A crescente competição global, impulsionada por inovações tecnológicas, tem elevado um clamor comum entre líderes políticos e empresários na Europa: a necessidade de ações radicais para que o continente mantenha sua competitividade. Dentro desse contexto, surge uma proposta que está ganhando destaque nas discussões sobre reforma corporativa. Trata-se da criação de um novo status corporativo abrangente, denominado “EU Inc”, que promete revolucionar o cenário empresarial europeu tal como a figura do Delaware C-Corp já fez nos Estados Unidos.

O conceito de EU Inc, formalmente referenciado como o “28º regime”, é apoiado por um movimento grassroots formado por empreendedores e investidores de capital de risco. Desde seu lançamento em 14 de outubro, a petição para o EU Inc já arrecadou cerca de 11.000 assinaturas, refletindo a urgência e o desejo da comunidade startup por um sistema que simplifique o processo de criação e operação de empresas em toda a Europa. Diferente da ‘Societas Europaea’, criada anteriormente com a intenção de atender a empresas maiores, mas que não conseguiu ganhar aceitação, o EU Inc busca preencher uma lacuna significativa no mercado europeu, permitindo uma forma mais eficiente de empreendimentos inovadores crescerem e se expandirem além das fronteiras nacionais.

O suporte à petição vem de figuras influentes no cenário empresarial, como os renomados investidores Niklas Zennström e Patrick Collison, bem como de um dos líderes do movimento, o investidor Andreas Klinger. Klinger expressa que muitos empreendedores, incluindo ele mesmo, passaram a optar por estruturas corporativas do Reino Unido devido à complexidade e às dificuldades de exercer opções de ações em países como França e Alemanha. Ele destaca que os desafios enfrentados pelas startups na Europa são “problemas estruturais muito fundamentais”. Esse reconhecimento levou os apoiadores do EU Inc a uma mobilização junto à Comissão Europeia, defendendo a criação de um novo regime que, segundo eles, é altamente desejado e urgente para o setor de startups.

A proposta de EU Inc inclui um roadmap que estipula a entrega da petição final para 1º de dezembro, na esperança de que a nova comissão da UE inclua a iniciativa em sua agenda nos próximos cinco anos. Esse apoio interno à ideia é ainda mais fortalecido por relatórios encomendados a personalidades como Enrico Letta e Mario Draghi, que sugerem a adoção desse novo regime, juntamente com a forte presença do apoio da presidente Ursula Von der Leyen. No entanto, a intensa concorrência por atenção entre diversas questões e setores dentro da UE representa um desafio a ser cuidadosamente manejado, pois a continuidade da pressão é vital para que o movimento não perca fôlego.

A mobilização em favor do EU Inc já está em andamento, com a influência significativa da organização de lobby francês para startups e capital de risco, a France Digitale. Seus documentos de trabalho já estavam sendo elaborados antes do lançamento da campanha EU Inc e agora conquistaram endossos de várias associações de startups em toda a Europa. A adesão nacional pode ser crucial para o sucesso da iniciativa, especialmente devido ao nível de detalhe que a France Digitale incorporou à sua proposta após discussões com parceiros do setor. Um dos pontos mais relevantes é a escolha por um “regulamento” em vez de uma diretiva, a fim de evitar disparidades indesejáveis nas transposições nacionais. Essa abordagem visa não repetir os erros do modelo Societas Europaea, que se mostrou complexamente inviável para startups e pequenas e médias empresas.

Assim, os defensores do EU Inc estão decididos a aprender com experiências passadas e a proporcionar um ambiente regulatório favorável para as empresas. Martin Mignot, parceiro da Index Ventures, observa que sua experiência anterior com a campanha Not Optional, que melhorou as políticas de opções de ações em 11 países europeus, demonstra que é um caminho longo e exige perseverança. Ao mesmo tempo, especialistas expressam preocupações sobre a possibilidade de que a busca pela estrutura equivalente ao Delaware possa ser prejudicada pela burocracia dos estados membros. O advogado Steve Jeitler, da firma E+H Rechtsanwälte, enfatiza que as diferenças nas diretrizes de manutenção de capital entre os países da UE poderiam tornar o EU Inc menos atraente para alguns locais.

Adicionalmente, outras barreiras estão no horizonte. No entanto, Mignot sugere que até mesmo o Reino Unido poderia considerar a adesão ao modelo EU Inc, reconhecendo que soluções centradas na UE têm maior potencial de impacto. É evidente que, independentemente de se tratar de um âmbito mais amplo na Europa ou especificamente na UE, existe uma crescente consagração de que a região não pode permanecer inerte diante das mudanças globais. Afinal, a competição internacional tem se intensificado, como observado pelo investidor de tecnologia profunda Michael Jackson, que destaca a ascensão de potências como a China neste cenário global.

Com essa realidade, a empolgação em torno da proposta EU Inc é palpável entre os envolvidos. Para Klinger, o movimento está amadurecendo de forma encorajadora: “A loucura de tudo isso é que vai realmente acontecer. Este é o nosso mercado dizendo, de forma muito clara, que este assunto é importante.” A consolidação desse novo modelo pode ser a chave não apenas para simplificar processos complicados, mas também para abrir as portas para a inovação, opções de ações e outros aspectos cruciais para o crescimento das startups no continente europeu.

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