A China assistiu a uma reviravolta em sua classificação de bilionários, e o responsável por essa mudança não é outro senão Zhang Yiming, o co-fundador do TikTok. Agora, aos 41 anos, Zhang se destaca como o homem mais rico do país, segundo a lista Hurun de Pessoas Ricas da China de 2024, divulgada recentemente. Sua fortuna impressionante, avaliada em 49,3 bilhões de dólares, é um reflexo do crescimento exponencial da ByteDance, a empresa-mãe do TikTok, que viu suas receitas globais aumentarem em 30% no último ano, atingindo 110 bilhões de dólares.
O TikTok, que foi lançado oficialmente em maio de 2017, rapidamente se tornou uma plataforma de mídias sociais que molda a era contemporânea, especialmente entre os jovens. Contudo, o sucesso da plataforma também atraiu um conjunto de desafios legais, especialmente nos Estados Unidos, onde a aplicação possui quase 200 milhões de usuários. TikTok enfrenta batalhas judiciais tanto em níveis estaduais quanto federais, relacionadas a alegações sobre sua capacidade de proteger menores que utilizam o aplicativo. Além disso, a empresa enfrenta a possibilidade de um banimento abrangente em território americano, caso não se separe de suas operações nos EUA, uma exigência que se tornou lei em abril.
Esse movimento ocorre em um contexto onde as suspeitas de que os laços da empresa com a China poderiam expor os dados pessoais de cidadãos americanos ao governo chinês vêm ganhando força, especialmente à luz das tensões crescentes entre China e Estados Unidos. TikTok refuta todas essas acusações, argumentando que a segurança dos dados de seus usuários é uma prioridade. Entretanto, outros países também possuem preocupações semelhantes, como a Índia, que já impôs uma proibição total ao aplicativo. Aliados ocidentais como Reino Unido, Canadá e Austrália limitaram o uso do TikTok em dispositivos governamentais, mas estas barreiras regulatórias têm tido pouco impacto na popularidade crescente da aplicação na comunidade global.
Em meio a esta turbulência, é importante destacar a trajetória de Zhang Yiming. Ele detém 20% da ByteDance, uma companhia que co-fundou em 2012 ao lado de seu colega de faculdade, Liang Rubo. Zhang conduziu a empresa ao status de uma das marcas mais influentes da tecnologia chinesa antes de deixar o cargo de CEO em 2021. Sob sua liderança, a ByteDance também lançou outros produtos de sucesso, incluindo o popular aplicativo de notícias, Toutiao, e Douyin, versão do TikTok para o mercado chinês. O brilho de Zhang na lista dos mais ricos derrubou Zhong Shanshan, conhecido como o “rei da água engarrafada”, do primeiro lugar após três anos consecutivos dominando a classificação.
Entretanto, o número total de bilionários na China não apresenta um cenário tão optimista. O número de indivíduos que possuem fortuna em dólares na China caiu para 753, uma redução de 142 em relação ao ano anterior. Desde o pico de 1.185 bilionários em 2021, o país perdeu 432 bilionários, representando um terço do total. O total de pessoas listadas na Hurun Report caiu para 1.094, marcando a terceira queda consecutiva e uma redução de 12% em um ano. Essa lista considera aqueles com pelo menos 5 bilhões de yuan, cerca de 700 milhões de dólares, e abrange residentes de Hong Kong, Macao e Taiwan.
Rupert Hoogewerf, presidente da Hurun Report, atribui a queda ao “ano difícil” que a China enfrentou em termos econômicos e no mercado de ações. O país está lidando com desafios económicos significativos, incluindo uma crise no setor imobiliário, elevada dívida das autoridades locais e um consumo que ainda não se recuperou totalmente. “O número de indivíduos nesta lista caiu 25% desde 2021, quando conseguimos identificar 1.465 pessoas com uma fortuna superior a 5 bilhões (de yuan)”, explicou Hoogewerf. A transição visível na lista de ricos sugere que os desenvolvedores imobiliários estabelecidos estão sendo ultrapassados por um novo perfil de empreendedores do setor de tecnologia, novas energias, eletrônicos de consumo, especialmente smartphones, comércio eletrônico, com foco no comércio internacional, bem como produtos de consumo e saúde.
A recente movimentação na lista dos mais ricos da China pode ser um reflexo não apenas do sucesso individual de Zhang Yiming, mas também das complexidades e desafios que o país enfrenta em um cenário econômico em transformação. O que acontecerá nos próximos anos nesta batalha entre inovação e regulação, entre crescimento e segurança, certamente será um tema interessante a se observar.