Eleitores moldavos decidem entre continuação do afastamento da influência russa ou o retorno a vínculos mais estreitos

Os cidadãos da Moldávia, um país frequentemente dividido entre as esferas de influência da Rússia e do Ocidente, dirigem-se às urnas neste domingo para participar de duas votações cruciais que podem mudar o rumo da nação na era pós-Soviética. Estes são o pleito presidencial e um referendo que poderá determinar a eventual adesão da Moldávia à União Europeia. Ambas as votações estão sob a sombra de interferências e manipulações atribuídas a agentes pró-Rússia, especialmente pelo oligárquico Ilan Shor, que atualmente se encontra em exílio na Rússia após ser condenado à revelia por sua participação no desvio de um bilhão de dólares dos bancos moldavos em 2014.

Shor, que pretende influenciar os resultados das eleições ao favorecer um candidato alinhado ao Kremlin e barrar a adesão europeia, ofereceu incentivos financeiros aos eleitores. Em suas comunicações, anuncia que pagará aproximadamente 28 dólares a aqueles que se registrarem sob sua campanha, além de bonificações adicionais que podem chegar a 280 dólares, dependendo do desfecho do voto. As autoridades moldavas denunciam essa estratégia como parte de uma campanha mais ampla destinada a reverter o curso político do país, o que poderá resultar em um retorno à órbita de influência russa e um possível retrocesso nas políticas pro-Ocidente.

A Moldávia, que abriga cerca de 2,5 milhões de pessoas e se situa entre a Romênia e a Ucrânia, tem experimentado oscilações em sua política externa desde o fim da Guerra Fria. O país foi marcado por um posicionamento oscilante entre a aproximação ao Ocidente e a manutenção de laços com a Rússia. Atualmente, cerca de 1.500 tropas russas estão estacionadas em Transnistria, uma região separatista que se declarou independente durante o colapso da União Soviética. No entanto, desde 2020, a Moldávia, sob a liderança da presidente Maia Sandu, uma ex-oficial do Banco Mundial, tem seguido um caminho mais alinhado aos interesses ocidentais, prometendo reformas no sistema judiciário e combate à corrupção, que são questões predominantes entre os cidadãos moldavos.

A invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022 provocou um intenso impacto na política moldava, levando muitos a reavaliarem a percepção da Rússia como um aliado. A proximidade de conflitos a apenas uma fronteira repensou a vulnerabilidade da Moldávia em face da agressão russa. O governo moldavo rapidamente reconheceu que a invasão não apenas desafiava sua segurança, mas também iluminava o caminho para fortalecer sua adesão à União Europeia. O status de candidato a membro da UE foi concedido à Moldávia em junho de 2022, desencadeando um impulso sem precedentes em direção à integração europeia.

O impacto da guerra na energia também foi palpável; a Moldávia, anteriormente dependente do gás russo, enfrentou uma crise energética sem precedentes, obrigando-o a buscar alternativas de suprimento na Europa. Autoridades moldavas afirmaram que a drástica redução do fornecimento de gás por parte da Gazprom foi uma tática punitiva direcionada ao governo de Sandu, que se mostrava favorável à aproximação ocidental. Com as primeira neves se aproximando, o país teve que se adaptar rapidamente para garantir o abastecimento de energia, estabelecendo novas parcerias e se desvinculando gradativamente da dependência energética russa.

Desafios políticos e manipulações em meio às eleições

As mais recentes pesquisas indicam que a presidente Maia Sandu possui ampla aceitação popular, com 36% dos moldavos manifestando apoio à sua reeleição. Contudo, o contexto político é complexo, com seu principal adversário, o ex-procurador geral Alexandr Stoianoglo, obtendo apenas 10% das intenções de voto. A plataforma de Stoianoglo denominando a adesão à União Europeia como desejável, mesmo sendo membro de um partido tradicionalmente pró-Rússia, reflete a confusão e desarticulação enfrentadas pelas forças opositoras moldavas, que perdem identidade em meio às novas realidades provocadas pela guerra na Ucrânia.

Infelizmente, as eleições também foram notavelmente afetadas por alegações de compra de votos, conforme relatado por Viorel Cernauteanu, chefe da polícia nacional da Moldávia. Relatos sugerem que cerca de 130 mil moldavos foram alvo de uma rede de manipulação coordenada pela Rússia, com transferências que ultrapassam 15 milhões de dólares em um só mês para influenciar o resultado do referendo. Essa situação levantou preocupações sérias sobre a integridade do processo eleitoral, já que as autoridades moldavas enfrentam dificuldades para contrabalançar a interferência externa em um momento crítico.

Os desafios apresentados pelas sondagens e as práticas de manipulação sugerem que a luta pela Moldávia, entre as influências russas e ocidentais, está longe de ser resolvida. Mesmo que Sandu consiga a reeleição, é esperado que o Kremlin intensifique seus esforços para criar incertezas, especialmente em relação às eleições parlamentares do próximo ano. A capacidade de moldar o futuro do país reside nas mãos dos moldavos, que, ao decidirem entre a adesão à União Europeia ou o retorno à influência russa, escolherão não apenas seus líderes atuais, mas também o destino da nação para os próximos anos.

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