Na última quinta-feira, a Anthropic anunciou uma parceria significativa com a Palantir, empresa de análise de dados, e a Amazon Web Services (AWS), com o intuito de permitir que agências de inteligência e defesa dos Estados Unidos acessem a família de modelos de inteligência artificial Claude, desenvolvidos pela Anthropic. Este movimento reflete a crescente tendência de empresas de inteligência artificial se associarem ao setor defensivo dos EUA, buscando não apenas oportunidades estratégicas, mas também razões financeiras. Recentemente, a Meta revelou suas intenções de oferecer os modelos Llama para parceiros de defesa, enquanto a OpenAI busca estabelecer uma relação mais próxima com o Departamento de Defesa dos EUA.
A responsável pelas vendas da Anthropic, Kate Earle Jensen, destacou que a colaboração com a Palantir e a AWS vai “operacionalizar o uso de Claude” na plataforma da Palantir, aproveitando a infraestrutura de hospedagem da AWS. Vale ressaltar que o Claude já está disponível na plataforma da Palantir desde o início deste mês e agora pode ser utilizado no ambiente credenciado para defesa da Palantir, conhecido como Palantir Impact Level 6 (IL6). Este nível é reservado para sistemas que contêm dados considerados críticos para a segurança nacional, exigindo “máxima proteção” contra acessos não autorizados e manipulações.
Dados que estão nos sistemas IL6 têm uma classificação que pode chegar até o nível “secreto” — o que representa o primeiro nível abaixo de documentos considerados “top secret”. Jensen expressou seu orgulho em estar à frente na oferta de soluções de inteligência artificial responsáveis para ambientes classificados dos EUA, com a promessa de que o acesso ao Claude, através da Palantir na AWS, irá equipar organizações de defesa e inteligência dos EUA com ferramentas poderosas de IA capazes de processar e analisar rapidamente vastas quantidades de dados complexos. Isso, segundo ela, deve melhorar drasticamente a análise de inteligência, facilitando o processo de tomada de decisão dos oficiais, além de otimizar tarefas que consomem muitos recursos e aumentar a eficiência operacional em diversas agências.
Além disso, durante o verão, a Anthropic já havia disponibilizado modelos selecionados do Claude na GovCloud da AWS, um serviço desenvolvido para cargas de trabalho governamentais dos EUA. Essa movimentação sinaliza a ambição da Anthropic em expandir sua base de clientes no setor público. A empresa se posiciona como uma fornecedora mais consciente em termos de segurança se comparada à OpenAI, embora seus termos de serviço permitam que seus produtos sejam utilizados para tarefas como “análise de inteligência estrangeira legalmente autorizada”, “identificação de campanhas de influência ou sabotagem secretas” e “fornecimento de alertas antecipados sobre potenciais atividades militares”. Isso levanta questões sobre o papel da inteligência artificial em contextos que envolvem segurança e defesa nacional.
A Anthropic afirma que “[ajustará] as restrições de uso à missão e às autoridades legais de uma entidade governamental”, considerando fatores como “o grau de disposição da agência em manter diálogo contínuo”. No entanto, a empresa ressalta que tais restrições não se aplicam a sistemas de IA que, na sua avaliação, “aumentem substancialmente o risco de uso catastrófico”, que demonstrem “capacidades autônomas de baixo nível” ou que possam ser utilizadas em campanhas de desinformação, no design ou na implementação de armamentos, censura, vigilância interna e operações cibernéticas maliciosas.
O interesse do governo em adotar a inteligência artificial é inegável. Uma análise realizada em março de 2024 pelo Brookings Institute apontou um aumento de 1.200% nos contratos governamentais relacionados à IA. Entretanto, algumas divisões, como o Exército dos EUA, têm se mostrado lentas na adoção dessa tecnologia e permanecem céticas em relação ao retorno sobre investimento. Em meio a esse panorama, a Anthropic, que recentemente se expandiu para a Europa, encontra-se em negociações para arrecadar uma nova rodada de financiamento, com uma avaliação que pode chegar até US$ 40 bilhões. Até o momento, a empresa já levantou aproximadamente US$ 7,6 bilhões, incluindo compromissos futuros, sendo que a Amazon aparece como seu maior investidor.