Parcerias Fortes em Tempos de Incerteza: O Legado de Biden e Scholz

O presidente Joe Biden, em seus últimos meses de mandato, se prepara para receber um público global que se mostra cansado das guerra e cauteloso em relação à política dos Estados Unidos, especialmente no que diz respeito às complexas dinâmicas das alianças internacionais. No decorrer de sua presidência, Biden tem construído uma estreita relação com o chanceler alemão Olaf Scholz, fundamentada em ideais democráticos e valores compartilhados. Em contrapartida, Scholz se comprometeu politicamente em diversas situações para apoiar Biden, incluindo a liberação de um criminoso russo em terras alemãs como parte de um acordo que permitiu a libertação de três cidadãos americanos detidos na Rússia. Além disso, a Alemanha alterou sua política de defesa de longa data, permitindo que a Ucrânia utilizasse tanques de fabricação alemã em seu combate à Rússia. Scholz expressou otimismo em relação à capacidade de Biden durante uma entrevista antes da cúpula do 50º aniversário da OTAN em Washington, afirmando que “subestimar o presidente seria um grande erro.” Este encontro em Berlim, além de reforçar a colaboração, também serve como uma espécie de despedida para um presidente que sempre valorizou as alianças como meio de resolução de conflitos.

Um Encontro de Líderes e Desafios Emergentes na Europa

Durante sua visita à Alemanha, Biden se reunirá com o presidente Frank-Walter Steinmeier e com Scholz, onde anunciará um novo programa de intercâmbio entre Estados Unidos e Alemanha, além de um diálogo voltado para o alinhamento de investimentos privados com tecnologias emergentes, como a inteligência artificial. A reunião tem como objetivo não apenas agradecer ao chanceler pelo apoio duradouro ao longo dos anos, mas também discutir prioridades compartilhadas em questões globais, especialmente em relação às instituições democráticas. Adicionalmente, Biden participará de uma reunião com os líderes do Reino Unido, França e Alemanha, chamada de “Quadro Europeu,” para abordar desafios globais prementes, desde o plano de vitória da Ucrânia até a crise em curso no Oriente Médio. Os acontecimentos ocorrem num momento crítico, com a população americana se preparando para as eleições em menos de três semanas e em meio a pontos de inflexão na guerra da Rússia na Ucrânia, bem como no conflito entre Israel e Hamas. Entretanto, conforme comunicou um funcionário sênior da administração, não há expectativas de mudanças concretas nas políticas resultantes da visita de Biden.

Os encontros agendados para este dia de reuniões oficiais, que descaracterizaram a visita de estado planejada anteriormente devido à passagem do furacão Milton pelos EUA, servirão para discussões aprofundadas sobre temas chave, incluindo as crescentes dificuldades que a Ucrânia enfrenta, onde os aliados divergem na abordagem ao plano de vitória do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ao mesmo tempo, a situação no Oriente Médio, marcada por ataques de mísseis da Irã, também será uma pauta importante entre os líderes. Reconhecido por sua abordagem de “minilateralismo,” a administração Biden tem buscado criar coalizões menores com nações que partilham interesses comuns, ao invés de conflitar com grandes instituições globais que têm se tornado alvo de ceticismo em meio ao aumento do populismo na Europa e nos Estados Unidos.

Um Legado de Minilateralismo e as Expectativas para o Futuro

Por meio de uma estratégia de minilateralismo, Biden tem trabalhado para reunir apoio para imposição de sanções à Rússia e ao Irã, além de estabelecer tarifas e controles de exportação dirigidos à China. Mesmo com a Alemanha perdendo o status de principal parceiro comercial dos EUA, o impacto da estratégia de Biden é visível em iniciativas que destinam bilhões de dólares para investimentos em infraestrutura na África e no Sudeste Asiático, como forma de criar uma resistência à influência da China. No entanto, críticos da administração argumentam que essas iniciativas fortaleceram as alianças, mas não impediram que adversários intensificassem suas ações. O CEO do Atlantic Council, Fred Kempe, sugere que a cautela de Biden pode ter incitado o comportamento agressivo de nações como Rússia, China, Coreia do Norte e Irã. Em seu artigo, Kempe observa que a resposta dos EUA e aliados em relação à cooperação crescente entre esses países continua a ser insatisfatória. Isso levanta questões a respeito da eficácia da abordagem adotada por Biden nas questões de segurança internacionais no momento em que a confiança nas suas decisões políticas é testada.

A Popularidade de Biden e os Desafios Políticos Internos

Em sua visita, Biden se depara com um nível de popularidade específico na Alemanha, onde 63% dos entrevistados expressam confiança em seu governo, de acordo com pesquisas realizadas pelo Pew Research Center. Tal confiança é ainda mais elevada em países como Polônia, onde 70% dos cidadãos apoiam o presidente. Em países da África, como o Quênia, e nas Filipinas, a taxa de aprovação é de 75% e 77%, respectivamente, beneficiados por um aumento nas relações bilaterais e novos projetos de infraestrutura com vistas a neutralizar a crescente influência da China. Contudo, a média global de aceitação de Biden sofreu uma queda, particularmente por conta da forma como sua administração tem lidado com a volatilidade no Oriente Médio desde 7 de outubro, levando a um declínio acentuado entre 2023 e 2024, conforme a análise de Richard Wike, diretor do Pew. Estas preocupações são especialmente relevantes com as eleições norte-americanas se aproximando, onde a presença do ex-presidente Trump paira como um grande tema durante as reuniões internacionais. Diplomatas estrangeiros expressam alívio com a eleição de Biden em 2020, mas agora se vêem inseguros com a apresentação de Biden em debates, que pode estar permitindo um retorno avassalador de Trump nas pesquisas eleitorais.

Conforme as nações aliadas analisam a crescente tensão com a Rússia, veem-se forçadas a decidir se devem apoiar táticas mais agressivas, como tem sido exhortado por Zelensky, buscando um rápido desfecho da guerra. A situação requer uma reflexão abrangente em comparação com o cenário vivido durante os últimos dias da presidência de Barack Obama, quando este se viu na necessidade de reafirmar aos aliados na Alemanha e na Grécia que os Estados Unidos não abandonariam seus compromissos internacionais diante da ascensão de Trump. O alerta do ex-presidente sobre a necessidade urgente de resistir a um nacionalismo exacerbado, focado em divisões étnicas e tribais, continua a ser pertinente enquanto o futuro global se enquadra na luta por forças que promovam a unidade ao invés da separação que frequentemente leva a conflitos de maior escala, ilustrando a importância das alianças em tempos de incerteza e instabilidade.

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