Veneza, Itália – Em um momento de intenso debate entre turistas e moradores, a prefeitura de Veneza anunciou novas taxas de entrada para os visitantes diurnos, que prometem mudar a dinâmica do turismo na cidade icônica. No dia 24 de outubro, as autoridades locais detalharam um plano que visa aumentar as receitas obtidas com o turismo, ao mesmo tempo em que buscam preservar a integridade cultural e histórica de um dos destinos mais visitados do mundo. Este sistema de cobrança começará a operar no ano de 2024, com o objetivo de equilibrar a quantidade de visitantes e a qualidade de vida dos residentes.

No próximo ano, os turistas que visitarem Veneza para passeios de um dia enfrentarão um aumento significativo nas taxas. A previsão é que, em 2025, haja cobrança em 54 dias, um aumento considerável em comparação com os 29 dias de cobrança programados para 2024. O valor da taxa também mudará, passando de uma tarifa fixa de 5 euros (equivalente a aproximadamente 5,40 dólares) em 2024 para um sistema de tarifas em duas camadas. O novo esquema prevê que os visitantes que pagarem a taxa com mais de quatro dias de antecedência continuarão a pagar os 5 euros iniciais. No entanto, aqueles que fizerem a reserva nos três dias que antecedem a chegada terão o valor da taxa dobrado para 10 euros (cerca de 11 dólares).

A taxa será aplicada exclusivamente à área central da cidade, deixando de fora as ilhas periféricas, como o famoso balneário Lido e os destinos turísticos populares de Murano e Burano, que podem ser acessados diretamente do continente. Os turistas que apenas transitarem por locais como Piazzale Roma, Tronchetto ou o porto também estarão isentos, desde que não entrem no centro da cidade. O sistema de reserva de ingressos permanecerá o mesmo: todos os visitantes, independentemente do pagamento ou isenção, deverão realizar suas reservas via um site oficial.

A medida vem motivada pelo crescente fenômeno do turismo excessivo que afeta várias grandes cidades do mundo, um desafio que Veneza amarga intensamente. O prefeito Luigi Brugnaro afirmou que o objetivo dessas taxas é “definir um novo sistema para gestão do fluxo de turistas e desencorajar o turismo de um dia na cidade durante períodos críticos, em consonância com a delicadeza e a singularidade de Veneza, proporcionando o respeito que a cidade merece.” Neste âmbito, ele ainda ressaltou que o planejamento atual visou a coleta de dados para melhor embasar o sistema a ser implementado.

Além das novas taxas de entrada, o governo local também está propondo alterações nas regras para locações de curto prazo. Embora diversas cidades na Europa tenham adotado medidas rigorosas contra plataformas como Airbnb, Veneza optou por uma abordagem mais flexível, com a esperança de incentivar um comportamento mais responsável entre os turistas. O novo modelo, descrito pelo prefeito como um “pacto entre a prefeitura e os proprietários”, exigirá que qualquer imóvel alugado por mais de 120 dias por ano se registre junto à prefeitura, assumindo o compromisso de seguir “boas práticas” como anfitriões.

Entre essas boas práticas está o atendimento pessoal aos hóspedes e a entrega de sacos de lixo e recicláveis com códigos únicos para a propriedade. Apesar de a coleta de resíduos ocorrer seis dias por semana em Veneza, a cidade enfrenta sérias dificuldades em relação ao descarte incorreto do lixo por turistas, o que se tornou um ponto crítico. Contudo, o conselho municipal ainda não divulgou como pretende fazer cumprir o uso adequado dos sacos apropriados pelos visitantes. Além disso, os locadores precisarão fornecer um contato disponível 24 horas para os hóspedes durante sua estadia.

Os proprietários terão um prazo de 120 dias a contar da data de aprovação das novas propostas pela câmara municipal para registrar suas propriedades. Caso não o façam, a janela de oportunidade se encerrará até o dia 31 de dezembro de 2026. Brugnaro acredita que essas regras não apenas promoverão um comportamento mais virtuoso dos turistas, mas também garantirão uma convivência harmônica entre os visitantes e os moradores da cidade.

A nova taxa e as regras de locação em Veneza contrastam com as restrições que outras grandes cidades ao redor do mundo enfrentam em relação ao turismo e locações de curto prazo, como Nova York, Paris, Barcelona e Berlim. Em Nova York, por exemplo, a legislação proíbe o aluguel de imóveis inteiros por menos de 30 dias, enquanto em Paris o limite é de 120 dias por ano. Dados revelam que, atualmente, Veneza conta com 8.322 propriedades cadastradas no Airbnb, sendo que 77% delas são residências inteiras, enquanto aproximadamente dois terços dos anfitriões possuem múltiplos anúncios. Além disso, a média de noites reservadas está em torno de 98 por ano, o que não se enquadraria nas novas regras propostas.

À medida que Veneza enfrenta essa nova realidade com um fluxo de aproximadamente 30 milhões de visitantes anualmente e uma população que caiu abaixo dos 50 mil habitantes pela primeira vez em séculos, a falta de imóveis para locação a longo prazo e habitação acessível se tornou uma das principais razões para a saída de moradores. Em resposta, a câmara municipal espera que essas novas regras contribuam para a preservação da singularidade de Veneza, ao mesmo tempo que promovem um ambiente mais sustentável e equilibrado para seus cidadãos e visitantes.

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