Compromisso com acesso amplo e colaboração é criticado por ambiguidade
Recentemente, a OpenAI divulgou uma declaração em seu site que promete não utilizar suas patentes de forma ofensiva, em uma tentativa de reafirmar seu compromisso com princípios de “acesso amplo” e “colaboração”. Segundo a empresa, a utilização de suas patentes se dará exclusivamente para garantir a inovação dentro do setor. O documento destaca que a OpenAI se compromete a utilizar suas patentes apenas de modo defensivo, a menos que uma parte envolvida a ameace ou faça uma reivindicação, inicie um processo judicial, colabore com terceiros em tais atividades ou se envolva em ações que prejudiquem a empresa ou seus usuários. Contudo, especialistas questionam a validade e a clareza desse comprometimento, considerando que se trata de uma declaração mais superficial do que um comprometimento real.
Análise crítica da declaração de patentes da OpenAI
Contrapondo-se a compromissos de empresas renomadas, como a promessa da IBM, feita em 2005, de não utilizar 500 patentes específicas contra desenvolvedores de software de código aberto, a declaração da OpenAI se mostra ambígua e vaga, segundo Mike Borella, parceiro da MBHB. A falta de clareza na definição do que a empresa considera como uso “defensivo” levanta questões sobre quais atividades poderiam ser vistas como “prejudiciais” para a OpenAI ou para seus usuários. Borella observou que a formulação final da declaração “parece ser a exceção que engole a regra”, já que pode ser interpretada de diversas maneiras, abrangendo desde concorrentes diretos até críticos que abordam as falhas do ChatGPT.
Outro ponto destacado é a limitação do portfólio de patentes da OpenAI, que segundo Borella, pode não ter substância para ser utilizada em um cenário de defesa. A estratégia de propriedade intelectual da empresa está muito mais vinculada a segredos comerciais, o que inclui dados e métodos de treinamento confidenciais. Patent applications submetidas ao Escritório de Patentes e Marcas dos EUA geralmente não são publicadas até dezoito meses após o pedido, mas atualmente, apenas um número reduzido de patentes da OpenAI foi concedido.
Além disso, é importante ressaltar que a promessa da OpenAI se configura como um compromisso voluntário, sem caráter vinculativo, diferentemente de um contrato ou garantia. A questão da validade legal dessa declaração é debatida por especialistas, como Shubha Ghosh, professor da Universidade de Syracuse e especialista em direito de propriedade intelectual, que observa que, independentemente do compromisso firmado, ele não limita a OpenAI no exercício de seus direitos sob as leis de direitos autorais, segredos comerciais ou contratuais. Ghosh afirmou que o código fonte que orienta o ChatGPT estaria protegido pelas leis de direitos autorais e segredo comercial, e que os termos da empresa contidos em seus termos de serviço ainda seriam percebidos como contratos. Portanto, se a OpenAI adotar uma conduta que contrarie a declaração, como processar outra empresa ou indivíduo por infração de patente, o que a companhia pode perder é credibilidade temporária.
Declaração da OpenAI gera reações no setor tecnológico e suas implicações
As reações à declaração da OpenAI foram variadas, com muitos a considerando como um sinal vazio de virtude que visa a melhorar a imagem da empresa diante da comunidade tecnológica e dos reguladores, mais na linha do que foi observado na promessa indefinida da Tesla em 2014. Borella descreveu a declaração como um “tigre de papel” que, ao final, não resulta em um esforço substancial para promover competição saudável no mercado. Diante do cenário de incertezas e ambiguidade geradas por essa declaração, a OpenAI se vê em um momento em que suas intenções e práticas precisam ser escrutinadas de perto, não apenas por especialistas em propriedade intelectual, mas também por toda a comunidade tecnológica que busca um desenvolvimento ético e responsivo no campo da inteligência artificial.
Dessa forma, a OpenAI, que almeja ocupar um espaço de liderança na inovação tecnológica, deverá esclarecer suas políticas de propriedade intelectual para que seu compromisso com a defesa da inovação não se torne apenas uma questão retórica, mas um reflexo de práticas concretas que beneficiem a indústria de tecnologia e os usuários de suas inovações. A expectativa é de que, em um futuro próximo, a empresa possa se posicionar de forma mais clara e objetiva em relação ao uso de suas patentes e em como esses direitos se articulam com o avanço e a democratização do conhecimento no setor tecnológico.