Uma questão crescente entre os profissionais criativos nas últimas semanas ganhou destaque com a divulgação de uma petição que reúne mais de 11.500 assinaturas, incluindo nomes de peso como o ator Kevin Bacon, o romancista Kazuo Ishiguro, o músico Robert Smith e o jornalista e historiador Sidney Blumenthal. Essa petição tem como objetivo criticar o uso não autorizado de obras criativas para o treinamento de inteligência artificial (IA) generativa, um assunto que está gerando intensos debates em diversas esferas, desde as arenas artísticas até as legislativas. Os signatários da carta alertam que “o uso não licenciado de obras criativas para o treinamento de IA generativa é uma ameaça injusta e significativa aos meios de subsistência das pessoas por trás dessas obras e não deve ser permitido.”
A relevância dessa petição se intensifica em um momento em que as autoridades estão avaliando a forma como os dados são extraídos para o desenvolvimento de IAs generativas. Segundo informações da publicação Financial Times, a semana passada trouxe à tona planos do governo do Reino Unido de consultar a população sobre um modelo de “opção de exclusão” para a coleta de conteúdo em plataformas de IA. Essa proposta, embora inicialmente possa parecer uma solução viável, levanta questões sobre a proteção dos direitos autorais e a propriedade intelectual em um cenário em rápida expansão como o da inteligência artificial.
A iniciativa para a criação da petição partiu do compositor britânico Ed Newton-Rex, que anteriormente ocupou posição executiva na Stability AI. O compositor tem se mostrado profundamente preocupado com a situação, afirmando que os criadores sentem-se desumanizados, um fato que ele atribui à maneira como as empresas de IA referem-se às suas obras como “dados de treinamento”. Essa terminologia, segundo Newton-Rex, diminui o padrão e o valor do trabalho artístico, tratando-o meramente como um recurso disponível para alimentar algoritmos, em vez de reconhecer o esforço e a criatividade envolvidos.
A petição não apenas abrange indivíduos do mundo das artes, mas também reverbera entre acadêmicos e especialistas que discutem as implicações legais e éticas do uso de obras criativas para o treinamento de IAs. O fenômeno não é exclusividade do Reino Unido; em todo o mundo, artistas, escritores e músicos estão levantando suas vozes em protesto contra práticas que comprometam seus direitos e suas fontes de renda, numa era em que os modelos de geração de conteúdo artificial parecem proliferar sem um controle adequado.
A necessidade de criar um diálogo produtivo entre desenvolvedores de tecnologia e a comunidade artística é mais evidente do que nunca. A indústria da música, por exemplo, já enfrenta desafios com o streaming e as mudanças nos hábitos de consumo. Agora, com o avanço da inteligência artificial, os criadores se veem em uma batalha para preservar sua identidade e direitos autorais. Uma solução para este impasse pode incluir a formulação de novas legislações que regulamentem mais rigorosamente a coleta e o uso de dados criativos, garantindo que os direitos dos criadores sejam respeitados em um mundo onde a tecnologia e a criatividade se entrelaçam de formas cada vez mais complexas.
Assim, a petição liderada por figuras proeminentes do meio artístico não é apenas um chamado à ação, mas também uma reflexão sobre a forma como a sociedade valoriza a criatividade e os criadores. As implicações deste debate tocarão não apenas os artistas diretamente envolvidos, mas também todos nós, que apreciamos e consumimos as diversas formas de expressão artística. Se os criadores não forem protegidos, todos perderemos, pois a inovação artística e cultural que nos enriquece estará em risco. Portanto, seremos todos convocados a participar e a refletir sobre o papel que cada um de nós desempenha nessa importante discussão que moldará o futuro das artes e da tecnologia.