A recente estreia de “Venom: The Last Dance”, que ocorreu entre os dias 25 e 27 de outubro de 2024, gerou um misto de reações entre críticos e espectadores, especialmente em território norte-americano. O filme, protagonizado por Tom Hardy, arrecadou apenas 51 milhões de dólares nas bilheteiras dos Estados Unidos, tornando-se a estreia mais fraca da franquia até o momento. Contudo, a performance internacional da produção foi surpreendente, resultando em uma receita global de 175 milhões de dólares, considerando um orçamento que ultrapassa 120 milhões. Essa discrepância nos números suscita reflexões sobre os diferentes padrões de consumo de cinema entorno do mundo e a preferência do público em mercados fora da América do Norte.
A franquia “Venom” já se destacou por sua habilidade em gerar receitas significativas no exterior, e a nova entrega não foi uma exceção. Em especial, a China se destacou como uma das maiores audiências, contribuindo com 46 milhões de dólares, estabelecendo um recorde de abertura no país que remete a lembranças de colossos cinematográficos anteriores. Enquanto a crítica frequentemente desaprueba os filmes da Sony que não envolvem o Homem-Aranha, isso não parece afetar a popularidade da franquia entre os fãs, que demonstram uma fixação crescente pela narrativa do anti-herói simbiótico. Para efeito de comparação, “Venom: Let There Be Carnage”, o anterior da série, obteve uma classificação de 57% no Rotten Tomatoes, destacando-se como um dos filmes de super-herói mais aclamados da Sony, mesmo que essa quantia de aplausos não garanta mais uma oportunidade ao público de ver esses personagens na telona.
Apesar da crítica geralmente contundente, é evidente que a estratégia da Sony tem demonstrado ser extremamente lucrativa através da trilogia “Venom”, que já acumulou mais de 1,5 bilhão de dólares em vendas globais de ingressos, com um custo total de produção de apenas 330 milhões antes das despesas de marketing. Esse tipo de margem, ao contrário do que se poderia imaginar, faz com que as ações da Sony permaneçam elevadas, ao mesmo tempo que frente ao aumento da taxa de filmes com orçamentos esmagadores e retornos em bilheteiras que muitas vezes não justificam gastos, a abordagem cautelosa da Sony liderada por Tom Rothman parece ser um modelo mais seguro e sólido. É uma oportunidade impecável para o estúdio explorar mais de 900 personagens menos conhecidos do universo Marvel interligados ao Homem-Aranha.
Entretanto, este sucesso não é isento de riscos. “Esse tipo de abordagem ao filme pode ser lucrativa e criativamente satisfatória quando realizada corretamente. Em contrapartida, pode diminuir o valor da marca e a boa vontade do público se não for bem executada”, argumenta Paul Dergarabedian, analista da Comscore. E, fato é que a análise do sucesso no cinema de ação frequentemente se apóia não apenas na qualidade do filme em si, mas também na percepção e apelo que os personagens menos conhecidos conseguem estabelecer no público. No caso de “Venom: The Last Dance”, é notável que, embora Hardy represente o icônico anti-herói, os personagens novos que apresentam desafios intrigantes acabam criando novas narrativas cativantes que atraem públicos diversos.
Enquanto isso, o próximo filme da Sony, “Kraven, o Caçador”, marcado para ser lançado em dezembro, apresenta outros desafios. O orçamento é superior a 150 milhões, e, devido às circunstâncias adversas relacionadas à pandemia, desordens laborais e a fila extensa de produções que aguardam para serem completadas, a Sony precisou ajustar sua estratégia de lançamento para garantir o sucesso do filme. O sucesso de “Kraven” e de outros filmes derivados do universo Spider-Man dependerá, em grande parte, de estratégias de marketing sólidas que transmitam claramente a trama e o tom aos espectadores menos familiarizados com a história.
O legado de “Venom”, com suas nuances complexas entre glória e criticas, deixa um espaço intrigante para o futuro do universo de filmes de super-heróis. À medida que a indústria continua a evoluir, a Sony terá que continuar a aperfeiçoar suas abordagens para capturar e manter a atenção do público, mais exigente do que nunca. Com isso, podemos esperar tanto ansiosamente quanto ceticamente as próximas entregas do Venomverse, questionando qual aspecto será mais explorado: a inevitável terrível grandeza duma boa história ou a possibilidade de um criativo fracasso?