O arcebispo de Canterbury, Justin Welby, anunciou sua renúncia após a pressão crescente sobre o seu papel no manejo de um caso de abuso infantil, conforme revelado por relatórios recentes que expuseram ações e omissões graves da Igreja da Inglaterra. Welby, a mais alta autoridade da Igreja, fez o anúncio em uma declaração oficial, destacando a necessidade de assumir responsabilidade pessoal e institucional pela tragédia que se desenrolou ao longo de anos. O caso sob investigação diz respeito a abusos horríveis cometidos por John Smyth, um advogado britânico falecido que foi identificado como um dos piores abusadores associados à Igreja Anglicana.

Na sua declaração, Welby afirmou: “Tendo buscado a graciosa permissão de Sua Majestade, o Rei, decidi renunciar ao meu cargo de arcebispo de Canterbury.” A decisão de renunciar parece ser uma resposta direta aos resultados de uma análise independente que detalhou um padrão preocupante de proteção e silêncio em torno das atividades de Smyth, que se dedicou a abusos físicos, sexuais e psicológicos direcionados a jovens sob sua supervisão durante décadas. O relatório, feito a pedido da própria Igreja, foi divulgado em 7 de novembro e concluiu que crimes sérios foram encobertos, o que levou a uma fortíssima crítica não apenas a Smyth, mas também às autoridades da Igreja que permitiram que isso acontecesse.

O relatório destacou que Welby, embora informado sobre os abusos em 2013 e acreditando que a polícia havia sido notificada, não agiu com a urgência necessária para assegurar que a situação fosse devidamente resolvida. Em seu pronunciamento, o arcebispo admitiu que errou ao confiar que o sistema proporcionaria uma solução adequada aos casos revelados, dizendo que ficou claro para ele que assumiria responsabilidade pelos anos de inação que se seguiram.

Os abusos perpetrados por John Smyth ocorreram entre os anos 1970 e 2018, afetando cerca de 130 jovens, que incluíam tanto membros de sua própria família quanto participantes de acampamentos de verão evangélicos que ele organizava. O exame das circunstâncias que cercaram esse caso revelou que durante décadas, a liderança da Igreja tinha conhecimento das ações de Smyth e, ainda assim, falhou em tomar as medidas necessárias para impedir que novos abusos continuassem a ocorrer. Welby, que trabalhou em campinas associadas a Smyth, parece agora estar se distanciando publicamente de sua relação com o ex-advogado.

Durante sua liderança, Welby sempre defendeu a responsabilização de todos os envolvidos em casos de abuso. Com uma trajetória que se iniciou na ordenação como sacerdote em 1993 e atingiu o apogeu em 2013 quando se tornou arcebispo, a sua saída marca um instante sem precedentes na história contemporânea da Igreja da Inglaterra, uma vez que até hoje não havia registro de um arcebispo renunciando por questões relacionadas a abusos infantis. O exame da Igreja concluiu que em 2012 e 2013 houve “oportunidades perdidas” para relatar adequadamente os atos de Smyth às autoridades competentes.

A declaração de renúncia de Welby não forneceu uma data exata para sua saída, mas afirmou que os detalhes serão decididos em função de uma análise de obrigações necessárias, tanto na Inglaterra como em relação à Comunhão Anglicana. O legado de Welby será fortemente questionado após a saída, e sua intenção de responsabilizar lideranças passadas, como seu antecessor George Carey, poderá não ser suficiente para apaziguar os críticos que exigem um pacto com a verdade e a justiça.

Este cenário complexo e triste expõe a fragilidade das instituições ao abordar temas tão delicados e os desafios que líderes enfrentam ao tentar equilibrar responsabilidade pessoal e institucional. A Igreja da Inglaterra agora encontra-se na difícil posição de reconstruir a confiança com os fiéis e com a sociedade, que exige mais do que meras palavras de arrependimento.

Esta é uma história em desenvolvimento e será atualizada conforme novos fatos surgirem.

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