A data de formatura de 2023 ficou marcada por um acontecimento inesperado para os trainees da elite dos surfmen da Guarda Costeira dos Estados Unidos. O que deveria ser um último exercício de treinamento se transformou em uma verdadeira missão de resgate. A situação se agravou rapidamente para um barco à deriva, que começava a tomar água, em uma das inlets mais perigosas do país. O local, onde o rio Columbia se encontra com o Oceano Pacífico, é conhecido por apresentar algumas das piores condições climáticas e das mais altas ondas nas águas americanas. O desafio enfrentado pelos homens durante o treinamento foi descrito pelo Chefe Eric Ceallaigh, o instrutor principal da National Motor Lifeboat School, que relatou: “Neste momento estamos diante de ondas quebrando de 25 a 35 pés. Ventos de 50 nós. Está chovendo e granizando.”

A formação dos surfmen: um rigoroso processo de seleção

Ser um surfman na Guarda Costeira é uma tarefa que demanda extrema bravura e habilidade. Comparado a ser um Navy SEAL ou membro das Forças Especiais do Exército, apenas cerca de 130 dos aproximadamente 40.000 membros da Guarda Costeira são surfmen em serviço ativo, segundo o comandante da escola de salvamento, Tim Crochet. Para obter a certificação como surfman, o indivíduo deve demonstrar não apenas competência técnica, mas também a confiança da Guarda Costeira para pilotar botes de salvamento em missões cruciais. Os “checks”, ou medalhões que representam cada surfman, estão em exibição na entrada da escola, simbolizando a nobre tradição de resgate que começou com o Serviço de Salvação Marítima em 1972 e que, após renomeação, passou a ser conhecido como Guarda Costeira em 1915.

Para se ter uma ideia da importância dessa qualificação, o medallion de Crochet é o número 407 exposto na parede, enquanto Ceallaigh ostenta a tatuagem de seu número, 545, em sua mão. Durante a sessão inaugural da escola, Ceallaigh recitou em voz alta o “Creed dos Surfmen”, onde se compromete a nunca colocar sua equipe, barco ou si mesmo em perigo desnecessário, mas sim a se arriscar livremente para salvar aqueles que estão em perigo. Um fato curioso e digno de nota é que, apesar da turma deste ano ser composta exclusivamente por homens, há quase uma dezena de surfmen do sexo feminino que também lutam pelas mesmas conquistas.

Requisitos intensos e desafios de treinamento

No primeiro dia de aula, Ceallaigh e os demais instrutores levaram os alunos para um mergulho nas turbulentas águas da região. O aluno e outros trainees a bordo do barco de 47 pés da Guarda Costeira dos EUA observavam atentamente cada movimento do leme e alertavam uns aos outros sobre as ondulações que se aproximavam. “Expondo-os a um grande número de condições de surf ao longo de quatro semanas, conseguimos proporcionar mais experiência do que eles teriam em anos em suas próprias unidades,” comentou Ceallaigh. À medida que navegavam em mares cada vez mais tempestuosos no início do curso, tinha-se a clara impressão de que Ceallaigh preferiria estar à frente do leme de seu barco a qualquer outra coisa. Contudo, ele também enfatizava a seriedade do treinamento, ensinando seus pupilos a decifrar cada ondulação com precisão.

Certa vez, quando não conseguiu desviar de uma onda imponente, Ceallaigh executou uma manobra fundamental conhecida como “squaring up”. Este movimento consiste em direcionar a proa do barco diretamente em direção a uma onda quebrando — especialmente quando esta é de grande porte. Ceallaigh explicou ainda que, em condições extremas, um barco poderia facilmente ser submerso, mas teria chance de reemergir na mesma direção. Durante as quatro semanas seguintes, os alunos assumiram o comando diariamente, recebendo aprovações e correções de Ceallaigh à medida que se aprimoravam no controle das embarcações e na execução de missões simuladas, como resgatar alguém da água, utilizando um manequim. Naquela jornada, o que deveria ser mais uma simulação rapidamente se tornou uma missão de resgate real.

Dia da formatura: superação e batalhas enfrentadas

Além de ser o dia da graduação para os surfmen, 2023 teve também a graduação da escola avançada de resgate em helicópteros. O nadador de resgate John Walton desceu do helicóptero e nadou rapidamente rumo ao barco em dificuldades, um episódio que Ceallaigh descreveu como a primeira operação de resgate de Walton. “Ele conseguiu recuperar o indivíduo do Sandpiper logo antes que uma onda de mais de 30 pés virasse o barco várias vezes,” acrescentou. O evento de formatura dos nove surfmen que completaram o curso em 2024 foi bem mais tranquilo. Mesmo com a conclusão do treinamento, a maioria deles precisou retornar às suas unidades-base para a aprovação final de seus oficiais. Entretanto, Dorian Casey e Trenton Campbell foram agraciados com uma grata surpresa: seus comandantes estavam presentes, prontos para conceder as honras na cerimônia.

Campbell, emocionado, recebeu abraços de seus treinadores e colegas de classe antes de se dirigir de volta ao seu lar na Estação do Rio Quillayute, na costa de Washington, pronto para cumprir com o chamado que o motivou a se alistar na Guarda Costeira. “Estamos em treinamento para a oportunidade de salvar uma vida humana,” declarou Campbell, em um testemunho que ressoa não só no coração de seus companheiros, mas também no futuro daqueles que precisam de ajuda nas perigosas águas daquela região. Essa jornada de superação, coragem e dedicação não é apenas uma história desses homens ousados, mas representa a luta constante de muitos outros que, assim como eles, se encontram prontos para enfrentar os desafios do mar em busca de oferecer proteção e salvar vidas.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *