A situação envolvendo a presença de soldados norte-coreanos na Rússia está gerando descontentamento entre as tropas russas à medida que novos áudios interceptados revelam as preocupações dos militares sobre como será a integração e a gestão destes novos recrutas. Tais gravações, obtidas pela Inteligência de Defesa da Ucrânia e divulgadas na última sexta-feira, mostram diálogos que evidenciam um desdém significativo dos militares russos em relação a este reforço militar. A gravação captura russos se referindo a esses novos integrantes como o “Batalhão K” e, em um momento de desânimo, um deles chega a chamá-los de “os malditos chineses”. As interações reveladas nessa interceptação oferecem um vislumbre inquietante sobre a dinâmica que poderá ocorrer em um cenário já tenso de combate.
Os áudios, interceptados de canais de transmissão encriptados russos na noite de 23 de outubro, também apontam para planos estratégicos relacionados à movimentação das tropas norte-coreanas, que estaria programada para a manhã do dia 24 na região de Kursk, próxima à Ucrânia. Essa área já foi alvo de incursões ucranianas anteriormente. Os russos expressam preocupação sobre a estrutura de comando que será necessária para integrar os soldados da Coreia do Norte, mencionando a necessidade de um intérprete e três oficiais seniores para cada 30 soldados norte-coreanos. Essa demanda claramente cria um aperto logístico para o exército russo, que já enfrenta suas próprias dificuldades operacionais.
Um dos soldados russos comentou sobre a integração: “A única coisa que eu não entendo é que deveria haver três oficiais seniores para 30 pessoas. Onde vamos arrumar isso? Teremos que tirá-los de algum lugar”, expressou, demonstrando a angústia e a confusão sobre a situação. Outro soldado deixou transparecer a incredulidade sobre a chegada de 77 comandantes de batalhão ao afirmar: “Eu estou falando sério, vêm 77 comandantes de batalhão amanhã, e há comandantes, vice-comandantes e assim por diante”. O tom de frustração é claro, refletindo a incerteza sobre o grau de eficiência que os novos recrutas poderão trazer às já sobrecarregadas forças armadas russas.
A presença de militares norte-coreanos foi confirmada por comunicados da inteligência militar da Ucrânia, que afirmou que alguns soldados, previamente treinados na região do extremo oriente da Rússia, foram avistados em Kursk, uma área estrategicamente significativa que faz fronteira com a Ucrânia, onde operações militares têm ocorrido. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, revelou que recebeu relatórios acerca da integração dos soldados norte-coreanos e indicou que, de acordo com a inteligência, entre os dias 27 e 28 de outubro, a Rússia deve enviar esses novos militares para zonas de combate.
Em uma crítica incisiva ao recente encontro do BRICS em Kazan, realizado pelo presidente russo Vladimir Putin, Zelensky argumentou que a capacidade militar norte-coreana deveria ser tratada com seriedade, insistindo que a colaboração entre Moscovo e Pyongyang representa uma escalada significativa no conflito. “Esse é um passo claro na escalada por parte da Rússia que importa, ao contrário de toda a desinformação que circula em Kazan nesses dias”, ressaltou Zelensky, expressando sua preocupação com a potencial evolução da situação.
Durante a cúpula do BRICS, o Kremlin inicialmente negou as alegações sobre a integração de tropas norte-coreanas no território russo, embora Putin não tenha descartado a confirmação de soldados enviados por Pyongyang. O presidente ucraniano, enfatizando a gravidade da situação, pediu que a comunidade internacional respondesse com ações concretas e pressão sobre os dois países para que respeitem a Carta da ONU e cessem a escalada militar.
A situação permanece em desenvolvimento, e as condições no campo de batalha continuam a ser monitoradas de perto. À medida que a Rússia se prepara para integrar militares norte-coreanos nas suas operações, as preocupações levantadas pelos próprios soldados russos indicam que a incerteza e a complexidade das operações no terreno podem aumentar, gerando novos desafios em uma guerra que já é marcada por tensões e conflitos profundos.