Três dias antes do ex-xerife de Kentucky, Shawn “Mickey” Stines, ser acusado de assassinar um juiz, ele apresentou um depoimento em um processo judicial no qual era acusado de negligenciar a investigação sobre um vice-xerife que supostamente abusou sexualmente de uma mulher nas dependências do tribunal. Segundo relato de Ned Pillersdorf, advogado responsável pelo processo civil federal de direitos civis instaurado contra o xerife do condado de Letcher e seu ex-deputado, Ben Fields, Stines apresentou um comportamento que foi descrito como “estranho” durante as cinco horas de depoimento. Pillersdorf enfatiza que Stines parecia estar em um estado emocional complicado, descrevendo-o como “deprimido” e “submisso”. Ele notou que, em sua experiência nos tribunais de Kentucky, geralmente os xerifes que enfrentam uma ação de direitos civis tendem a ser mais sociáveis e comunicativos, algo que não se aplicou ao comportamento de Stines. Três dias depois dessa experiência tensa, um episódio inaudito ocorreu, levantando a questão se os eventos estavam de alguma forma relacionados.
A tragédia que abalou Letcher County
Stines, de 43 anos, é acusado de tirar a vida do juiz de distrito Kevin Mullins, de 54 anos. O incidente ocorreu durante uma discussão nas dependências do juiz em Whitesburg, Kentucky, no dia 19 de setembro. A gravidade do ato foi intensificada ao se conhecer que eram amigos de longa data. O xerife, que havia atuado como ajudante de Mullins antes de ser eleito para o cargo em 2018, envolveu a comunidade, que estava em choque. Um vídeo, mostrado em uma audiência preliminar em outubro, capturou imagens do momento em que Stines disparou várias vezes contra Mullins, enquanto o juiz estava sentado à sua mesa de trabalho, e continuou a disparar mesmo após Mullins ter caído ao chão.
Investigação e repercussões no caso
Até o presente momento, a polícia não forneceu um motivo claro para o assassinato, mas a situação se complicou quando Pillersdorf revelou que promotores procuraram informações sobre o comportamento de Stines durante seu depoimento, inclusive solicitando uma cópia do mesmo. Essa procura por dados indica a relevância de compreender o estado emocional do ex-xerife em um momento tão próximo da tragédia. Na ocasião do tiroteio, tanto Stines quanto Fields estavam sendo processados por duas mulheres que alegaram que Fields, um oficial de segurança do tribunal, as forçou a relações sexuais em 2021 sob a ameaça de complicações em suas situações jurídicas, já que uma delas estava sob monitoramento eletrônico. Fields se declarou culpado de múltiplas acusações, incluindo violação de terceira grau e perjúrio, sendo sentenciado a sete anos, dos quais seis anos e meio serão cumpridos em liberdade condicional a partir de janeiro de 2024.
O impacto do caso é ainda mais profundo ao se considerar que o processo de 2022 acusa Stines de ter conhecimento ou de “deveria ter sabido” dos abusos perpetrados por Fields, e de não ter tomado as medidas necessárias para responder a esses relatos. O advogado Pillersdorf, refletindo sobre a vulnerabilidade das mulheres em situações semelhantes, expressa sua preocupação sobre como essas vítimas são frequentemente desconsideradas e como seu medo de retaliação pode impedi-las de denunciar abusos.
A mensagem que fica: sensibilidade e justiça no sistema
Pillersdorf destaca a fragilidade das mulheres de baixa renda, especialmente aquelas sob monitoramento eletrônico ou em tribunais de drogas, enfatizando que elas podem ser fáceis alvos de extorsões. Ele espera que, a partir dessa tragédia, aqueles responsáveis pela administração de programas de monitoramento eletrônico e tribunais de drogas sejam mais sensíveis às situações das mulheres, reconhecendo que a denúncia de abusos pode acarretar represálias graves. A sociedade observa atenta e preocupada, aguardando não apenas a justiça para a situação específica, mas também uma revisão dos processos que levaram a esse desenlace violento.
Ainda não há comentários disponíveis por parte dos advogados de Stines e Fields, mas a situação continua a ser monitorada de perto, enquanto a comunidade tenta entender não apenas a natureza do crime, mas também o que levou a essa desencadeação terrível de eventos. Observa-se, muitas vezes, que essas circunstâncias são mais complexas do que aparentam ser, levantando questões críticas sobre a proteção das autoridades às minorias e a seriedade dos atos perpetrados por aqueles que ocupam cargos de confiança e proteção. O futuro do processo legal e suas implicações para todos os envolvidos permanecem uma incógnita.