A Jornada de Quincy Bright e as Implicações da Cirurgia

No cenário esportivo americano, a cirurgia de Tommy John se tornou um marco, oferecendo uma nova esperança a muitos jovens atletas que enfrentam lesões severas no cotovelo, especialmente em um esporte tão exigente quanto o beisebol. Quincy Bright, um promissor arremessador, exemplifica essa realidade. Com uma extraordinária velocidade de arremesso de 95 milhas por hora, Bright estava a caminho das ligas maiores quando, aos 17 anos, foi diagnosticado com uma lesão no ligamento colateral ulnar, o famoso UCL, que se revelou um grande obstáculo em sua trajetória. O desespero tomou conta do jovem atleta, que expressou sua dor emocional: “Eu chorei como um bebê, eu amo tanto o jogo, então não poder jogar realmente me machucou. Eu sentia que estava decepcionando as pessoas”. Sua família, que sempre incentivou seu talento, também sentiu o peso do momento. Omari Bright, seu pai, expressou sua preocupação, lembrando o cuidado que sempre teve com a intensidade dos arremessos do filho. O que causou essa lesão foi uma dura reflexão de Quincy: “Acho que aconteceu quando eu estava arremessando muito forte, especialmente em uma idade tão jovem, e meu corpo não conseguia suportar”.

A História por trás da Cirurgia de Tommy John

Em 1974, a carreira de Tommy John, um arremessador do Los Angeles Dodgers, parecia estar chegando ao fim quando ele sofreu uma ruptura no UCL durante uma temporada promissora. Esta lesão, até então considerada devastadora para a carreira de um atleta, levou à inovação do Dr. Frank Jobe, médico da equipe, que desenvolveu um procedimento cirúrgico que não só salvou a carreira de John, mas também alterou para sempre a maneira como o beisebol lida com lesões no cotovelo. Relembrando o evento, John comentou: “Eu apenas disse, ‘Você faz o que for necessário para me trazer de volta ao beisebol novamente'”. Hoje, a cirurgia que levou seu nome se tornou uma ocorrência comum entre arremessadores, com Quincy Bright sendo um dos muitos jovens talentosos a se submeter a essa operação.

A Realidade Atual e os Desafios no Beisebol

O atual cirurgião de Quincy, Dr. Chris Ahmad, que também é médico da equipe do New York Yankees, elucida o processo: “O que envolve a cirurgia de Tommy John é pegar um tecido do seu antebraço, um tendão, e substituir um ligamento no seu cotovelo, apertá-lo, segurá-lo e recriar um novo ligamento que substitui o ligamento lesionado”. A combinação do nível de intensidade nas performances dos arremessadores com o aumento das lesões tem gerado preocupação na comunidade do beisebol. De acordo com Dr. Ahmad, cerca de 35% dos arremessadores ativos da Major League Baseball (MLB) já se submeteram à cirurgia, um aumento em relação aos 27% registrados em 2016. O aumento da velocidade dos arremessos serve como um alerta, com a média dos arremessos da liga atual atingindo 93,8 milhas por hora, um aumento significativo de 2 milhas por hora em comparação há quinze anos. Essa realidade não se limita apenas ao nível profissional, mas está se manifestando cada vez mais nas ligas amadoras, onde os jovens jogadores também estão enfrentando as consequências desse estilo de jogo intenso. Dr. Ahmad compartilha uma visão alarmante: “O volume de arremessos só tem aumentado. Antes, as crianças jogavam beisebol apenas na temporada. Agora, jogam durante todo o ano. Está se tornando uma bomba-relógio prestes a explodir no cotovelo”. Neste contexto, o número de cirurgias realizadas por Ahmad saltou de cerca de 10 operações por ano há duas décadas para impressionantes 150 durante o primeiro semestre deste ano, a maioria de procedimentos realizados em atletas com menos de 18 anos, refletindo uma preocupante tendência de que cerca de 60% dos beneficiários de cirurgias de Tommy John são menores de idade.

A Necessidade de Reformas e uma Nova Cultura no Beisebol

O ex-jogador da MLB e comentarista, John Smoltz, que também passou pela cirurgia de Tommy John, tem se manifestado contra esse que ele considera um “epidêmico” aumento de lesões em arremessadores. Sua perspectiva relativamente crítica se destaca ao afirmar: “Não acreditem que isso é normal para o seu filho de 12 anos, muito menos para um de 25”. Mesmo compreendendo as pressões que os jovens atletas enfrentam, Smoltz pede uma mudança de paradigma: “Esse setor terá que se autocorrigir. E a maneira como isso se corrige é por meio de mudanças nas regras e mudanças filosóficas”. Para ele, é fundamental que ligas de base como as Little Leagues comecem a desencorajar a busca desenfreada por velocidade nos arremessos e incentivem as crianças a fazer pausas sazonais no beisebol para evitar sobrecarga. Ele expressa sua preocupação, afirmando: “Quando vejo um jovem arremessando tudo o que tem aos 13 anos, ele não está se dando a melhor chance de atuar no ensino médio. Ou, para o caso, nas ligas maiores”. Para Quincy Bright e muitos outros jovens atletas, o legado de meio século das cirurgias de Tommy John representa uma esperança renovada de que possam não apenas retornar ao campo, mas também concretizar seus sonhos de jogar na elite do beisebol. Quando questionado sobre suas aspirações, Bright se mostrou confiante: “Isso não vai acontecer! Eu estarei nas ligas maiores”.

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