias que antecedem as eleições de novembro de 2024, um movimento significativo está ganhando força em estados cruciais, com grupos climáticos se empenhando em mobilizar eleitores, especialmente aqueles que tradicionalmente têm baixa participação nas urnas. Em Filadélfia, um grupo de voluntários experientes e preocupados com as questões climáticas está fazendo canvassing, ou seja, visitando residências e distribuindo materiais que orientam sobre como registrar-se para votar. Esse movimento não é apenas uma mera mobilização eleitoral; é uma tentativa de reverter um cenário onde os eleitores preocupados com a mudança climática são sub-representados.
Daniel Carlson, um dos voluntários que participa da mobilização, expressou sua preocupação com a importância da atual eleição, afirmando que “é a mais consequente em que já estive envolvido” ao longo de suas quatro décadas de experiência como eleitor. Carlson é membro do Third Act, um grupo ativista ambiental voltado para pessoas com mais de 60 anos. Este grupo busca engajar eleitores em questões climáticas em um contexto eleitoral que tem sido dominado por preocupações sobre economia, imigração e acesso ao aborto.
Conforme pesquisas da instituição Environmental Voter Project (EVP), uma organização sem fins lucrativos, cerca de 32% dos eleitores não consideram a mudança climática um fator relevante nesta corrida presidenciais, mas para milhões de pessoas, essa se revela como a principal questão. A EVP, que se esforça para identificar eleitores com consciência climática e levá-los às urnas, foca especificamente naqueles que são considerados ‘eleitores de baixa propensão’ — aqueles que não votaram na última eleição presidencial, mas que se preocupam com as questões climáticas. Nathaniel Sinnett, diretor executivo da EVP, destacou que “na Pensilvânia, identificamos 245 mil desses eleitores”, uma estatística que se repete em diversos outros estados cruciais.
Na eleição de 2020, Joe Biden obteve uma vantagem de apenas 80.555 votos sobre Donald Trump na Pensilvânia, enfatizando a importância da mobilização dos eleitores climáticos nessa eleição acirrada. A EVP utiliza modelagem preditiva e análise de dados para identificar milhões de eleitores registrados que se preocupam com o meio ambiente, orientando seus esforços naqueles que se registraram para votar, mas não o fizeram nas últimas eleições. “Os resultados iniciais da votação são encorajadores; quase 130 mil eleitores climáticos de primeira viagem já emitiram seus votos nos 19 estados em que atuamos”, afirmou Sinnett.
Os estados em que a EVP está trabalhando são cruciais para a definição do resultado eleitoral. Somente em Arizona, houve a identificação de 229.311 eleitores climáticos de primeira viagem, com 5.514 desses indivíduos já tendo votado antecipadamente até o dia 25 de outubro. Em um estado onde o resultado de 2020 foi decidido por menos de 11.000 votos, estes números têm um peso significativo. É importante frisar que, embora a EVP não assegure que um voto ligado à questão climática automaticamente se traduza em apoio ao ticket democrático, a experiência histórica aponta que eleitores com preocupações climáticas tendem a se inclinar à esquerda.
A necessidade de mobilizar eleitores climáticos também se estende ao Third Act, outro grupo ambiental que concentra esforços na juventude, mas com um olhar especial para os mais velhos. Fundado por Bill McKibben, ativista ambiental e autor de livros influentes sobre o tema, esse grupo se propõe a conscientizar a geração mais experiente sobre a importância de sua participação nas eleições. “Vimos muitas mudanças ao longo de nossas vidas, sendo a maior delas a transformação social que possibilitou a união entre pessoas independentemente de sua etnia ou orientação sexual— questões que eram impensáveis no passado”, menciona McKibben.
Entretanto, apesar do empenho, muitos eleitores cientes das questões climáticas demonstram relutância em ir às urnas, levando à necessidade de campanhas que incentivem essa participação. “Eles se importam profundamente com o clima, mas talvez estejam convencidos de que nada pode ser feito, ou que os problemas políticos são insuperáveis”, relata McKibben, que destaca a urgência de abordar essas perspectivas para assegurar que a participação eleitoral vá além da passividade.
A mobilização também encontra vozes ativas entre os mais velhos. Helen Grady, uma ex-professora de 85 anos, expressou sua indignação ao descobrir que muitos estudantes universitários estão considerando não votar. “Fico muito irritada e frustrada ao ouvir alguém dizer que não tem sentido votar, porque ambos os lados estão quebrados”, conta Grady, que sempre incentivou seus alunos a se manifestar por meio do voto, ressaltando que “se você não vota, não pode reclamar”.
À medida que o dia da eleição se aproxima, a preocupação com a luta contra a mudança climática e o desejo de um futuro melhor para as próximas gerações estão motivando um número crescente de voluntários a se engajar diretamente no processo eleitoral. Para Carlson e Grady, a participação nas eleições não é apenas um ato cívico, mas uma responsabilidade moral em relação a um futuro que eles desejam ver florescer. A mobilização de eleitores climáticos pode não ser a maior força política, mas, como destacou Sinnett, “neste outono, os eleitores climáticos podem ter um impacto real nas margens, e em uma eleição onde todos os estados de swing estão estatisticamente empatados, cada pequeno movimento nas margens decidirá tudo”.