No leste da Floresta Negra, na Alemanha, próximo à cidade medieval de Rottweil, ergue-se uma estrutura peculiar que chama a atenção de todos que passam por ali. O TK Elevator Testturm, com impressionantes 245 metros de altura, é um dos edifícios mais altos do país, mas possui uma característica surpreendente: está vazio. Isso mesmo! Este arranha-céu não abriga escritórios ou luxuosos apartamentos, mas cumpre uma função singular e essencial no mundo da engenharia: testar elevadores de alta tecnologia.
A ausência de janelas na sua fachada é um indicativo claro de que a finalidade do edifício vai muito além do que a maioria dos grandes prédios urbanos oferece. No centro do Testturm, estão localizados 12 eixos projetados especificamente para avaliar a performance dos mais recentes modelos de elevadores. A relevância desse tipo de estrutura para a indústria de construção e transporte é inegável, especialmente em um mundo onde arranha-céus continuam a se tornar mais altos e complexos.
A TK Elevator, fabricante responsável pela construção do Testturm, é conhecida mundialmente por fornecer elevadores para obras emblemáticas, incluindo o One World Trade Center em Nova York. Além da torre em Rottweil, a empresa já estabeleceu centros de teste em Atlanta e Zhongshan, na China, onde um de seus edifícios atinge impressionantes 248 metros, quase três vezes mais alto que a Estátua da Liberdade. Curiosidade interessante: as torres de teste de elevadores podem ser ainda mais altas, como a H1 Tower, construída pela Hitachi em Guangzhou, que alcança 289 metros.
De acordo com Tomio Pihkala, diretor de tecnologia da Kone, uma renomeada fabricante finlandesa de elevadores, essas torres de teste funcionam de maneira similar a uma pista de teste para equipes de Fórmula 1. Ele explica que o principal objetivo é validar funcionalidades de segurança que só podem ser testadas em um ambiente real. Isso é essencial, pois a velocidade e altura dos elevadores modernos, que frequentemente operam a mais de 30 pés por segundo, exigem testes minuciosos para garantir a segurança de bilhões de usuários ao longo dos anos.
As torres de testes têm atraído a atenção de engenheiros e arquitetos, não apenas pela sua altura, mas também pelos desafios que essas estruturas enfrentam, como ventos fortes que podem causar oscilações. Para garantir que estão prontas para tais condições, muitos desses edifícios incorporam sistemas de amortecimento de massa que, curiosamente, podem criar vibrações em vez de absorvê-las, simulando situações adversas que impactariam o funcionamento dos elevadores.
Recriação de condições operacionais essenciais para elevadores modernos
A Kone, que fez história ao instalar elevadores no Taipei 101 — o mais alto do mundo entre 2004 e 2010 —, colocou em operação sua primeira torre de testes na Finlândia em 1967. Desde então, a empresa adquiriu experiências valiosas, desenvolvendo outras quatro torres, sendo a mais alta delas, finalizada em 2015, em Kunshan, na China, com 236 metros. Pihkala aponta que a experiência adquirida nessas estruturas é única, pois permite simular condições reais de operação dos elevadores, sem a presença de usuários comuns, o que é ideal para garantir um elevado padrão de qualidade e confiabilidade.
Entre os testes realizados nas torres, alguns simulam situações de queda livre, onde sistemas de freio de emergência devem entrar em ação e garantir a segurança dos ocupantes, mesmo que eles não estejam presentes durante os testes. Isso enfatiza a complexidade e a necessidade de precisão nos sistemas de transporte vertical, especialmente em alturas elevadas.
Outro elemento interessante é o local singular da torre mais longa do mundo para testes de elevadores, situada em um mina de calcário em Tytyri, na Finlândia, que alcança uma profundidade de quase 350 metros. Com essa abordagem, a Kone se tornou pioneira no uso de minas como locais para testar elevadores em situações extremas. “Um acordo foi feito para utilizar alguns poços abertos na mina, permitindo-nos testar elevadores destinados a prédios de até um quilômetro de altura”, explica Pihkala.
No ambiente subterrâneo, velocidades de até 19 metros por segundo podem ser atingidas, e os testes de queda livre permitem que estruturas pesadas cheguem a quase 25 metros por segundo. Esse local único conta com 11 poços de teste, com um total que ultrapassa 1.600 metros.
Uma atração turística mais do que um local de testes
A torre de Rottweil não apenas desempenha um papel vital na indústria de engenharia, mas também se tornou uma atração turística. Desde a sua inauguração em 2017, atrai visitantes pela sua arquitetura impressionante e pelas vistas deslumbrantes que proporciona sobre a Floresta Negra. Os turistas têm a oportunidade de participar de corridas de escadas e de experimentar a emoção de subirem em um dos elevadores mais rápidos do entorno, atingindo uma altura de 232 metros em apenas 30 segundos. Durante a viagem, que acontece a uma velocidade de 8 metros por segundo, os visitantes têm a chance de vislumbrar até mesmo os Alpes Suíços em dias claros.
Com um design futurista, a fachada de tecido de fibra de vidro da torre não apenas protege o edifício contra a radiação solar, mas também o tornou um marco arquitetônico local. “Independentemente da época do ano, a torre e a vista sempre proporcionam algo especial”, conclui Beate Höhnle, gerente da torre, ressaltando a importância do Testturm como um espaço de inovação e entretenimento.