Recentemente, dois jarros raros da Dinastia Ming, datados do século XVI, foram leiloados por impressionantes £9,6 milhões (equivalente a aproximadamente $12,5 milhões), superando em muito a estimativa inicial de £1 milhão (ou cerca de $1,3 milhões). O leilão ocorreu na renomada casa Sotheby’s, e a venda desses artefatos únicos provocou uma intensa disputa entre mais de dez colecionadores, que se engajaram em uma emocionante guerra de lances. O termo “emocionante” realmente se aplica, já que a disputa durou cerca de 20 minutos antes que um colecionador particular da Ásia conseguisse garantir a aquisição destas preciosidades.

O que torna esses jarros tão especiais? Eles foram produzidos para o Imperador Jiajing, e a singularidade deste par foi ainda mais acentuada pelo fato de ser a primeira vez que um conjunto completo de jarros de peixe com tampa apareceu em um leilão. A Sotheby’s destacou que, em todo o mundo, este é o trabalho de arte chinês mais caro vendido até agora em 2023. Parte do fascínio em torno desses jarros também reside na raridade, já que existe apenas um outro par coberto conhecido que ainda está integrado, atualmente armazenado no Musée Guimet em Paris.

Além disso, existem apenas três jarros únicos que ainda preservam suas tampas, todos pertencentes a coleções privadas. De acordo com a Sotheby’s, esse par específico esteve guardado em uma coleção de uma família alemã por pelo menos um século, o que adiciona camadas de história a esses já preciosos artefatos. As origens dessa família e a trajetória dos jarros são fascinantes; durante a Segunda Guerra Mundial, os jarros foram removidos junto com a coleção de arte da família para segurança, preservando assim sua integridade histórica mesmo diante da destruição da residência da família em Wiesbaden.

Mencionando a beleza e a história dos jarros, a Sotheby’s observou que os jarros de peixe, que foram fabricados durante o reinado do Imperador Jiajing entre 1522 e 1566, representam um avanço significativo na produção de porcelana, evidenciando a grandiosidade que esses artefatos possuem. Com elaboradas representações de carpas douradas flutuando em lagos repletos de lótus e outras plantas, os jarros não apenas serviram um propósito utilitário, mas também carregaram valores culturais profundos. O Imperador Jiajing era um devoto do Daoísmo, e a imagem do peixe simbolizava a liberdade e a harmonia com a natureza, aspectos que desempenhavam um papel importante no pensamento daoísta.

A crescente valorização do mercado de cerâmicas chinesas ao longo dos anos tem chamado a atenção de colecionadores ao redor do mundo. Segundo Nicolas Chow, presidente dos trabalhos de arte chinesa na Sotheby’s Ásia, o mercado tem experimentado um crescimento notável desde o ressurgimento da economia chinesa a partir do final da década de 1990. “O que observamos é um aumento estonteante nos preços neste campo”, declarou Chow. “A nova riqueza na China gerou um número considerável de indivíduos de alto poder aquisitivo ansiosos para reivindicar seu passado.” A importância do colecionismo de cerâmica na China, com suas raízes que se estendem por milhares de anos, contribui para essa busca incessante por artefatos que refletem uma herança cultural rica e complexa.

Os jarros da Dinastia Ming não são apenas objetos de valor monetário, mas emblemas da história e da cultura chinesas. Ao longo dos séculos, as cerâmicas chinesas passaram por inovações tecnológicas que as tornam incomparáveis em qualquer parte do mundo. A busca por essas peças valiosas não é meramente uma transação comercial; trata-se de uma jornada para recuperar e honrar um legado que perdura ao longo da história da civilização chinesa. Ao pensar no valor pago por esses jarros, é difícil não refletir sobre a profunda conexão entre arte, história e identidade cultural, lembrando que, mesmo em leilões, o passado pode — e frequentemente – se transforma em um presente vibrante e significativo para aqueles que o valorizam.

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