A dinâmica do capital de risco tem se mostrado complexa no início de 2024, com observações variadas que vão desde desafios significativos na captação de recursos até um aumento considerável em rodadas de investimentos, especialmente em setores específicos como biotecnologia e segurança cibernética. Apesar de muitos investidores afirmarem que já superamos a fase crítica que caracterizou os anos anteriores, as provas documentadas sugerem que a jornada ainda não é fácil para muitos fundadores.
De acordo com o relatório Venture Beacon da Aumni, as rodadas de down rounds – quando as empresas levantam capital a uma avaliação menor do que em rodadas anteriores – estão em níveis próximos dos recordes. Durante a primeira metade de 2024, cerca de 39% das transações de startups em estágios avançados foram down rounds. Essa situação é particularmente prevalente nas Series C e além, refletindo uma grande preocupação para os investidores e empreendedores que buscam preservar avaliações estabelecidas anteriormente. Por exemplo, a Stripe, uma empresa indiscutivelmente bem-sucedida, ainda não conseguiu retornar à sua avaliação de $95 bilhões de 2021, alcançando apenas $70 bilhões em uma transação secundária que ocorreu em julho.
Olhando além das dificuldades, no entanto, é possível encontrar um otimismo crescente, embasado por estatísticas que emergem no final de 2024. Dados recentes da Crunchbase indicam um impressionante aumento nas mega rodadas – financiamentos que superam os $100 milhões. Até o momento, foram registradas quase 240 mega rodadas para startups sediadas nos Estados Unidos, o que já ultrapassa as 210 levantadas durante todo o ano anterior. Curiosamente, o setor que mais atraiu esses investimentos não foi o de inteligência artificial (IA), mas sim o de biotecnologia e saúde, que contabilizou 87 mega rodadas, em comparação a apenas 26 no segundo lugar, que é a IA.
Embora algumas dessas rodadas sejam, de fato, relacionadas à IA, como é o caso da Xaira Therapeutics, uma empresa focada em descoberta de medicamentos, vale ressaltar que o seu título também se relaciona com a biotecnologia. A Xaira lançou sua rodada bombástica de $1 bilhão em abril, liderada por ARCH Venture Partners e Foresite Labs, com a participação de investidores emblemáticos do Vale do Silício, como NEA, Sequoia Capital e Lightspeed Venture Partners. Essa fusão de talentos entre setores é um exemplo perfeito da interseção entre biotecnologia e tecnologia de IA, ilustrando como as fronteiras entre esses campos estão cada vez mais indistintas.
Além disso, outras grandes transações no setor de biotecnologia foram realizadas, como a rodada de $120 milhões da Superluminal Medicine, que utiliza aprendizado de máquina para acelerar a descoberta de medicamentos, focando em receptores específicos nas membranas celulares. Isso evidencia uma tendência crescente no setor de biotecnologia, onde a inovação não precisa se apoiar na IA para ser considerada valiosa. Outras grandes rodadas incluem a Terray Therapeutics, que arrecadou $120 milhões, e a Judo Bio, que conseguiu $100 milhões para desenvolver medicamentos direcionados a doenças renais.
O setor de segurança cibernética também tem se destacado, acumulando 16 mega rodadas até o momento. Startups como a Kiteworks, que levantou $456 milhões, a Cyera, com $300 milhões, e a Wiz, que arrecadou impressionantes $1 bilhão, são exemplos do crescente interesse e investimento nesse campo, evidenciando a necessidade contínua de soluções robustas em um mundo cada vez mais digital.
Além das boas notícias para os investimentos em setores emergentes, também existem sinais encorajadores para empreendedores em estágios iniciais. O relatório da Aumni indicou uma leve melhora nas avaliações pré-dinheiro para propostas de seed e Series A na primeira metade do ano. Também é importante notar que o volume de transações em 2024 parece manter um ritmo semelhante ao de 2023, que registrou pouco menos de 16.000 operações. Esse número se encontra ligeiramente acima da média anual antes da pandemia e da frenética atividade do capital de risco de 2020-2021, que foi impulsionada por duas taxas de juros próximas de zero.
Para aqueles que desejam se aprofundar nas estratégias de captação de recursos, haverá sessões no TechCrunch Disrupt 2024, abordando temas como “O que você precisa para levantar uma Série A hoje” e “Como levantar em 2025 se você tiver feito uma rodada estável, para baixo ou uma extensão”. Essas discussões prometem fornecer insights valiosos e direcionamentos práticos para empreendedores enfrentando um mercado em constante evolução.
Diante deste cenário multifacetado, fica claro que, embora desafios ainda persistam, as oportunidades para empresas inovadoras e setores promissores estão longe de se esgotar. O ecossistema de capital de risco continua a evoluir, e é necessário que fundadores, investidores e observadores do mercado se mantenham atentos às tendências e desenvolvimentos, pois o futuro pode reservar surpresas significativas.