Reconhecimento internacional destaca a luta dos sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki

A importância histórica da organização e os desafios atuais na luta pela paz mundial

A edição de 2024 do Prêmio Nobel da Paz foi concedida à Nihon Hidankyo, uma organização de base composta por sobreviventes das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, reconhecendo suas incansáveis tentativas de promover um mundo livre de armas nucleares. O comitê norueguês que concede o Nobel elogiou a entidade por evidenciar, através dos testemunhos de quem passou por essa tragédia, que as armas nucleares jamais devem ser utilizadas novamente. A Nihon Hidankyo, também referida como Hibakusha, foi fundada por indivíduos que testemunharam as únicas duas bombas nucleares utilizadas em combate, e desde então, os sobreviventes empreenderam esforços significativos para erradicar essas armas da face da Terra.

O comitê norueguês enfatizou que as vozes dos Hibakusha são essenciais para descrever o que parece indescritível e para refletir sobre a dor e o sofrimento inenarráveis causados por tais armas. Em uma declaração feita na capital norueguesa, Oslo, os representantes da organização destacaram que a luta pela paz não deve ser esquecida e que a memória dos que sofreram deve ser preservada. O prêmio é um reconhecimento que respalda não apenas os testemunhos desses sobreviventes, mas também sua incessante busca pela desarmamento nuclear no cenário contemporâneo.

Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), expressou sua satisfação com a concessão do prêmio aos Hibakusha, sublinhando que a sabedoria dos sobreviventes deve ser continuamente lembrada, tal como foi discutida em declarações proferidas por líderes como Gorbachev e Reagan, que em 1985 afirmaram que a guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada. A mensagem das vítimas das bombas atômicas é clara: o evento que causou a destruição em Nagasaki e Hiroshima não deve ser repetido.

Estima-se que, apenas em Hiroshima, cerca de 80 mil pessoas tenham morrido instantaneamente quando os Estados Unidos lançaram a bomba atômica em 6 de agosto de 1945. Três dias depois, um segundo ataque em Nagasaki resultou em mais 70 mil mortes. As consequências foram devastadoras, com milhares de sobreviventes, conhecidos como Hibakusha, lidando com ferimentos críticos e doenças causadas pela radiação durante anos. O termo “niju hibakusha” designa aqueles que sobreviveram a ambas as explosões, ressaltando o legado duradouro da tragédia.

A Nihon Hidankyo, criada em 1956, veio para unir esses sobreviventes em uma busca conjunta por justiça e reconhecimento. Ao longo das décadas, a organização recolheu milhares de relatos de testemunhas e participa anualmente de delegações à ONU, além de conferências de paz, visando pressionar a comunidade internacional pela desativação das armas nucleares. A decisão de premiar a organização é vista como extremamente significativa, com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, ressaltando a relevância do prêmio na promoção da paz e na luta pela abolição das armas nucleares.

O prêmio Nobel de Paz de 2024 é a 105ª edição desde a sua criação em 1901. Nihon Hidankyo se torna o 141º laureado e receberá um prêmio monetário de aproximadamente um milhão de dólares. A decisão do comitê está firmemente fundamentada no testamento de Alfred Nobel, que delineou critérios para a concessão do prêmio baseados em trabalhos significativos para a fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução de exércitos permanentes e pela promoção de congressos de paz. Este ano é marcado pela pressão crescente enfrentada pela norma que proíbe o uso de armas nucleares, um princípio que carrega a essência da luta de Hibakusha.

Embora nenhuma arma nuclear tenha sido utilizada em combates nos últimos 80 anos, os desafios persistem. As armas nucleares modernas estão sendo modernizadas por diversas potências, e um recente relatório do SIPRI indicou que, até janeiro de 2024, existem aproximadamente 12.121 ogivas nucleares espalhadas pelo mundo, das quais cerca de 9.585 estão em Estoques militares. A crescente militarização das armas nucleares é uma preocupação que exige atenção imediata, especialmente em um contexto em que as tensões internacionais estão aumentando, e as ameaças nucleares estão se tornando mais comuns.

A iniciativa de reconhecer a Nihon Hidankyo vem em um momento crítico, quando as nações revisitam suas doutrinas nucleares e a retórica bélica se intensifica. Somente nos últimos anos, o presidente russo Vladimir Putin tem constantemente aventado a possibilidade de utilizar armas nucleares, aumentando a ansiedade mundial. Considerando a evolução tecnológica que permite sistemas de armas automatizados, a mensagem promovida pelos Hibakusha é mais relevante do que nunca. O mundo deve olhar para as lições do passado e reforçar seu compromisso com a paz e o desarmamento como essenciais para a convivência pacífica entre as nações.

Em suma, a premiação da Nihon Hidankyo pelo Prêmio Nobel da Paz de 2024 não apenas celebra os esforços de uma organização histórica, mas também serve como um chamado à ação à comunidade global para garantir que os horrores da guerra nuclear não sejam esquecidos e que o desarmamento nuclear seja uma prioridade inadiável para as gerações futuras.

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