A indústria de mídia está passando por transformações radicais com o avanço das tecnologias de inteligência artificial, e a mais recente polêmica envolvendo a News Corp e a startup Perplexity ilustra bem as tensões geradas por essa nova era digital. A News Corp, que possui publicações respeitáveis como o Dow Jones e o New York Post, entrou com uma ação judicial contra a Perplexity, a qual caracteriza como uma “kleptocracia de conteúdo”, em uma reclamação formal apresentada em Nova York na última segunda-feira. A ação destaca o que a empresa considera como infrações massivas de direitos autorais, em uma crítica abrangente ao modelo de negócios da Perplexity.
A News Corp alega que a Perplexity utiliza um mecanismo de “respostas automáticas” que replica, sem autorização, uma ampla variedade de conteúdos, incluindo notícias protegidas por direitos autorais, análises e opiniões, que são incluídos em seu banco de dados interno. Essa prática não apenas copia o trabalho original de diversos jornalistas e editores, mas também cria respostas que funcionam como substitutos diretos para os sites de notícia e informações. Isso representa não apenas uma violação de direitos autorais, mas também um ataque direto às fontes de receita das publicações tradicionais que investem na criação de conteúdo de qualidade.
O aspecto mais controverso da reclamação é que a Perplexity promove seu serviço como tão confiável que os usuários podem “pular os links” para as publicações originais, dependendo exclusivamente da plataforma para suas necessidades de notícias e análises. Essa estratégia é considerada por muitas empresas de mídia como uma deslealdade econômica, em que a startup se aproveita do trabalho alheio para conquistar a mesma audiência, comprometendo assim a sustentabilidade financeira das organizações que realmente produzem as matérias.
Além disso, a News Corp não está sozinha em suas preocupações. Muitos veículos de comunicação expressaram inquietações semelhantes em relação ao uso não autorizado de seu conteúdo pela Perplexity. Casos notórios, como o incidente com um artigo da Forbes, foram destacados em discussões públicas, gerando um clima de apreensão na indústria sobre o futuro do jornalismo e a proteção dos direitos autorais. Recentemente, o The New York Times também enviou uma notificação de parar e desistir à Perplexity, refletindo um consenso crescente sobre a necessidade de abordar esta questão destrutiva diretamente.
A Perplexity, por outro lado, se defende afirmando que suas ferramentas de coleta de dados não têm como objetivo incluir conteúdo protegido em seu treinamento de IA, mas sim criar um índice de referência que auxilia na construção de respostas para os usuários. A startup ainda não se manifestou formalmente em relação a essas acusações, mas a expectativa é que ela desenvolva uma argumentação clara em defesa de suas operações, uma vez que o cenário legal em torno das grandes plataformas de inteligência artificial continua a evoluir.
A indústria de tecnologia, especialmente no campo da inteligência artificial, tem ignorado as leis de direitos autorais de forma generalizada, porém a natureza sem precedentes de agentes e scrapers de IA em larga escala implica que as regras existentes podem não se aplicar da maneira como se esperaria. Embora várias ações judiciais estejam em andamento com alegações diversificadas de infrações de direitos autorais, até o momento, nenhuma delas chegou a uma conclusão definitiva, criando um ambiente repleto de incertezas.
Com todas essas disputas em andamento, a News Corp expressou seu apoio a empresas que operam de maneira ética no campo da inteligência artificial. O CEO da News Corp, Robert Thomson, elogiou a OpenAI, enfatizando a importância da integridade e criatividade na realização do potencial da inteligência artificial. Entretanto, ele deixou claro que a Perplexity não está isenta de responsabilidade e que haverá um esforço contínuo na busca por justiça em relação ao uso inadequado de propriedade intelectual.
O total de danos que a News Corp busca é de impressionantes US$ 150.000 por infração, além dos lucros que a Perplexity gerou a partir de tais práticas, podendo levar a multas astronômicas dependendo da interpretação das evidências. Esse caso não é apenas um embate entre uma corporação de mídia e uma startup inovadora; ele representa um momento decisivo na interseção entre jornalismo, direitos autorais e tecnologia de inteligência artificial.
Em um cenário em que as fronteiras entre criação de conteúdo e sua reutilização continuam a se desfocar, a luta pela proteção de direitos autorais será fundamental para o futuro do jornalismo. Para os leitores, isso também levanta questões sobre a qualidade e a veracidade das informações consumidas em um ambiente onde as linhas entre diferentes fontes de informação se tornam cada vez mais nebulosas.