Durante sua campanha presidencial, o ex-presidente Donald Trump procurou se distanciar de um plano controverso conhecido como Projeto 2025, elaborado por ativistas conservadores para um possível segundo mandato. Há uma intensa discussão sobre se seus aliados implementarão partes deste plano caso ele vença as eleições em 2024. Entretanto, um outro projeto ainda mais abrangente e radical começou a surgir das próprias palavras de Trump, no qual figuras heterodoxas como Robert F. Kennedy Jr. e Elon Musk seriam empoderadas para efetuar mudanças significativas no funcionamento do governo federal. Aqui, examinaremos o que Trump e as personalidades que pretende incluir em sua gestão afirmaram que fariam ao assumirem novamente a Casa Branca.

RFK Jr.: prometendo liberdade radical em saúde pública

Trump garantiu que daria a Kennedy total liberdade para reformar a estrutura de saúde governamental e como ela protege os cidadãos americanos. “Vou deixá-lo atuar à vontade na área de alimentos. Vou deixá-lo fazer o que quiser em relação aos medicamentos”, afirmou Trump em um comício realizado no Madison Square Garden. Embora muitos dos ideais de Kennedy pareçam positivos, como sua proposta “Make America Healthy Again”, que se compromete a priorizar a agricultura regenerativa e eliminar toxinas do meio ambiente, faltam detalhes específicos sobre como essas mudanças seriam implementadas. Além disso, alguns episódios em sua vida levantam dúvidas sobre sua capacidade de servir ao governo. Por exemplo, Kennedy já comparou exigências de vacinação com o período da Alemanha nazista, além de ter sido preso por posse de heroína e promovido teorias da conspiração que vinculam os produtos químicos na água a transformações de gênero entre crianças.

Vale ressaltar que a própria saúde de Kennedy é assunto de preocupação; em uma entrevista, ele revelou ter sofrido um quadro de “nevoeiro cerebral” severo devido ao consumo excessivo de peixes, resultado da contaminação por mercúrio. Em um vídeo, Kennedy relatou aos apoiadores que Trump lhe prometeu poderes amplos sobre várias agências do governo. “A chave que o presidente Trump me prometeu é o controle das agências de saúde pública”, afirmou Kennedy, citando a Health and Human Services (HHS) e suas sub-agências, como o CDC e o FDA, além do Departamento de Agricultura (USDA), fundamental para proporcionar saúde e segurança alimentar aos cidadãos. É importante ressaltar que já existem reservas na comunidade de saúde pública sobre as propostas de Trump e Kennedy, especialmente devido à crescente desconfiança em relação às vacinas.

Musk: a reinvenção do governo federal sob sua ótica

Com um papel consideravelmente mais amplo do que o de Kennedy, Musk, um entusiasta financeiro e apoiador fervoroso de Trump, estaria encarregado de uma redução drástica do governo federal. Esta situação levanta preocupações em relação a potenciais conflitos de interesse, já que muitas das empresas de Musk, como SpaceX e Tesla, têm interesse em fazer negócios com o governo. Ademais, Musk expressou em público que poderia ser o responsável por um novo “Departamento da Eficiência do Governo”, e até mesmo aventou a hipótese de cortar até 2 trilhões de dólares em gastos do governo, possivelmente com o auxílio de tecnologias de inteligência artificial.

Embora Musk tenha prometido uma abordagem amigável ao demitir trabalhadores do governo, oferecendo pacotes de rescisão generosos, especialistas, como o ex-secretário do Tesouro Larry Summers, alertam que não há sequer 2 trilhões de dólares a serem economizados com demissões em massa. Os gastos do governo foram de aproximadamente 271 bilhões de dólares para compensar 2,3 milhões de funcionários civis em 2022, o que impossibilita a obtenção de tais economias sem abordar áreas críticas como a Seguridade Social e o Medicare, temas que Trump se comprometeu a não tocar.

As promessas de reforma na saúde e suas limitações práticas

Recentemente, o porta-voz da Câmara, Mike Johnson, um aliado importante de Trump, anunciou em um evento na Pennsylvania que, caso Trump vença e os republicanos mantenham a maioria na Câmara, haverá uma “grande” reformulação do sistema de saúde. A proposta de “sem Obamacare” foi ecoada pelo público, ao que Johnson confirmou. Durante debates, Trump mencionou que tem “conceitos” para um novo plano de saúde, mas até o momento, os detalhes não foram revelados publicamente. Vale lembrar que suas tentativas anteriores de revogar a Affordable Care Act falharam, mas a reestruturação do sistema de saúde continua a marcar presença nas prioridades da agenda republicana.

Contudo, promessas ousadas requerem que se leve em conta a complexidade da máquina governamental norte-americana. Mudanças drásticas enfrentariam sérias barreiras. Um senado com pelo menos 40 senadores poderia bloquear tentativas efetivas de derrubar o Affordable Care Act. Além disso, a confirmação de nomes para cargos de alto escalão exigiria a aprovação do senado, e não está claro se Kennedy conseguiria votos suficientes para tal. Mesmo que fosse alocado em uma posição relevante, o impacto de suas ações seria limitado sem o respaldo do Congresso e sua aprovação em propostas substanciais.

Portanto, em um cenário em que Trump, Musk e Kennedy estão entrelaçados na oferta de promessas ambiciosas, a realidade poderia desafiar a viabilidade dessas promessas. Resta-nos aguardar para ver se o vapor dessas ideias será transformado em ação palpável ou se permanecerão apenas como um discurso de campanha repleto de aspirações sem compromisso.

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